tirando o pó dos cds

eu cresci ouvindo quase tudo o que vocês puderem imaginar, mas os grandes hit parades na casa dos meus pais eram MPB (das décadas de 60 a 80), sambas antigos, beatles, abba e outros pops de época. o que não se ouvia em casa era música sertaneja (mesmo antes da onda sertaneja brega, essa praga) e música erudita (não gosto do termo, mas serve pra explicar). de resto, tinha de tudo um pouco.

fui aprender a ouvir música erudita por conta própria, juntamente com jazz (e não é à toa que tenho especial apreço por debussy, stravinsky, gershwin, miles davis e john coltrane). depois dos 15 anos, mais ou menos, comecei a desenvolver meu próprio gosto, independente dos meus pais, mas há coisas que definitivamente me marcaram durante esses primeiros anos de musicalização compulsória — pois só não havia música tocando na nossa casa quando estávamos dormindo. pobres dos meus pais, perderam todos os seus discos de vinil nas mãos de 3 crianças que trocavam discos enlouquecidamente o dia todo, dublavam e dançavam ao som das coisas mais malucas (e no meio do processo pisoteavam e arranhavam todos os frágeis discos, claro). minha mãe desistiu e resolveu depois usar só fitas cassetes, o que diminiui um pouco nosso poder de destruição.

um dos discos que mais me marcaram na infância foi desire, do bob dylan. eu só aprendi de fato a ler, escrever, falar e entender inglês com mais de 18 anos, mas desde que comecei a falar (com menos de 1 ano, pra horror da minha mãe) eu cantava tudo o que ouvia, repetindo inclusive aqueles sons estranhos que não faziam nenhum sentido pra mim. esse disco do bob dylan, em especial, sempre foi um xodó dos meus pais, ele tocava bastante lá em casa nos idos de 1976/77, e eu acabei me apaixonando por ele também, mesmo sem entender nada das letras imensas. mesmo sem entender nada, eu sabia que havia alguma coisa importante ali, mensagens pra alguém, pra uma época.

ontem eu escutei de novo esse CD depois de muitos anos, e me peguei ouvindo e entendendo as letras todas, foi engraçado. mas o sentimento que as músicas (sem entender as letras) me passavam permaneceram. é como se a música, por si só, pudesse transmitir as palavras que ele cantava ali, como se as duas coisas simplesmente se complementassem. sei que parece maluco, mas é isso.

e neste disco tem uma música em especial que eu adoro, que sempre me emocionou e que depois de ler a letra me emociona mais ainda. fica aí, pra quem quiser lembrar da década de 70 ou conhecer esse artista incrível.

**

oh, sister, when I come to lie in your arms

you should not treat me like a stranger.

our father would not like the way that you act

and you must realize the danger.

oh, sister, am I not a brother to you

and one deserving of affection?

and is our purpose not the same on this earth,

to love and follow his direction?

we grew up together

from the cradle to the grave

we died and were reborn

and then mysteriously saved.

oh, sister, when I come to knock on your door,

don’t turn away, you’ll create sorrow.

time is an ocean but it ends at the shore

you may not see me tomorrow.

oh, sister, bob dylan.

0 comments to “tirando o pó dos cds”
0 comments to “tirando o pó dos cds”
  1. eu gosto de “I couldn´t hold on to her very long”. Tb gosto da hora que ele volta

    She was there in the meadow where the creek used to rise.

    Blinded by sleep and in need of a bed,

    I came in from the East with the sun in my eyes.

    I cursed her one time then I rode on ahead.

    She said, “Where ya been?” I said, “No place special.”

    She said, “You look different.” I said, “Well, not quite.”

    She said, “You been gone.” I said, “That’s only natural.”

    She said, “You gonna stay?” I said, “Yeah, I jes might.”

    POde coisa mais romântica???? E tem mais. É romantismo de homem!

Deixe um comentário