Traduzir é criar. Às vezes com um pouco mais intervenção que outras 🙂 essa tradução é linda, é muito livre.
Leia o original aqui, e encante-se com ambas.
A meu amor, ao voltar pra mulher
Anne Sexton
Tradução de Mônica Rodrigues da Costa
Ela está toda aí.
Foi forjada com cuidado só pra você
E içada de sua infância,
Escolhida entre suas cem favoritas.
Ela sempre esteve aí, cara.
Meu, ela é o máximo.
Fogos de artifício no tempo cego de fevereiro,
Real como sombra de ferro.
Vamos encarar, eu fui momentânea.
Luxúria luxo. Mancha vermelha no mármore branco.
Cabelo voando feito fumaça saindo da janela do carro.
Brisa fora de estação.
Ela é mais que isso. É seu ter que ser,
Faz você crescer, fez crescer em você seu lance tropical.
Não é aventura, é pura harmonia.
Ela vê Lucy in the sky with diamonds
Já te ofereceu flores selvagens da janela, no café da manhã,
Já te preparou almoço meio-dia
Já ninou os meninos no luar da ilha
— Três querubins criados por Michelangelo.
Ninou com as pernas engolindo
A reza da capela nos meses terríveis
E, agora, você olha as crianças circulando,
Sobrevoando balões delicados pelo telhado.
Ela pajeando cada uma no colo pelo corredor
Depois da janta, carregando cabecinhas soltas no ar,
Com as pernas protestando, corpo a corpo,
A cara dela enfiada na canção de ninar as lindas crias —
Eu te dou sua alma de volta
Te dou permissão
ao fuso que há nela, adivinhando
perigo à vista, à puta nela
lambendo feridas —
suas próprias feridas, mancha vermelho-vivo
ao compasso pálido dos quadris,
ao barco bêbado no pulso dela esquerdo,
para o colo-de-mãe nela, pregando botões,
cuidando do jardim, atendendo quando você chama
— Curioso chamar
Você se virando em braços e peitos
Então solta o balão laranja dos cabelos dela
E responde ao chamado, curioso chamado.
Tão nua e singular,
Ela é a soma de seu próprio ser e seu próprio sonho.
Atravesse-a como a um monumento, passo a passo.
Ela é sólida.
Enquanto eu, baby, sou uma bolha colorida:
Eu dis-sou-vo.