tinha mania de me dizer pollyanna e ver sempre o lado bom das coisas, como se isso fosse de alguma forma bom. descobri que (1) não sou pollyanna nem nunca fui e (2) ver só o lado bom das coisas é um retrocesso, não se aprende nada na vida.
minha mãe diz que quando eu nasci e minha madrinha (mãe de santo) foi conferir meu santo, explicou que eu era filha de xangô, significando que eu conseguiria tudo o que quero na vida. convenhamos, isso pode ser bom ou péssimo… sabe aquele ditado “cuidado com o que deseja”? pois é. independente da crença nos santos ou não, sempre me senti forte e vitoriosa, e percebi de onde vinha a auto-imagem de pollyanna: de um forte senso de justiça que nasceu comigo (e que aliás, é atribuído também a xangô, coincidência ou não).
jamais consegui me considerar injustiçada pelos reveses da vida. não é exatamente o caso de encontrar coisas positivas nos azares, é mais perceber que todas as coisas ruins que aconteceram tiveram minha contribuição, de um jeito ou de outro. quando as coisas vão mal, paro pra pensar e tento ver onde foi que eu contribuí para o erro, procuro oportunidades de melhorar a mim mesma, ao invés de culpar os deuses ou aos outros.
é verdade que parte dessa busca certamente é a pretensão de ser perfeita, o que não é das coisas mais saudáveis. além disso, constantemente me vejo dando menos peso às sacanagens alheias do que devia, tentando trazer pra mim mesma a responsabilidade pela falta de caráter dos outros. não faz mal, eu aprendo também com isso e sei que um dia chego a um balanço.
fato é que não, eu não sou otimista em excesso, sou é maníaca por justiça, e acredito que tudo o que sofremos (bom ou ruim) é absolutamente merecido, necessário e conseqüência dos nossos atos. acredito que quanto melhor eu for para o mundo, melhor ele será pra mim. acredito que procuramos nossos carrascos, sim, e também procuramos nossos redentores. não há escolhas certas ou erradas, há escolhas possíveis num determinado momento, com todas as implicações futuras. amadurecer, acho eu, é encarar de frente as contrapartidas das decisões que tomamos — ah, e como é mais fácil culpar os outros, o sistema, os pais, a vida, não?
o mundo não me deve nada e os pecados que paguei foram bem pagos. a verdade é que nunca tive vocação para sofredora e me inscrevi pra outro papel nessa peça — o de trapezista!