percebi duas coisas ao mesmo tempo: que as pessoas, quando te conhecem, perguntam “com o quê você trabalha?” e que eu pergunto “o que você faz da vida?”.
pode parecer a mesma coisa, mas não é. afinal, nosso trabalho define quem realmente somos?
eu acho que não, mas parece que pra muitas pessoas você é o seu trabalho. talvez porque, dessa forma, fique mais fácil categorizar cada um, colocar nos devidos escaninhos e indexar usando alguns conceitos pré-determinados.
um exemplo: eu sou da área de tecnologia da informação, portanto todos me associam com computadores, internet e etc. acontece que meu trabalho não tem relação direta com tecnologia há pelo menos 7 anos… o que mais faço é lidar com processos e pessoas (principalmente de TI, mas não só)! quase todo o meu trabalho trata de influência sem autoridade, motivação de pessoas e compreensão das necessidades de mudança. as super-tecnologias que uso no dia-a-dia são email e powerpoint 🙂
eu trabalho numa equipe internacional, as pessoas estão espalhadas pelo mundo e ainda assim têm que trabalhar juntas constantemente e à distância, às vezes sem saber nem como a pessoa se parece. na reunião semanal da equipe, resolvemos fazer apresentações pessoais (2 slides) que contassem um pouco sobre nossa bagagem profissional e também pessoal. foi surpreendente – mesmo as pessoas mais “quadradinhas” têm seus interesses e atividades fora da caixa, se interessam por assuntos que eu jamais imaginaria. quando eu sonharia que aquele cara cinqüentão e todo formal pratica esportes radicais na neve e tem um carro de corrida para os fins de semana?!
meu marido é um exemplo interessante de como essa questão de profissão / trabalho / perfil é enganadora – ele é economista (e eu penso na hora na zélia, ai que horror), mas trabalha com pesquisa de mercado. essa área de atuação é uma maluquice! cada projeto é completamente diferente, apesar da metodologia ser a mesma. numa semana ele investiga porque o remédio X vende mais que Y e na outra mapeia perfis das crianças que assistem cartoon network… e todo o trabalho gira em torno de ouvir e entender motivações profundas das pessoas, interpretar e analisar comportamento.
por isso, quando as pessoas perguntam “com o que você trabalha?” ou “qual sua profissão?”, ficamos os dois meio que sem resposta. não raro respondemos a mesma coisa: “sou gerente de projetos”, não só pra facilitar, mas porque é a coisa mais próxima do que fazemos, cada qual num universo completamente diferente.
lembrei daquelas matérias jornalísticas de TV que mostram alguém e, embaixo na tela, o nome + “descrição significativa”, tipo “solange, instrutora de surf”. e se fosse ‘eu + minha descrição’, o que conteria esse aposto?
(estou há longos minutos na frente desta tela pensando e nada parece adequado)
não sei como me “explicaria” rapidamente pra alguém que não me conhece, mas certamente não seria através da minha profissão. não porque ela não ajude a me definir, mas porque também ela é tão ampla que não é possível resumir em um cargo ou função. além, é claro, de tudo aquilo que sou e que não faz parte diretamente do meu trabalho, embora contribua para o meu desempenho.
acho que gostaria que constasse no meu cartão de visitas, assinatura de email ou aposto-para-tv algo como “ivanise (ou zel), apaixonada por tudo o que faz” 🙂
É inclível como há sintonia do que você fala com a minha vida moça…
Eu tenho contado aos meus amigos que não quero mais trabalhar com programação, porque cansei, porque percebi que eu não gostava realmente, que eu tinha paixão pelo novo aquele negócio de codar e fazer funcionar, agora que já passou a paixão não quero mais… E daí a pergunta deles é sempre: e o que você quer fazer? E eu fico numa sinuca de bico porque uma função não define realmente o que quero, então digo que quero partir mais pra área de comunicação do que ficar na frente de um computador 12h por dia, quero conhecer e conversar com pessoas, saber o que elas esperam de um projeto e mostrar como seria realizado o desejo delas, meio analista meio arquiteta da informação… e todo mundo responde sempre com ahhh tahhh! rs
Acho que a estereótipagem acontece por que grande maioria assume estereótipos, na minha facul por exemplo, onde todos são de exatas, e a maioria que conheço faz processamento de dados como eu, não fogem muito do mundinho nerd deles. As conversas giram em torno de orkut, youtube, animês e mangás, ninguém sabe conversar sobre algo que envolva falar da psicologia humana, cuidar de um bichinho de estimação ou mesmo tenha um hobie diferente de ficar na internet. São muito poucas as pessoas que realmente tem alguma coisa a acrescentar em uma discussão que não envolva informática e quando envolve informática as discussões são inflamadas pois um faz apologia ao software livre e outro à microsoft e vira uma discussão sem fim e sem objetivo!
Em contrapartida acho que quem pergunta com o que você trabalha o faz justamente para iniciar uma conversa, tudo bem que é o tipo mais chato, porque se você fala que é dentista vão querer falar o quanto não teriam coragem de sê-lo e o ódio que tem do seu próprio dentista, e se fosse veterinária: aaaaiiii que lindoo, mas você não tem dó de ver aqueles bichinhos machucados e tal? E assim vai a vida!
Porque não perguntar se gosta de ler, o quê você lê no momento, ou o que já leu? As pessoas estão tão orgulhosas de si quando carregam um livro best seller no metrô, mas quando vão conversar com a visinha preferem falar da novela, porque talvez envolva pontos de vista contraditórios o que pode levar a um conflito talvez, ou por que realmente nem está entendendo direito o que está lendo, por que lá tem palavras que nunca viu antes e não procura no dicionário depois pra entender.
É tão complicado tomar partido de um ponto de vista psicológico, por que são muitos “ses” diferentes, envolve a vivência de cada um, e por isso que as pessoas optam pela escolha que de certa forma mostra realmente o que a pessoa gosta (mostra? 0.o), o que você escolheu como ganha pão pro resto da vida?
Zel,
eu estou terminando um MBA em Gestão de Projetos e estou entrando nesta área agora, mas já percebi que o que mais vejo quando me fazem estas perguntas é uma cara de interrogação seguida de um ‘Ahnnn…’, tipos, ‘Não tenho idéia do que é ser um gerente de projetos…’. Mas tá tudo bem, já estou acostumada, pois como você venho da área de TI e via as mesmas caras quando dizia que era Analista de Sistemas. 🙂
Beijus para você e para os furões.
isso de definir pelo trabalho é tão cruel como você ser um número em várias situações.
por mim, seria algo:
“weno, eu mesmo”
beijo!