Não sei se eu é que sou muito coração de pedra (provável), mas não entendo toda comoção de várias pessoas nas redes sociais porque estão se vendo “obrigadas” a bloquear ou desfazer amizade com familiares e amigos porque essas pessoas estão fora da casinha graças à eleição, e são basicamente horríveis.
Não sabiam que essas pessoas eram horríveis? Descobriram agora? Desculpa, mas é só ir em qualquer festinha com algum álcool que você vai descobrir o pior das pessoas. Não há uma festa de fim de ano ou happy hour sem oportunidade de ouvir aquele tio fazendo comentário racista ou o colega de trabalho falando merda sobre mulheres. Não há um dia ali na rodinha do café que a gente não escuta a amiguinha falar mal da colega gorda, ou da moça que foi promovida — “nossa, o que será que ela fez HEIN?”.
Especialmente no Brasil, acho que somos ABSURDAMENTE tolerantes com o intolerável. Tudo “era só piada”, e se a gente não aceita, vira o sem-graça (hoje em dia tão chamando de radical; quando era mais jovem eu era grossa mesmo). Nossa necessidade patológica de ser amigo de todo mundo nos leva a não ter limites, e é urgente essa mudança cultural, precisamos parar de acochambrar tudo, de passar pano pra atitudes medonhas pra manter amizades e relações familiares.
Já fui MUITO criticada na família e no círculo de amigos por minha “intolerância” — o tio escroto não vai ser convidado pra vir na minha casa, e também não vou na casa dele. E pronto. “Ah, mas ele no fundo é legal, ele colabora com o asilo de Piraporinha, apesar de ser um machista nojento e abusar da esposa”.
Não, gente, para. Óbvio que TODO MUNDO tem partes boas e más. O que deve contar é o peso das ruins e boas dentro do seu sistema de valores. Ser machista praticante não é algo que vou tolerar, mesmo o cara doando milhões pros velhinhos de Piraporinha. E não sinto um pingo de culpa por isso. Talvez outra pessoa com outra história de vida ache OK ser tolerante com isso — eu não acho. Pessoas machistas ameaçam diretamente meu direito de existir e ser quem eu sou, não posso, em sã consciência, aceitar isso.
Convivo com pessoas de outros países, especialmente USA e Alemanha, há muitos anos, e reparei que eles não sofrem desse drama. Não se sentem obrigados a serem legais com ninguém, a serem amigáveis. Eles são amigos de quem eles acham que realmente merece, e não ficam cheios de dedos pra colocar limites. Aprendi muito com eles, e fui ficando mais tranquila em colocar limites SIM, e mandar pra longe gente que não me agrega nada, ou muito pouco.
“Ah, mas pessoas do trabalho, sabe como é…” — sei sim. Sou executiva de multinacional e trabalho em empresas enormes desde o começo da minha carreira. Estou lá pra trabalhar, e não pra fazer amigos, então não, não vou no happy hour da turminha escrota. Não vou entrar no papo de política na reunião — me reservo o direito de não falar de assuntos pessoais no trabalho, estou ali graças a um CONTRATO. Se fizer amigos, será uma sorte (e fiz, sim, porém poucos e bons).
Não confundo mais as coisas, não acho que tenha obrigação de ser tolerante com gente que é mais idiota do que legal, não vou abrir mão dos meus valores pra ter um milhão de amigos meia boca, ou amigos que demonstram pouco respeito por mim, pelas minhas ideias.
O mundo é vasto, a vida é curta, não vou perder tempo tentando reconciliar o que não se reconcilia.
Não desamiguei ninguém nem deixei de seguir ninguém nesse mar de merda que tá sendo essa eleição, porque já venho usando a peneira adequada pros meus valores há anos.
Não tenho amigos nem conhecidos (que eu saiba, né; se souber, a limpa será feita) que apoiam Bostanaro, que são ativamente machistas, racistas, homofóbicos, contra os direitos humanos. Essa é minha peneira MÍNIMA, essas coisas são não negociáveis.
Não sofro em absoluto por impedir essas pessoas de fazer parte da minha vida. É um auto-cuidado que eu acho que mereço muito.
Estou perdendo alguma coisa? Certeza que estou. E tou de boas: E S C O L H A S. Parte importante da vida adulta, recomendo.
Beijo a todos que estão em minhas redes sociais, eu escolhi vocês ao mesmo tempo que escolho a mim mesma.