hate rears its ugly head

dia desses, navegando por blogs, me deparo com um post escrito por alguém que conheço mas de quem decidi tomar distância, por uma série de motivos. se alguém perguntasse, eu conseguiria desfiar alguns deles com pouca dificuldade, mas depois da leitura do post ficou claro “o” motivo: essa pessoa não sabe lidar com os próprios sentimentos negativos.

não vem ao caso quem é a pessoa, basta saber que o post destilava ódio e rancor. e de uma forma tão feia, tão sem filtro, que fiquei chocada. sim, sei que sentir ódio é normal, já superei minha educação repressora que separava os sentimentos entre bons e maus, e também sei que sentir é sempre legítimo, não importa qual é o sentimento. temos todos o direito de sentir o que sentimos, simplesmente, sem julgamento. mas o que fazemos a partir do sentimento é importante, e é daí que quero partir.

as palavras escritas continham ódio puro, e me assustou perceber que havia prazer no destilar do sentimento. o texto era longo, bem escrito, articulado, foi revisado e publicado. não foi só sentido, foi também cristalizado, confirmado e distribuído. sem se importar com o efeito que isso causa no outro.

(você pode argumentar que lê quem quer, e terá razão. mas neste caso, o comportamento de blog só reflete o comportamento no dia a dia, por isso acho válido usar como exemplo)

quantas pessoas vocês conhecem que se consideram expansivas, sinceras ou espontâneas e não têm nenhum pudor em despejar nos outros todos os seus sentimentos negativos, em forma de palavras ou ações? pessoas que não sabem lidar com seus sentimentos, que não aprenderam que é legítimo sentir mas não é sempre correto, conveniente ou legal despejar tais sentimentos em outros?

analisando minha história, conto inúmeras pessoas com as quais escolhi conviver que se comportavam assim. com a desculpa de serem “sinceras demais”, ou “transparentes”, despejavam em cima de mim seu ódio, frustração, inveja, tudo de ruim. porque afinal “somos amigos e podemos ser sinceros e desabafar, não é mesmo?”.

não, não é, mesmo!

todos sentimos coisas ruins, é inevitável. temos opinião sobre quase tudo, detestamos coisas e pessoas. é nosso direito, é normal, tudo bem. o que não é legal nem OK é fazer absoluta questão (ou não se importar!) que todos ao nosso redor convivam com nossos sentimentos e opiniões negativas. quando eu estou tranquilamente almoçando meu bife de fígado acebolado, não preciso (e não quero) ouvir de ninguém o quanto ODEIA e tem NOJO, ECA! de bife de fígado (ou de cebola). também não quero ter que ouvir sobre o quanto alguém odeia seu vizinho, ouvir xingamentos que não me pertencem, receber uma carga sentimental negativa que não é minha. podia ser poupada também de reclamações constantes sobre assuntos sobre os quais não tenho ação, principalmente quando o reclamante nada faz para mudar a situação. é só LIXO sendo despejado no quintal do vizinho, no caso o meu quintal.

é preciso ter respeito pela paz alheia, pelo direito de não compartilhar involuntariamente do ódio e frustração que a si não pertencem. poupar o outro do trasbordamento do seu ódio e todos os sentimentos negativos é um ato de gentileza, que devia ser praticado continuamente, especialmente com aqueles que amamos e consideramos.

com isso quero dizer que não temos nunca o direito de desabafar? claro que não. desde que seja claramente um desabafo, e que o outro saiba que aquilo é um desabafo, participe disso como ombro amigo voluntariamente, e não como penico involuntário e constante! ser amigo também é ouvir o outro e suas frustrações, apoiar e estar ao lado nas horas difíceis. mas essa função precisa ser pontual, muito bem dosada. não há quem suporte somente ouvir reclamações e receber raiva mal direcionada como se fosse normal e OK.

um aprendizado que carrego comigo com carinho é o de perceber quando estou direcionando mal meus sentimentos negativos. se estou chateada com meu chefe, por que fico infernizando meu marido, despejando nele minha frustração? esse sentimento negativo não pertence a ele, e nada traz de bom para o nosso relacionamento!

por isso fujo de pessoas que reclamam em excesso ou se consideram “sinceras” ou “expansivas” com seus sentimentos negativos – elas não aprenderam a lidar com suas frustrações de forma adulta, não gostam de confronto (preferem reclamar pelas costas, para outros) e vão tornar sua convivência com elas miserável. você vai lá pro fundo do poço junto com ela, ou vai gastar uma energia imensa pra se manter na superfície.

acreditem: não vale a pena. não há qualidade que compense os ataques de “sinceridade” sem se importar com seus sentimentos, as reclamações constantes e o ódio mal direcionado.

10 comments to “hate rears its ugly head”
10 comments to “hate rears its ugly head”
  1. Duro é quando uma pessoa assim, negativa, é da sua família e você não tem como se afastar dela. E quando se afasta, lógico, é crucificado por Deus e o mundo. Não é fácil… Só sobra a alternativa que vc mesma citou: gastar uma energia enooorme pra não ir pro fundo do poço também, e se manter na superfície.

  2. Zel, gostei muito do seu texto, pois aconteceu exatamente isso comigo. E no caso houve até lavação de roupa suja no blog da pessoa…Enfã, passou o tempo, sempre passa. Fica aquela coisa ruim do dito pelo não dito, nem um pedido de desculpas nada… só a lembrança das ofenças. E o pior é conviver com isto, não acredito no perdão, acho q por isso sofro, e muito! Assumo… como disse o Guga: tou tentando sempre estar na superfície para não chegar ao fundo do poço e me contaminar… As vezes me acho tão hipócrita, por me fazer de samambaia…onde o vento sopra eu viro, sabe. Não se deixar abater é dolorido! Foi bom ler tuas palavras…ela deram alívio ao meu coração. Beijo e obrigada!

  3. Zel,

    sei direitinho o que vivenciar o que você descreveu. Convivi durante 3 anos com uma pessoa assim, e por mais que eu tentasse ajudar, eram sempre as mesmas reclamações, os mesmos problemas e o mundo e os outros como culpados, nunca uma auto-análise e aceitação de responsabilidades pelos próprios atos. No dia em que resolvi me afastar foi que dei-me conta do quanto de energia negativa e problemas alheios eu acumulava cotidianamente. Amiga de quem eu gosto eu sou, mas lixeira emocional, nunca mais.

Deixe um comentário