balança
não, eu não vou falar de peso (até porque esse assunto me incomoda dia sim e o outro também). pensava na balança de justiça, naquela que pesa coisas aqui e ali, com os dois braços. aliás, engraçado serem dois braços o da justiça, certo e errado, quando eu justamente (ah!) pensava que essa história de certo e errado é errada. ih.
vou começar de novo: às vezes me sinto errada. errada no sentido de fazer coisas feias (eu não tenho essa cena gravada, mas confesso que isso me remete àquelas broncas de mãe: “feia!! menina feia!! não faça mais isso!!”). eu tenho culpa de sentir raiva, é um fato. sinto-me a mais escrota das criaturas quando vem aquela vontade simples de destruir o outro, aniquilar, acabar com o que me incomoda. segundo minha terapeuta (e esse tipo de citação se torna freqüente, o que me dá plena certeza de que me transformei numa personagem dos filmes ruins do woody allen, analisada-de-meia-idade) eu não devo temer a raiva (estou usando tantos parênteses que preciso voltar pra ler o início da frase, imagina você, coitado que me lê…). eu quero sempre ser boazinha, simpática, feliz, sorridente, cheia de luz e cor e CERTA. ter ódio, inveja, cobiça, essas coisas todas que o dimonho nos ofereceu carinhosamente, são erradas e ruins e más. muito más.
houve uma época em que eu adorei ser má. ou achar que era má. ainda caio nessa tentação de sentir prazer com minha maldade e desprezar minha bondade. é como uma pequena vingança pelos momentos de culpa por ser má, é quando me vingo de mim mesma pelas bondades realizadas às custas de sacrifício, para agradar a algum deus interior (porque é só nele que eu acredito, e ainda assim esse nome reluta em ser dito ou escrito). eu às vezes tenho prazer em ser má, até porque me sinto subvertendo tudo, e não há prazer melhor do que o proibido. pelo menos pra mim (e nos últimos tempos tenho me revelado de uma perversão assustadora até pra mim mesma). eu sempre associo perversão a sexo (o assunto me persegue o dia todo, o meu corpo não me deixa esquecer) mas ando percebendo pequenas perversões nas atitudes, nas ironias, nas palavras com pontas. sinto prazer com isso, e ia dizer confesso, mas confessar tem a ver com culpa e com perdão e eu já não aguento mais ser tão católica sem sê-lo, alguém pelo amor de deus (ai, e eu sou atéia!) me lembra que eu não acredito em nada?
se eu usar mais uma frase longa dentro de parênteses podem me dar um tapa na cara (por favor por favor por favor por favor!). é, acho que isso foi uma auto-crítica disfarçada de provocação, ou vice-versa.
eu pensava em justiça e em equilíbrio, e entendi tudo enquanto escrevia. é balanço de balançar, aquele de parquinho, que eu quero. veio uma imagem gostosíssima de uma praça verdinha, vazia (pra que nenhuma criança venha olhar feio porque a tia ocupou o balanço — e eu usei parênteses de novo…). balançar e fechar os olhos. deixar ser, que é melhor assim.