mundos paralelos

a léa comentou uma coisa ali no meu post sobre coisas sagradas da vida que acabou me dando vontade de voltar a esse assunto. não é à toa que o título daquele post era “coisas sagradas”: a honestidade e o caráter são coisas que eu considero realmente sagradas. me comoveu muito a história do senhor do táxi por vários motivos, mas certamente um deles é o valor que ele dá à sua honestidade, ao fato de fazer as coisas de acordo com o nque podemos chamar de valores.

é verdade que os valores se modificam de pessoa para pessoa, têm relação com cultura, educação, nacionalidade e outras coisas mais, mas algumas coisas não deviam variar tanto assim, sabe? entre as mais básicas eu citaria a gentileza, educação e respeito para com os mais velhos, respeito pelas crianças e cuidado com o que se diz e faz na frente delas, respeito pelo espaço e privacidade de todos que nos cercam, consideração pelos sentimentos alheios. além disso tudo acho essencial pagar o que se deve, seja em dinheiro seja em favor ou gratidão. umas das coisas que mais execro no mundo atual é a tranquilidade com que as pessoas lidam com a inadimplência, como se os outros (pessoa física ou jurídica) ou o mundo todo devesse a elas alguma coisa.

sinceramente não entendo como as pessoas têm coragem de dever dinheiro ou favores e dormir em paz. comigo mesma já aconteceu um episódio que nunca vou esquecer: alguns supostos “amigos” simplesmente deixaram milhares (literalmente) de reais de dívidas no meu nome simplesmente porque achavam que eu de alguma forma merecia ou podia pagar ou sei lá o quê. aliás, esses “amigos” são o mais perfeito retrato da falta de valores que hoje é regra no nosso país: devem e não se importam (afinal, o que significa “nome limpo”? pra eles, nada); acham que os outros, que ganham mais do que eles, têm mais é que pagar mais mesmo; se puderem tirar vantagem de qualquer situação, tiram; não assumem seus erros e muito menos as dívidas que fizeram; não sentem gratidão por ninguém, afinal o mundo lhes deve.

o senhor do táxi da minha história é negro mestiço, nordestino e sem formação mas tem valores, princípios e os segue. exatamente por isso ele sente felicidade, coisa para poucos. naquele trajeto de 30 minutos eu me senti parte do mesmo mundo que ele, apesar de todas as diferenças, eu me senti feliz por saber que alguém que tinha tudo para recorrer ao “jeitinho”, como os mui-amigos ali de cima, não recorreu. ele me pegou num momento de inflexão de fé nos meus valores e princípios, ele renovou a fé que estava me abandonando. fosse eu religiosa diria que deus colocou este senhor no meu caminho. não sendo religiosa digo somente que ele me contou a história que eu queria ouvir.

até porque para outros ouvidos a história poderia ser de um tiozinho otário que mora num quitinete e paga suas contas sempre em dia. quando penso que é exatamente isso que os “amigos” ali em cima pensariam fico mais feliz ainda e confirmo que eu vivo sim em outro mundo. graças a deus.

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  1. Eu não aguento gente bem alimentada pedindo dinheiro em semáforo! Dá vontade de descer do carro e dar com a chave de roda da cabeça da pessoa. É incrível como as pessoas não sentem vergonha de mendigar. E a maioria não aceita comida – porque eu aprendi que se alguém pede comida a gente dá – querem é grana mesmo. Comida eu não recuso dar, mas grana eu não dou mesmo.

    Paulo: o que mais me irrita no “jeitinho brasileiro”, é a informalidade. Você pega criança, adolescente e até muito marmanjo chamando todo mundo de você e mesmo se mete um doutora ou senhora na frente, termina deixando escapar um você. E tem ‘informalidade’ na fila, então fura a fila, e tem informalidade nos débitos, então deixa de pagar, e tem ‘informalidade’ na ética e então qual o problema da lei de Gerson?

    A crise mais grave do Brasil é de valores.

  2. Ontem conversando com a minha irmã ela me contou que domingo de manhã o pessoal do centro espírita que ela frequenta foram as ruas pedir alimento para montarem cestas básicas, ela me disse que a maioria das doações vêm das casas mais simples, das pessoas de rendas baixas. Na maioria das “casonas” eles nem eram atendidos ou falam um sonoro Não antes mesmo deles terminarem de pedir.

    Ela ainda disse que em uma casa dessas casas simples, tinha um senhor sentado no quintal e quando eles pederiam ele não só contribuiu como convidou eles para tomarem um café.

    Eu também me comovo e fico feliz de ouvir essas histórias como a que vcs contaram.

    Outro dia no cabeleleiro perto de casa dois homens conversavam e disseram que, uma pessoa que acha uma mala de dinheiro em algum lugar e devolve pro dono merecia morrer de apanhar! Vc acredita?

    Beijos,

    Alda – a que sempre te visita mas nunca comenta!

  3. Atualmente, tenho estado desanimada com o ser humano, com o país, enfim, com quase tudo, mas é sempre reconfortante saber que ainda há muita gente neste mundo ‘véio sem porteira’, que acredita que honestidade não é sinônimo de idiotice.

    Quando conheço histórias como a do taxista, volto a acreditar que vale a pena manter princípios e valores.

    Até e obrigada!

  4. Boa, Zel.

    Eu ando cada vez mais intransigente com a observância desses valores. Não admito compradores de CD pirata reclamando de mensalão na minha frente, por exemplo.

    Para mim, a coisa se resume no que você falou: é questão de saber em que mundo queremos viver.

  5. Oi, Zel, concordo com a Violinha quando diz que a crise mais grave no Brasil é a de valores. A começar pelo que a gente vê a toda hora no Congresso, não dá pra entender que tipo de educação essa gente recebeu. O título do seu texto veio bem a calhar.

    Beijo.

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