quem de nós dois

não é que eu queira reviver nenhum passado

nem revirar o sentimento revirado…

é que tem gente que é assim: não esquece. o sentimento muda com o passar dos anos, mas acho que somos como ostras — os grãozinhos de areia podem não ter virado pérolas, mas há pedacinhos de madrepérola perdidos na nossa carne mole. nos dias ruins, aqueles que dói até pra respirar, parece que os pedacinhos emergem e querem nossa atenção.

as raivas, amores, frustrações, tristezas, elas não se vão. a gente vai criando casquinha de madrepérola em volta delas, ficam mais macias de suportar, mas estão lá, guardadinhas. quando olho de relance, são brilhantes e quase bonitas, mas lá no fundo eram as areinhas que doíam, eram sim.

essa música é bonita e é triste, me lembra sem querer que tenho tantas pérolas mortas dentro de mim e que elas às vezes pesam muito. como cuspir as pedras que transformamos em tesouro pra poder sobreviver?

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  1. Luiza, e pode ter certeza que lembramos delas justamente naquelas tardes cinzas….

    É feio dizer e ninguém admite, mas estamos cheios de mágoas, ressentimentos e frustrações guardados bem lá no fundo, dentro de um armário que teimamos em manter fechado, e por vezes nos surpreende com a porta aberta.

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