ah, o mundo, o mundo…

no domingo visitamos uma amiga querida, e uma das coisas sobre as quais conversamos foi a falta de noção generalizada dos americanos. ela revoltada com a ignorância dos “americanos” e eu penalizada, pelo mesmo motivo. com sinceridade: não tenho raiva nenhuma dos americanos, de coração. e agora lembrei: falávamos da venezuela e de chavez, da situação, dos porquês do conflito.

a situação da venezuela é cruel: chavez se apropriou de discursos de esquerda e usa o truque de atacar o inimigo comum pra ganhar simpatia. “inimigo do meu inimigo é meu amigo”, sabem como é. não importa que a venezuela tenha se transformado no cu do mundo graças ao inimigo dos estados-unidos-os-vilões.

divergências à parte, esse bate-papo fez lembrar de uma expressão criada pela minha pessoa para descrever aqueles que são claramente situação, beneficiando-se disso o máximo possível, mas que gostam de posar de revolucionários ou alternativos. esse perfil é o de “burguês arrependido” — ele só anda de carro (apesar de levantar a bandeira do transporte público), come em restaurantes chiquérrimos (que exploram aqueles mesmos coitados que ele defende), coloca os filhos em escolas de elite (e execra as “exclusões sociais”), estranha casais gays (mas defende a diversidade, claro) e compra barbie e produtos do bob esponja pros filhos (mas é contra consumismo, até participa do “buy nothing day”). esses, sim, eu execro — mas volto a eles em breve.

acredito que americanos médios não são “maus”, mas alienados. claro que há exceções, mas falo da maior parte de um país que é um continente: aquilo é uma bolha, muito bem protegida do mundo exterior. escolas, programas de TV e rádio limitam o mundo às fronteiras daquele país. não me admira que haja americanos (MUITOS) que acreditem que a guerra do vietnã não foi perdida. isso era ensinado em muitas escolas, acredite-se ou não. nesse sentido, a internet pode ser um avanço, mas ainda assim, é um caldo de mentiras, boatos e visões misturados. quem detém a verdade? não é difícil manter-se isolado na bolha; só os que não cedem à inércia é que vão além. os demais ficam mais que felizes em manter-se protegidos, num mesmo lugar. é da natureza humana — o que dizer do brasileiro médio? analfabeto, ignorante e absolutamente alienado. e a elite média? funcionalmente analfabeta, apesar de informada, e tão alienada quanto os demais. não é difícil perceber isso, basta olhar ao nosso redor.

voltando aos burgueses arrependidos: na minha visão, os piores. é como o pai incompetente: “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”. dizem saber o que se deve fazer, mas não fazem nada, só dão conselhos, é a síndrome do gerente — aquele cara que acha que vê a “bic picture” e orienta os demais pobres mortais para realizar seus planos mirabolantes; ele se considera um mentor, agente, o que direciona.

bullshit, digo eu. mudanças se fazem ao fazê-las (como o caminho se faz ao andar, onde estava isso mesmo?) e são as pequenas coisas que fazem a diferença, mas as coisas que de fato FAZEMOS, não aquelas que aconselhamos ou pensamos. eu acredito de coração nas micro-mudanças e micro-atitudes, no dia a dia; acredito na interação com meu colega do lado, nas mudanças que já realizei em mim e consequentemente, no que me cerca.

mas já mudei de assunto e nem sei mais onde queria chegar… acho que era aqui mesmo: governo, estratégia, idéias revolucionárias e muito blá blá blá? não acredito. acredito em mim e naquela minha amiga aqui do lado, que faz coleta seletiva na casa dela, porque acredita. ela não vai a passeata e nem participa de listas inúteis de internet, ela faz, e faz a diferença.

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  1. ahhh!

    olha, morar nos EUA faz a pessoa pensar muito sobre os americanos. E detesto o filão “americanos são babacas, morte aos americanos” porque moro aqui, minha vida é boa, tenho amigos americanos, impossível todo mundo babaca num país tão grande, etc, etc, etc…

    e você foi direto na questão mais inportante da falta de noção americana, que é a desinformação, a ingenuidade.

    O grande problema da sociedade americana é que eles acreditam piamente que a “América” (eles acham que são a América!!!) é a polícia do mundo! Acham que eles tem não só o direito mas o dever de se meter no Iraque, em Cuba, na Venezuela e no Vietnam, que sem eles esses países iam mesmo para o caralho, me desculpe a grosseria. Essa é a grande questão americana. eles estão tão guardadinhos em seus mundinhos de tvs enormes, carros gigantes, McDonalds e princípios morais cristãos que enxergam o mundo como uma continuação deles mesmos. Não conseguem enxergar nada sem achar que quem não segue o exemplo deles está necessáriamente errado, a priori.

    E as pessoas fazem grandes discursos de morte aos americanos, porque é claro que a gente detesta quem dá palpite ná arrumação da nossa própria casa.

    Não tem importância, sabe? Americanos vão se dissolver sozinhos. dá pra ver os primeiros sinais disso, se a gente olhar direitinho.

  2. ah, sim: e acredito também no adolfo, que trabalha aqui comigo todo dia (muito) e 2 dias por semana dá aula em colegial de escola do estado, simplesmente porque quer transmitir o que sabe a outros, de forma prática. sem blá blá blá — ele FAZ.

  3. Alguns desses americanos, como vc mesma disse, acabam criticando esse “life style” como eles mesmo chamam. Vide o filme “The Truman Show”… o que lhe parece “a bolha”? Lá no fundinho, a crítica é a mesma.

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