adjetivos
quero escrever muito, livros mesmo, um dia. gosto de escrever e acho que escrevo bem. exercito bastante, releio tudo o que escrevo, sei que meu texto vai amadurecer com o tempo. consigo me ver um pouco mais velha me dedicando à escrita com mais seriedade do que me dedico aos meus cadernos e a esta ferramenta. quero escrever textos eróticos, gosto do meu jeito de fazê-lo, gosto de ler, gosto do tesão que me desperta escrever e ler.
tento não ser muito pretensiosa na escrita (me considero muito menos pretensiosa no escrever do que nas idéias e certezas), e não consigo evitar uma ponta de irritação ao ler textos pretensiosos. pra mim, a marca maior da pretensão — e também da incompetência literária — é o uso exagerado dos adjetivos. “idéias absolutamente brilhantes”, “campinas abundantemente verdes” e coisas dessa natureza me enfastiam. nem sempre consigo evitar o atalho fácil dos adjetivos em excesso (até porque eles dão uma “cor” sofisticada ao texto, principalmente quando não são usuais) que engana os tolos. os que não têm costume de ler muito se encantam facilmente com palavras bonitas colorindo o texto. eu não gosto de tanto floreio, não. já acho meu texto um tanto prolixo, tento sempre que possível “enxugá-lo”. não pretendo também escrever de forma “seca”. gosto do lirismo, das cores das palavras. queria uma combinação equilibrada de cor, sabor e odor do meu texto: um complementando o outro, delicadamente.
não gosto dos excessos estilísticos, principalmente em textos amadores. os mestres da literatura fazem isso muito bem, e ainda assim é cansativo. o que dizer então dos que se excedem por mera incompetência ou no intuito de iludir o leitor, alimentá-lo com palavras vazias para que ele não se lembre que ali não há nada substancioso?
em mais dez anos quero estar escrevendo muito e muito melhor, e pra isso, observo, penso, testo, faço uma auto-crítica silenciosa a cada releitura do que escrevo. ando cada vez mais chata, com o meu texto e com o texto alheio. graças a deus.