a prisão da aparência

depois de ver uma moça atleta e linda posando pra fotos e constatar que ela tem celulite eu ia escrever um post enooorme sobre quem se violenta, sacrifica e sofre pra ter uma aparência “padrão” e o quanto isso é triste. afinal, se uma moça jovem, linda e atleta tem celulite, porque tem loucas que ficam fazendo os maiores malabarismos pra não ter e sofrem porque se acham inadequadas?

mas deixei o post pra lá, porque cada um que se resolva com suas doenças emocionais. se por um lado existem as que se esfolam e violentam voluntariamente para serem perfeitas pra agradar o mundo (não é o meu caso), por outro lado estou aqui, vários quilos acima do peso, e cagando pras conseqüências disso para minha saúde, o que é de certa forma tão ruim quanto a neurose da magreza e perfeição.

bem, você quer ter corpo de modelo, colega? se joga! a sua vida será de eterna privação em troca do elogio das bichas e das amigas mulheres, espero que seja bom pra você. eu passo sem nem um segundo de dúvida, minha escolha de vida é outra.

é uma condição difícil essa minha: em quem me inspirar? alguém conhece mulheres que se amam do jeito que são e que de fato investem na própria saúde e beleza e não no tamanho do manequim ou na aparência da bunda? eu não conheço pessoalmente, não. me sinto uma feminista atravessada, isolada, que quer ser mulher, feminina, bonita mas sem precisar ceder às torturas de dieta, cremes, plásticas e afins. quero uma vida sem comparação constante com as photoshopadas das revistas de mulher. estou pedindo demais?

vou insistir: eu não conheço nenhuma mulher que seja feliz com sua aparência (altura, cabelo, pele, peso, medidas) e que se cuide porque se ama e quer ser mais saudável. todas as mulheres que eu conheço vivem discutindo como mudar o cabelo, a pele, como emagrecer, que creme usar para tirar isso ou aquilo, que maquiagem usar pra aumentar os cílios e… ARGH! chatas, chatas, chatas. broxantes. podem ser magras e lindas com cabelos 10x mais brilhantes e continuam umas chatinhas querendo confete.

sem querer puxar o saco porque é minha amiga, a mulher que eu conheço que mais se aproxima do que eu gostaria de ser neste sentido é a dani. ela se acha bonita, acredita nos seus próprios predicados e não tem nenhuma restrição com seu corpo. também por isso ela está sempre linda, e não é beleza de revista, é beleza de verdade que não precisa de rímel nem de roupa maravilhosamente cortada. é como um brilho que mesmo as mulheres magras-e-maquiadas nem sempre têm.

bom, sei lá. só sei que quando vejo um filme como pequena miss sunshine ou vejo a menina surfista linda com celulite eu tenho duas vontades: (1) de cuidar mais da minha saúde e continuar me amando do jeito que eu sou e cada vez mais; (2) enfiar muita porrada no bando de mulher burra que fica se matando pra entrar no padrão.

como a opção (1) é mais razoável e traz benefício direto, ao contrário da (2), fico com ela. a opção (2) fica registrada como um surto de revolta feminista e deixemos o assunto pra lá.

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  1. Agora que estou em franca expansão é que percebi que sou mais encanada com isso do que imaginava – e que tenho vivido numa restrição assustadora. Não é nenhum consolo que também seja por questões de saúde, porque a minha hipocozice não é nada legal. Só sei que está sendo difícil observar meus novos volumes (tirando o peito, hohoho); preciso *me lembrar* que tem um recheio aqui.

  2. Por outro lado, essa paranóia por perfeição às vezes parece seleção natural.

    Conheço um cara que diz: não aceito nada menos que o melhor. O “melhor” para ele é uma mulher como a da revista, só que ela não existe e nisso o cara está há anos sozinho porque toda mulher que ele conhece tem um defeito.

    Resumindo: um boçal a menos se reproduzindo.

    Há males que vem para o bem.

  3. ah, cam, curta sua gravidez… não precisa engordar 200kg, mas não fique se privando. as noites sem dormir vão te ajudar a recuperar a forma *HAHHAHAHA*

    débora, eu tou aqui PASSANDO MAL DE RIR, porque acho a mesmíssima coisa 😀

  4. Olá,

    Cheguei até aqui através da Fal.

    Adoro o que vc escreve.

    Pertinente e sensato.

    Eu estou muuuitos kg acima do meu peso e resolvi não mais pintar meus cabelos (tenho 36 anos e eles resolveram agrisalhar cedo).

    Imagina o que eu não ouço todo santo dia?

    Porque vc não pinta?

    Porque eu não gosto. Já pintei. Não quero ficar escrava da L´Oreal o resto da vida.

    Procuro me cuidar, sim.

    Uso maquiagem, brincos, colares… gosto de penduricalhos de mulher, mas não sou acorrentada à “modelos femininos”.

    Eu me gosto. Assim.

    E saber que outras mulheres também pensam semelhante, me deixa muito feliz.

    Abraços,

    Ana Evangelina

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