entre mortos e feridos…

não se salvaram todos, vocês sabem. tem policial que morreu, tem civil que morreu e (insira aleluias aqui) teve bandido que morreu. tem a nossa sensação de medo misturada com a de ser bobo e estar “entrando no jogo” (afinal, e se for tudo oba-oba mesmo da imprensa?). mas eu vejo helicópteros passando pra lá e pra cá o dia todo e minha mãe ontem voltou a pé pra casa do meio do caminho, porque não havia ônibus das ruas da cidade.

há quem diga que violência não leva a nada e não resolve nada e eu concordo, de coração. sou contra armas, de todo o tipo, sempre fui contra a pena de morte. sempre acreditei que guerra só atende a interesses econômicos e que nós entramos como peões pra alguém ganhar o jogo. sempre achei que o diálogo e a justiça são os melhores caminhos quando existe conflito.

antes dos 20 anos eu acreditava no comunismo. não exatamente no que se chamou de comunismo no mundo, essa leitura equivocada de uma idéia, mas a idéia propriamente dita (quem leu marx vai entender o que eu estou dizendo). quando eu de fato li marx e entendi o que era o comunismo, deixei de acreditar. percebi que aquilo jamais seria alguma coisa possível ou boa, simplesmente porque parte de uma premissa que jamais se concretizará: que o ser humano poderia um dia deixar de ser violento, ganancioso, vaidoso e invejoso. não acredito que nasceu ou nascerá um humano que não seja egoísta, vaidoso, ganacioso; não haverá humano que, para garantir o seu, hesite em passar por cima do “próximo”.

o mundo que nos cerca e do qual reclamamos tanto reflete exatemente o que somos, nem mais nem menos. a violência, quando iniciada, nos mostra que não somos são evoluídos quanto gostaríamos, nem tão bons, nem tão solidários. em situações de crise exibimos o que temos de pior (é fácil ser legal e bonzinho quando está tudo bem, quando é tudo “na teoria”).

falo do meu desejo mais profundo e básico, sem nenhum orgulho: quando ameaçam a minha vida e a vida dos que eu amo, desejo profundamente que sejam aniquilados, que morram de mortes dolorosas, em praça pública, que sejam todos fuzilados. e pra evitar retaliações, que aproveitem e matem seus comparsas, suas famílias, que se livrem de todos, sem exceção e sem pena.

o conflito traz mortos e feridos que são contabilizados, devidamente chorados e enterrados; quero saber o que fazer com a parte de nós que morre quando desejamos tanto mal e percebemos que também em nós há um pedaço de caos, miséria e violência? pra esse pedaço podre não tem choro e nem redenção; ele fica e, acreditem em mim, incomoda.

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  1. tem uma tese interessante que diz que esse caos social é na verdade um reflexo ampliado desse nosso mal-estar com (e muitas vezes negação das) as nossas próprias áreas ‘sombrias’, nossa mesquinhez, nosso ódio, nossos impulsos menos nobres (porque afinal somos todos humanos). Que enquanto buscarmos histericamente ser apenas bons, bonitos, saudáveis e corretos continuaremos a ser assombrados, individual e socialmente, pelo ‘resto’ que renegamos. É um papo comprido e uma tese polêmica, maaas…

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