(sem título)

sal

acordei com vontade de mergulhar no mar gelado, bem cedo, quando ainda não tem ninguém na praia, a maré baixou e a areia está virgem de pegadas. ouso sonhar que estou nua, minha pele quente do sol da manhã. meus pés na areia fria esperariam a próxima onda, que viria bem de leve e gelaria meus pés. o resto do corpo arrepiaria de frio e eu ficaria de olhos fechados alguns instantes, entre ir e não ir, entre acabar logo com a tortura ou desistir. entraria pouco a pouco, como sempre faço, sentindo parte do corpo seca e quente do sol e outra parte fria da água salgada. meu corpo se arrepiaria todo e a cada onda que viesse e molhasse um pedacinho não planejado eu daria um grito abafado. chegando ao ponto de mais frio que calor, eu esperaria a próxima onda e mergulharia de olhos fechados, e aí não faria mais sentido gritar, sendo abraçada pela água fria, de volta ao meu elemento. eu emergiria outra: molhada e gelada, respiração alterada pelo frio, os olhos molhados de sal, meu corpo todo tenso de frio, cheio de gotinhas escorrendo. eu seria a primeira mulher, saindo da espuma do mar, respirando o ar da primeira manhã do mundo.

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