somos macacos destreinados

chego a porto alegre e pego um táxi de um rapaz jovenzinho, que deixa tocando no rádio algo como música típica do rio grande mas “modernizado”. é uma mistura de música regional com padoge com axé com country-abrasileirado. em suma, uma merda. mas isso é só a música, porque a letra consegue ser ainda pior. pobre, machista, constrangedora.

não me entendam mal, isso não é uma crítica ao rio grande. pode ir a qualquer lugar do brasil e tem mais ou menos a mesma coisa. isso quando o táxi não é imundo e o motorista parece um porco recém saído do chiqueiro, como acontece em várias capitais do brasil.

na volta, o caos dos aeroportos: centenas de pessoas agrupadas em espaços reduzidos e desconfortáveis, uma experiência antropológica que eu particularmente dispenso. alguns highlights para auxiliar minha tese:

– no saguão, perto de mim, 2 palhaços do recife falando altíssimo, secando a bunda de qualquer mulher que passava de forma acintosa e tirando sarro de uma senhora bem velhinha que tinha dificuldade de audição;

– na minha frente um menino de cerca de 10 anos sentado numa daquelas cadeiras que têm base comum chacoalhando a cadeira a ponto de pessoas 3 cadeiras ao lado sentirem o balanço. a mãe, do lado, se comportando como se não conhecesse o filhote do capeta;

– no avião, ao meu lado, um senhor de alguma cidade do nordeste que fedia a bebida e cigarro. a cadeira dele estava com problema e não baixava o encosto. ele passou 3 horas empurrando vigorosamente o encosto da cadeira, reclamando que não funcionava;

– na minha frente sentavam 3 amigos: moça e rapaz jovens, senhora de mais idade. uma colega deles, jovem, sentava no corredor da fileira ao lado. todos de são paulo, cheios de graça e energia. tomaram litros de bebida alcoólica “pra comemorar o atraso” e, quanto mais passava o tempo, mais escrotas ficavam as piadas sem graça e mais alto o volume da voz. as mulheres riam como gralhas histéricas;

– uma mulher alta, bonita, jovem e bem-vestida, sentada atrás de mim, não pára de chutar o encosto. “ela não deve caber direito ali, afinal é alta”, relevo. ela fala de um jeito parecido com o da cicarelli (voz grave, volume alto, só fala merda, acha que está abafando com seus comentários espirituosos), mas com sotaque de são paulo;

– o comandante dá notícias periódicas sobre o atraso e as pessoas gritam, assoviam, xingam. o bando de macacos destreinados do título. o comissário repete 84 vezes que as pessoas devem ficar SENTADAS e com os cintos afivelados. as pessoas ignoram e se comportam como se estivessem num bar: levantam, apóiam os braços nos encostos alheios e pedem “uma cervejinha” pra aeromoça;

– o avião pousa em cumbica depois de 3h de vôo e temos que aguardar uma escada, pois não há mais fingers livres. todos se levantam e falam sem parar, sem perceber que quanto mais tumulto e barulho, pior para o bem-estar de todos;

– a cicarelli-like atrás de mim conversa com a amiga ali da fileira do lado, em volume de megafone, dizendo que “pelo menos não tivemos que ficar naquela bosta de cidade de porto alegre, né?”. a gaúcha linda do lado dela faz cara de “que nojo”. eu também;

– a cicarelli-like, não satisfeita, sugere que algum passageiro finja que está passando mal pra ela poder sair mais rápido. algumas pessoas riem e consideram a sério a idéia;

– as pessoas saem do avião descontando sua raiva e frustração nos funcionários da companhia aérea, que não tem nada a ver com o pato. sempre em forma de piada, pois ninguém é macho de reclamar a sério. dão patada em quem não pode se defender e vão pra casa se sentindo vingados;

– pegar a bagagem na esteira é uma tortura: homens atropelando mulheres e crianças pra chegar mais perto da esteira, independente da presença da bagagem. as pessoas não se tocam que é mais fácil olhar a bagagem aparecer e depois ir até a borda pegar. ficam todos se acotovelando em volta de uma borracha-andante;

vamos falar sério: por que tem gente que acha estranho alguém evitar contato com outros humanos? três vivas ao contato virtual! pelo menos podemos fechar a janelinha facilmente…

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  1. campanheira zel, sou da mesma opinião que vsa. execelência execelente, ética e resultante! ;o)

    três vivas ao contato virtual! viva! viva! viva!

    embora os doidos e sem loção estejam em todas as esferas de contato viu. depois eu te conto uma história bem comprida. beijinhos.

  2. relato do inferno, mas por alguma conexão mental desconhecida, o “circo” me lembrou do que senti assistindo “miami vice”, em estréia, num cinema de miami lakes, na flórida: um misto de perplexidade com vontade de sair correndo! 🙂

    sobre a retirada das bagagens na esteira, lamentável. alguma boa alma caridosa bem que poderia usar uma técnica infalível para convencer os bárbaros que os carrinhos não precisam ficar grudados na esteira – até porque isso não ajuda em nada, quanto menos mobilidade para todos, mais desagradável e turbulento o processo de coleta.. afe, qualquer dia desses, vou-me embora pra Passárgada! 🙂

  3. Zel, impressionante como as coisas estão…

    No sábado fui a uma festa de criança, onde estavam vários conhecidos. Fiquei atordoada com o comportamento das pessoas. Sentei num canto e fiquei só olhando, não entendendo nada (e só eu que que não tava entendendo a falta de educação e mediocridade, porque todos estavam super-afinados) Já é a terceira vez que volto de eventos deste tipo me sentindo muito mal. Acho que não sei mais viver em sociedade! Que tá acontecendo com o mundo ou será que realmente eu estou muito estranha, como me disseram no sábado?

    beijos, vc escreve bem demais!

  4. Why the hell toda Cicarelli-like (voz grossa, volume altíssimo, etc) é inconveniente? TODAS as cicarelli-like que eu conheço são espaçosas, se acham espirituosíssimas e só fazem com que eu sinta vergonha alheia. Eu, hein?

    A mania de fazer de qualquer lugar um barzinho é tão típica dessa classe mérdia…o seu post sobre o casual day se aplica, inclusive. A mania de achar que todo mundo é empregado, também. Vide estagiários que chegam às 10 na “firma”, fazem almoços de 2 horas no shopping e saem às 5 da tarde para a aula. De spinning.

  5. meninas, repitam comigo: nós estamos certas, os macacos destreinados estão errados.

    e pelo amor de deus não me contem tanta barbaridade, que eu fico mais revortada que já estou 😀 eu quero que me enganem!!! 😀

  6. querida zel, estou até aliviada de ver que voce, uma jovenzinha, fique estarrecida com tais comportamentos, porque eu já estava pensando em atribuir minha irritaçao com eles à natural inadequaçaao dos velhos frente aos novos costumes. entao, vou reclamar, já que nao serei vista só como aquela velha chata e rabugenta.

    zel, as pessoas agem como se nao houvesse diferença entre a instância pública (o cinema, o casamento, o aeroporto) e a própria casa, o churrasco particular, a piscina dele. no espaço que deveria ser de todos as pessoas estao gritando ao celular, se esparramam em duas cadeiras, andam nos corredores como se as outras pessoas nao existissem.

    recentementee escrevi cartas para todas as redes de cinema daqui reclamando que eles estao abdicando da obrigaçao de garantir o meu conforto quando nao coibem as pessoas de botarem os pés nas poltronas onde dai a pouco vou pôr minha cabeça. umas falaram que “vao estar verificando”, outras, silêncio profundo.

    beijos

  7. querida, a coisa é tão grave que uma vez na ponte aérea eu peguei a mala de uma senhorinha que tava sozinha e pus no carrinho pra ela, e a pobre só faltou se prostrar de joelhos aos meus pés, me cobriu de ‘obrigadas’, incrédula mesmo por alguém estar dando uma demonstração tão básica de civilidade… É triste, viu?

    Ah, não tem nada a ver com o peixe mas amei o presentinho. 😉

  8. vera: estou me sentindo melhor depois de saber que uma pessoa mais experiente e tão fofa TAMBÉM se irrita com tanta barbaridade. eu me acho intolerante às vezes!

    dani: meu deus, a que ponto chegamos… educação virou luxo.

    guga. calcula eu que tava lá… só a respiração salva 😀

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