defesa e ataque

se você é tiete do chico buarque ou de qualquer outra celebridade recomendo ler com uma dose de boa vontade 🙂

(esse texto foi inspirado pelo alexandre, que acha que gostar do chico pode ser coisa de geração, graças a este post)

antes de continuar, já digo que adoro chico buarque. tenho todos os discos e realmente admiro o trabalho dele (menos o último cd, que achei ruim) – eu o considero um ótimo letrista e um compositor excepcional. no entanto, não acho que ele seja deus, nem o máximo e muito menos gostoso.

resolvi dividir esse texto em partes, pra facilitar, porque o assunto se desdobrou na minha cabeça. espero que facilite a leitura!

tietagem

vou aproveitar pra desabafar: detesto tietagem, que coisa desagradável! poucas coisas são mais constrangedoras que pessoas que gritam, choram e se descabelam por artistas / celebridades que sequer sabem que elas existem.

sinceramente, tiete é um ser que eu não compreendo. observo seu comportamento mais ou menos como naqueles programas do discovery channel sobre animais estranhos. consigo quase ouvir um narrador explicando:

as tietes, na mais tenra idade, têm capacidade de emitir gritos em freqüências assustadoramento altas que paralisam o artista no palco, permitindo sacar fotos mais precisas…

(para efeito ilustrativo, aparece cena real do chico buarque constrangido depois de alguma louca ter gritado lá da platéia “gostoso!!!!! me lambe todinhaaaaaaaaa!”)

se eu fosse celebridade teria medo de tiete. acho que abriria mão de ser famosa só pra não ter que encarar essa espécie.

a idolatria

mais uma coisa que eu não entendo: reverência absoluta a qualquer artista ou obra. entendo menos ainda o ódio aos que não gostam do ídolo em questão. experimente dizer pra algum fã da elis regina que você não gosta dela – vão querer empalar você e fritar no óleo quente (eu sei bem como é porque estou no time dos que não gostam dela e já fui frita em pensamento várias vezes).

a obra de todo artista é desigual, é muito difícil gostar (ou desgostar) de absolutamente tudo. essa história de “odeio fulano” ou “amo beltrano” é (ou devia ser) força de expressão, caso contrário se trata de teimosia pura e simples. por exemplo: eu adoro frank sinatra, mas é óbvio que existem canções que acho fracas ou chatas, mas isso não me impede de gostar dele! da mesma forma que não gosto de elis regina mas gosto de alguns (dois, na verdade) discos dela e mais uma meia dúzia de canções.

entendo que há pessoas que precisam se posicionar “preto no branco” e não admitem tais nuances, preferem dizer “odeio e pronto”. a menos que seja pra facilitar e não causar discussão, convenhamos: quem insiste no amor / ódio puro é teimoso ou simplório.

o que mais me incomoda na idolatria é a falta de respeito para com os gostos alheios. você quer adorar a nina simone como uma deusa (ops), problema seu; só não venha querer me queimar em praça pública porque eu acho ela deprê demais (eu não acho, eu não acho! :D)

com açúcar, com afeto

a opinião da moça que deu origem ao debate é bem simples: ela não se identifica com “as mulheres” retratadas pelo chico, que apanham do marido e ainda esperam ele voltar pra casa depois das gandaias. (isso é o que ela pensa a partir do que conhece das canções dele)

o que eu acho sobre a opinião dela é desimportante, mas há duas coisas que eu gostaria de explorar: a primeira é se chico buarque entende ou não a tal alma feminina (seja lá o que seja isso); a segunda é questão da auto-percepção.

eu acho, sim, que o chico tem ótimas sacadas de diferentes nuances do pensar/sentir feminino. e é justamente por captar diferentes tipos de mulher nas canções é que ele acabou virando quase unanimidade entre as mulheres, e não porque as mulheres são todas iguais.

eu vivo repetindo isso, e não me canso: é inaceitável qualquer mulher que se diz moderna e liberada vir com o discurso podre que “mulher é tudo igual” ou “homem é tudo igual”. isso é ingenuidade ou idiotice. prefiro sempre apostar no primeiro, que tem cura.

mas voltando: eu por exemplo não me identifico completamente nem com a infeliz de com açúcar com afeto e nem com a poderosa de sob medida; mas vivi bastante e consigo perceber que já abri os braços (mais de uma vez) para homens que me pisaram (achando que estava fazendo a coisa mais linda do mundo) e já fui muitas vezes traiçoeira e vulgar, sim senhores.

e aqui talvez a questão de geração faça sentido – é preciso ter vivência para se enxergar com clareza e principalmente pra perceber que não se “é” uma coisa só. cada relacionamento traz à tona uma parte diferente de nós, e isso nem sempre é bonito de ver. eu não gostei de me ver no papel de mulher burra que aceita marido filho da puta, mas admito sem orgulho nenhum que já passei por isso sem ninguém me obrigar.

mas quer saber? isso tudo é bobagem…

… porque se fosse mesmo necessária a identificação um-pra-um entre qualquer obra musical e experiência do indivíduo que a consome, a billie holiday só teria fãs junkies. e a música erudita, convenhamos, já teria sido extinta.

eu acho a amy winehouse uma idiota completa, nunca usei drogas e ainda assim adoro rehab.

enquanto escrevia isso tudo aqui, pensei que apesar de vivermos num mundo pós-moderno a maior parte de nós ainda está na fase anterior. continuamos insistindo em encontrar razão pra tudo: quem gosta tem que explicar, quem desgosta tem que explicar dobrado.

finalmente, uma confissão tardia

alimento uma idolatriazinha (não tão pequena assim) por um compositor: johann sebastian bach. ele, no meu universo, é deus (não é? :))

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  1. menos a madonna que é uma DEUSA!!! hahaha brincadeira viu?

    tô satisfeita de ler esse post. Eu fui lá no outro que o ASS linkou e que eu achei de uma infantilidade quase fofa e não comentei porque achei que ia entrar numa briga que nem é a minha.

    Acho ótimo ser tiete da boca pra fora mas esse papo de que alguém é deus quando começa a ficar sério é muito chato mesmo. Se você não suporta a Madonna eu não posso fazer nada, e gosto é gosto cada um tem o seu (viu como eu evitei a baixaria?;))

    Se tem uma coisa que eu adoro de estar envelhecendo é que a capacidade de calar a boca está começando a ficar cada dia mais fácil. E um enorme bate=boca sobre a genialidade do Los Hermanos por exemplo é algo que não me interessa, eu simplesmente mudo de assunto, ou de mesa, ou de interlocutor.

    E que bom, que uns gostam da Ana Carolina, outros de Maria Bethania, uns do Chico Buarque e outros de Bob Mrley. Que chato se todo mundo gostasse da mesma coisa…

    Ah, tu leu o post sobre as Cougars, na mesma lista de links? Vamos combinar de não comentar com ninguém?

  2. sei que sou meio boçal. não gosto de Bach, nem de qualquer musica erudita a não ser Mozart. detesto chico buarque e sou velha. nunca fui tiete mas se fosse, seria do Tim Maia. Adoro a Amy. Já usei muito drogas e só parei por que tinha mais o que fazer. Não tenho nada contra as droga, tenho contra as pessoas q não sabem usar e god damn the pusher. O querido Hoffman morreu outro dia com 102 anos 🙂

    acho o soaressilva chatinho que só, é o tipo da pessoa que sabe criticar como ninguém mas não tem espelho em casa. se tivesse, não escreveria os livros medíocres que escreveu.

  3. Sério agora, a própria tietagem, na minha humilde opinião, é algo que vem sendo idolatrado, idealizado, empurrado goela abaixo das crianças desde a mais tenra idade, nos EUA, e como o brasileiro médio é babaca pra caralho e gosta de imitar tudo que é gringo, aqui também.

    Imediatamente, isso me lembra da frase mais sensata que eu ouvi depois daquele dia de ataques do PCC em São Paulo. Curiosamente, foi do Lula (!!! ééé, pasmem!!): “Isso que está acontecendo é o fruto de mais de 20 anos de falta de investimento em educação”. Não que ele tenha feito muita coisa para mudar o quadro, mas isso não tira a verdade da frase.

    Eu acho que a idolatria é um dos frutos da falta da educação. Ahn? Eles iam ensinar alguma coisa na escola que ia impedir isso? Impedir, não sei. Na escola? Ha, duvido. A educação começa em casa, e já tem uma geração inteira aí que foi criada pela TV e não pelos pais. E isso é negligente, mas não é culpa do governo. As pessoas, nós, somos culpados, porque naquele dia que voltamos cansados do trabalho e não queremos brincar com os nossos filhos, é nesse dia que eles vão ver TV, aquela coisa colorida, “animada”, cheia de “diversões” e valores rasos. Estou me incluindo por indução: não tenho filhos ainda, mas consigo me imaginar fazendo isso também.

    Conclusão, eu acho que entrou em um ciclo vicioso que vai precisar de alguma experiência bem traumática para chacoalhar a cabeça de todas as gerações. Algo como uma guerra ou uma catástrofe. Ha, mas eu sou conhecido por ver o copo meio vazio.

  4. rosa – *hahahhahahahaha* adorei a capacidade de calar a boca. sabe que essa é uma qualidade que eu também ganhei com os anos? que bom saber que mais alguém considera uma qualidade 😀 quanto às “cougars” eu vou comentar só o seguinte: we have called doom upon ourselves.

    leila – eu conheço o alexandre pessoalmente e posso dizer que é uma pessoa extremamente inteligente e com muito bom humor, longe de ser chato. o que não significa que eu concorde com o que ele diz. quanto aos livros dele e ao gosto musical, acho que não tem o que comentar, né? gosto, como disse a amiga rosa…

    russo, assistimos ontem “idiocracy”. você viu? é um filme besta (e ruinzinho) mas a idéia é boa (e você tá falando quase das mesmas coisas que o filme…)

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