os mistérios do cambuci

a distância do apartamento novo para o antigo é pequena: são 3 minutos de carro. mas estamos em outro bairro, o cambuci, muito menos chique que a aclimação. é verdade que a correspondência lá de casa chegava como bela vista, liberdade, centro, vila mariana, mas pra todos os efeitos aquilo é aclimação e aqui estamos no cambuci.

eu gosto da rua, da vizinhança, da vista e do silêncio. não conhecemos muito bem o bairro, então procuramos passear de carro e descobrir o que tem ao redor. outro dia mencionei a devir (3 quadras daqui do prédio) e alguém perguntou o que era: é uma loja de livros e gibis maravilhosa, especializada em RPG e games. é um salão imenso com prateleiras de livros e gibis, com mesas longas e cadeiras/bancos para a garotada jogar magic. muito gostoso e tem todos os quadrinhos que você puder pensar. pra ter idéia, tem vários livros da druuna e coisas incríveis do manara (e tem TUDO de dragonlance).

bom, é um bairro bem residencial, tranquilo. tem um clube público aqui do lado, lojinhas pequenas, sebos, cafés. não tem muitos restaurantes — só os famosos espetinhos da aclimação. mas nos nossos passeios, outro dia, descobrimos um restaurante um pouco diferente: a costela do edão. parece um pouco com aquelas churrascarias de beira de estrada, um tanto tosca e completamente lotada. a audiência dá medo: tiazinhas, tiozinhos, crianças, todo mundo cafoníssimo. rimos muito com a possibilidade de ir comer a costela do edão e prometemos a nós mesmos que tentaríamos em breve.

hoje foi o dia: estávamos com fome, bateu aquele desejo de comer costela e é aqui pertinho, então fomos. chegando lá, mais de 4 da tarde, ainda tinha algumas pessoas comendo, bebendo e conversando. aquela gente que já comentei (tiazinhas, tiozinhos, crianças, etc.), mas nada nos preparou para a entrada no local. um salão grande, simples, com bifê e poucos garçons. tocava roberto carlos (fase antiga), mas não era só isso: em todos os lugares do salão havia pelo menos uma foto imensa do roberto carlos sorrindo pra nós. confesso que fiquei um pouco tensa, mas nada se compara à reação do fer — ele ficou em pânico. gente, robertos carlos olhando pra você não é brincadeira, vai? eu comecei a gostar do negócio — adoro locais cafonas e gosto mais ainda de fotos cafonas. ficamos ali estatelados, olhando o lugar, quando aparece do nada um tiozinho (como chamar os senhores que não querem aparentar a idade?) de ray-ban, camisa xadrez dentro da calça justa, suspensórios e um grande sorriso no rosto. “olá, eu sou o ed! sejam bem-vindos!” ele apertou nossa mão sem cerimônia e nos conduziu a uma mesa, não sem bater 50 vezes nas costas do fer, com muita satisfação. “eu mesmo que faço a costela! 12h no fogo, uma coisa que derrete na boca!”. eu já tentei adiantar o assunto: “pois é, é por isso mesmo que estamos aqui — queremos comer costela!”. ele ficou feliz, recomendou a costela mais 10 vezes e disse “olhem: é a costela do EDÃO e não ADÃO, entenderam? ha ha ha!”. eu ri com vontade e o fer riu amarelo, com cara de que ia matar o ed.

ele saiu da mesa e finalmente pudemos ficar a sós e curtir aquele momento lindo — roberto carlos tocando, a foto dele sorrindo pra nós em todos os cantos do salão e fotos do próprio ed com todo o mundo espalhada pelos espaços em branco: ed com o papa, ed com pelé, ed com o jô, ed com o ratinho e com o próprio roberto mais de 10 vezes. bilhetes de shows do rei cobriam parte da parede e nós não tínhamos palavras.

o bifê é médio, a costela é excelente, derrete na boca, impressionante. só 19 reais, dá pra 2 e vem com farofa e vinagrete.

o ed se sentava na mesa das pessoas e conversava. eu observava o seu movimento e passava relatórios constantes ao fer, que estava tenso e com medo de socar a cara do ed. demos sorte e o ed se animou com uma mesa grande, que tinha um cantor. o cantor nos deu uma canja e também um dos momentos mais engraçados das nossas vidas: ele cantou do you wanna dance e what a wonderful world no inglês mais macarrônico que já tive o prazer de ouvir, e sem o menor contrangimento. ele cantou coisas que soavam como “friends sucking hands” e “I sell to myself… when a wonderful word“. rimos às lágrimas e pedimos a conta rápido, para que o ed não nos visitasse.

na saída, fui ler algumas matérias na parede e descobri que o edão, na verdade, era o famoso ed carlos da jovem guarda, e lá estava ele, novinho, em fotos com o roberto carlos!

o fer garante que vai ter um pesadelo com ed carlos, mas eu confesso que adorei demais da experiência antropológica. recomendo a costela do edão (entenderam, ahn? :D) e os becos escondidos do cambuci.

0 comments to “os mistérios do cambuci”
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  1. É, Paulo, vai rindo…

    Vou querer ver essa coragem toda quando você estiver frente a frente com o coisa-ruim, o tinhoso, o suspensório-com-calça-jeans.

    E o Roberto Carlos te olhando por todos os lados, lendo seus pensamentos.

    Veremos, meu jovem, veremos…

  2. Oi Zel,

    Eu tb moro aí por perto e já fui na Costela do Edão depois que o meu marido insistiu um monte. Eu achava que seria o maio programa de índio, mas foi legal.

    Não sabia da Devir. Vou passar lá qq dia. Valeu pela dica!

    Abs,

    Krys

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