estudo antropológico (ou quase)

colegas de auditório, ter um blog é uma experiência fascinante. ter um blog muito lido, por outro lado, é uma experiência às vezes bizarra. por motivos que depois de 9 anos de blog eu ainda desconheço, sempre aparece um/a cabeça de ostra fazendo comentários desnecessariamente agressivos, ofensivos ou simplesmente intrometidos.

a pergunta me assombra há anos – o que leva uma pessoa a entrar no blog de um desconhecido e dar opiniões não solicitadas?

tenho cá minhas teorias. vou tentar entender o fenômeno usando o exemplo de uma moça que visitou este sítio ontem e deixou sua mensagem construtiva.

antes de mais nada, leia de novo o post comentado, para contextualizar. e agora, a pérola (as numerações para referência são minhas):

IP Address: 200.156.120.99

Name: vitoria[1]

Email Address: [email existente, suprimido por caridade]

Comments:

[2]Querida… como vc é [3]chata! e [4]descrente!

putz… vc deve ser [5]paulista, aff!

ai ai… levanta essa bunda da cadeira e vai [6]malhar para ver se vc fica + leve!

[7]Em todos os sentidos!

[1] 99% das vezes a figura é mulher. minha teoria é que as moças gostam de aparecer, precisam de um holofote desesperadamente – mesmo que o “holofote” no caso seja uma caixinha de comentários de um blog como outros milhões na internet. cada um se contenta com o tem, não é mesmo?

[2] essa intimidade irônica é onipresente neste tipo de comentário, especialmente quando é uma mulher escrevendo. essa é uma postura muito comum nas pessoas que não conseguem ser assertivas. acredito que muitas mulheres têm dificuldade de ser diretas e honestas pois somos culturalmente estimuladas a dissimular e manipular.

[3] reli meu post, talvez eu estivesse sendo mesmo chata, afinal. mas acho que não – o post na verdade é denso, o conteúdo realmente não é leve. suponho que a leitora não seja muito amiga de reflexões profundas, e quando se depara com assuntos que ela não entende ou com os quais não se identifica, classifica como chato. qualquer um que tem um nível mínimo de profundidade já deve ter sido chamado de chato por falar de assuntos (aham) difíceis, totalmente compreensível.

[4] essa eu realmente não entendi. quem sabe ela é atleta de cristo e acha que minhas elucubrações mentais me afastam do senhor e de quebra engordam minha bunda? é possível que ela esteja tentando me salvar, e eu é que não entendi nada.

[5] chata, descrente e gorda = paulista? esse é o momento de contar que a moça é carioca (dá pra saber pelo nome do email e pelo IP). para seu conhecimento, a esmagadora maioria dos comentários ofensivos (e normalmente anônimos) deste blog vêm do rio de janeiro. aliás, o mesmo padrão se repete no blog de uma amiga com blog igualmente popular, curiosamente. os cariocas legais que me desculpem, mas parece que a comunidade internética carioca é pouco educada e preconceituosa.

[6] eu gosto de analisar a escolha que as pessoas fazem ao expressar suas idéias – ela poderia ter dito “exercitar”, “mexer”, mas escolheu malhar. além de ser gíria tipicamente carioca, demonstrando que ela quer impor seu jeito de ver o mundo pra mim (eu estou errada e sou chata, e ela é legal e sabe o que é certo), esse verbo especificamente carrega em si o inverso do que escrevi no meu post. malhar é literalmente sofrer para obter o único resultado desejável pra um determinado perfil de pessoa – ficar “sarado” (que aliás, é uma expressão curiosíssima), ficar bonito para desfilar na praia e ser aceito pela comunidade. esse conselho dela, combinado com o último trecho do recado, fecham perfeitamente o perfil. isso é tudo que eu não quero: malhar.

[7] sensacional, o trechinho final: malhe, fique mais leve em todos os sentidos. eu sou gorda (fato) e pesada (do ponto de vista dela, também fato). sou tudo aquilo que ela deve considerar errado no mundo: mulher assertiva, inteligente, independente e principalmente mais concentrada no seu ser intelectual e emocional do que no ser físico. mulheres não podem dar mais importância às questões intelectuais do que ao seu próprio corpo – ela aprendeu a lição direitinho!

foi divertido fazer essa dissecação – que nossa leitora certamente vai dizer que é mais uma manifestação da minha chatice, ou coisa de paulista ;). esse exercício reforça uma impressão que tenho há anos: mulheres que pensam e se destacam, independente (ou apesar) da sua aparência, são extremamente incômodas, especialmente para outras mulheres.

você mulher aí do outro lado que se identificou comigo, relaxe e se junte ao clube – seremos sempre alvo de homens machistas que morrem de medo de mulher que pensa; seremos sempre alvo das mulheres que se apegam aos seus cabelos e bundas pra ser alguém. e tem espaço pra todos nós no mundo, não é preciso declarar guerra, é só ter paciência e não se deixar abalar.

mas no fundo, tirados todos os preconceitos e a falta de noção da moça, o conselho é bom. eu estou no extremo oposto, simplesmente não cuido do meu aspecto físico tanto quanto cuido dos demais e realmente penso em excesso. uma boa pitada de vaidade, futilidade e ignorância não me faria nenhum mal.

sendo assim, obrigada pelo conselho, amiga! volte sempre 🙂

19 comments to “estudo antropológico (ou quase)”
19 comments to “estudo antropológico (ou quase)”
  1. Afê Zel,

    e por isso que naum tenho blog,a última coisa que minha pouca auto estima quer é alguém me esculhambando, deixa que eu mesma faço isso.

    O mundo ta dividido em 02 tipos de mulheres; as comiveis e as não comiveis.

    Eu to no segundo grupo, meu cerebro funciona mais que meu corpo…esta daí pelo jeito tá no primeiro

  2. Hahahahaha, que incrível essa criatura…

    “você mulher aí do outro lado que se identificou comigo, relaxe e se junte ao clube – seremos sempre alvo de homens machistas que morrem de medo de mulher que pensa; seremos sempre alvo das mulheres que se apegam aos seus cabelos e bundas pra ser alguém. e tem espaço pra todos nós no mundo, não é preciso declarar guerra, é só ter paciência e não se deixar abalar.”

    Zel, leio seu blog há uns 8 anos… às vezes concordo, às vezes não, mas sempre volto porque continuo fascinada pela sua forma de expôr suas idéias, de escrever…

    Obrigada e parabéns por continuar aqui apesar das “atletas-de-Cristo-cariocas-apegas-às-bundas-e-cabelos”, hahahahahaha!

    Um beijo grande!

  3. Oi, Zel. Eu sou aquela que vem de vez em quando pelas mãos da Denize. Xorei litrus aqui. É muito engraçado. Orai irmã da congregação La Reina Madre. Deixa eu dar meu depoimento:

    Eu não sou gorda, faço natação 3x por semana, controlo a alimentação. Mas eu jamais deixo de ler o livro da semana para fazer qualquer atividade física. Eu amo cultivar meu cérebro mais que meus bíceps.

    Sua dissecação me fez lembrar que às vezes faço coisas feias: Adoro assustar os médicos quando sou obrigada a ir consultá-los (e não gosto do atendimento): “Não vai fazer anamnese? Mas esse medicamento não é um vaso-dilatador?” Rá rá rá!

    Eu amo, amo mostrar as curvas da minha inteligência, mas de vez em quando, para não parecer exibida, que eu também prezo a retidão. Ah! e não, não sou das biológicas…

    Tudo isso para dizer que compartilho contigo do prazer de ser inteligente.

    Poderia-se dizer alguma coisa a mais para a moça aí que fez o tal comentário? Talvez algo em uma linguagem que ela compreenda? Mocinha, cada um no seu quadrado!

    Abraços

  4. Caramba…quase tive que pegar o dicionário pra entender tanta palavra difícil! *HAHAHAHAHA*

    Tenho certeza que ela não entendeu o post muito menos esta resposta!

    “assertiva” – “dissecação”…ela vai pensar que você está xingando. Faz isso não.

    Eu acho que o “descrente” é porque ela lê livros chamados de “auto ajuda” e fica na cabeça com coisas do tipo “carta carta carta”. Ela deve ser daquelas que deu depoimento após ler o livro, do tipo: “Minha vida mudou com o livro! Eu até consegui emprego! Eu sou uma pessoa melhor, graças ao livro”…hehehe…MEDIOCRE (oops, palavra difícil pra ela ein?)

    Ó…eu gosto de “cadmia”, mas de vez em quando chacoalho a cabeça e…penso também…até trabalho.

    Ainda assim posso ser sua amiga?

    Eu te amo!!!!!

    Beijo

  5. Ih.. mas isso não é privilégio de blogs conhecidos não. Apareceu uma tal de Lisandra [!] lá na obra e tacou tijolada em mim e minha esposa pq a gente é feio e não condiz com o blog [que, subentende-se, é lindo de morrer]. E a obra tem, tipo… 15 leitores diários rsrs.

  6. Zel, mandei-lhe um beijo por uma amiga comum; recebeste?

    Tava te lendo no feed e tive que vir aqui para solidarizar. Impressionante como tem gente que não tem o que fazer no mundo, né não?

    Mas não seja tão má com as ‘cariocas’. Yo soy da serra, não me enquadro na ‘catiguria’, mas vivo aqui né? Rs. E tem muita gente bacana nessa terra de sol, de céu, de mar. Os ‘meus’ chato (comentador maleta de blog), curiosamente era portuga, d’além mar, hehe.

    Beijo!

  7. Ah…protesto!!! Sou carioca e adoro vir aqui sempre!! Já pensou na hipótese desta pessoa não ser uma mulher e sim um homem. ( adolescente, quem sabe)

    Ah…e conheci paulistas ma-ra-vi-lho-sos,aqui na net!

  8. Ah, Zel… se ela te conhecesse saberia que vc. é a delicadeza em pessoa, gentil, educada, fina.

    E outra, pra quem não gosta tem um “x” lá no cantinho superior, favor clicar e finito!

    Beijos, Cris Yumi

  9. rararara, zel, EU me diverti com tudo!

    adorei sua primeira reflexão (do livro, q eu não tinha visto ainda – e com a qual me identifiquei muuuuito), li as respostas, ri com a “provocação” da “carioca”, e gargalhei muitíssimo mais com sua resposta, inteligente e sagaz!

    zel, a amiga não vai entender suas colocações! ela tem um outro tipo de raciocínio, raso, raso… não dá pra levar a sério uma provocaçãozinha barata, de gente escondida por trás da telinha do computador… dá só pra se divertir!!!

    e, como vc bem reconheceu, ela até talvez tenha atirado no que viu e acertado no que não viu, né?… mas sem mérito algum… kkkkkkkk

    gente assim sem noção é que nem formiga, tem em tudo que é lugar… a diferença é que formiga é formiga, mas esse povo bem que podia ir procurar sua turma, nénão?… kkkkkk

    bjs, liga não, eu, por exemplo, ADORO vir aqui e acho vc bacana, inteligente, sensata, razoável, interessada em melhorar, generosa, e ainda por cima é paulista (que nem eu!)… KKKKKKKKKKKKKKKK

  10. Eu leio seu blog desde 2001 (quando eu tinha o meu, chikorita, depois pulce e depois parei)e justamente me identifico muito, me faz sentir parte do clune 🙂

    Nunca comento, mas quero deixar um beijao, eu morava na Italia nao sei se vc se lembra de mim, e agora moro em SP, em Vinhedo.

    té mais

  11. Acho que a bagaça é bem mais simples. Algumas pessoas que acompanham, mesmo que superficialmente o seu blog, percebem que a maioria esmagadora que vem aqui concorda contigo e fica jogando confetes. Então neguinho faz malcriaçãozinha pra ser do contra e tb (eu, visitante ocasional, já percebi) pq vc dá mó importância, escreve longos posts de resposta, vem td a galera te defender (amigo, parente, marido, simpatizante,etc). Daí já viu, eles jogam a isca e ficam só esperando a sua reação (q certamente virá) e dos seus. Tem gosto pra td e eles devem achar bem divertido. Simples assim!

  12. Xô… mangalô três vezes…

    Que pessoinha pequenininha, né?

    Por que um ser deste perde tempo lendo o que não a interessa? Ou por que acessar um blog de alguém que ela acha isso tudo!!

    Quem será que precisa ficar mais leve?? kkkkkk

    Adoro seu jeito de escrever e seu português correto.

    Beijos,

  13. Concordo com a Winehouse.

    Adoro seu blog! Nunca postei nada, mas gosto mto.

    Acho o máximo esse seu jeito hipérbole de ser.

    Agora, de vez em qdo, vale a pena ser um pouco autista por opção.Ou então manda a merda mesmo.

    Só não pode sofrer!!!

    Ahh, aproveitando que já tô aqui mesmo, eu topo ir na comemoração dos 10 anos. Posso?????

    Bjokas, nariz de pipoca!!!!

  14. Oi Zel!!! Voltei, estava de férias. Menina, que é isso! O povo lê o blog alheio para CRITICAR? Essa doida não tem nada a mais pra fazer na vida? Adorei sua resposta. Na boa, eu também queria entender por que mulher que PENSA precisa ser criticada. Agh. Palmas pra você. Beijos.

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