Eu sei que pra vocês foram só 3 dias como quaisquer outros mas pra mim os últimos dias foram uma travessia, uma experiência, um espanto.
Cheguei de viagem na quarta à noite, dormi mal, e acordei com uma febre alta. Acordei é modo de dizer, porque já estava atravessando um portal para o mundo da Influenza A (também conhecida como H1N1). Já tive COVID 2 vezes, mas fui vacinada mil vezes, então não foi nada grave felizmente. Obviamente já tive gripe, mas nada comparável a essa que tive agora.
Passei 2 dias inteiros na cama, sem conseguir comer, ou olhar pra luz. Comi um pedaço de fruta aqui e ali, e muita água, e o Fer foi o melhor enfermeiro que alguém poderia querer. A Gracinha teria orgulho ❤️ Cuidou de mim, e de todo o resto da casa.
Estou medicada e melhor a cada dia, mas não era sobre isso que queria falar, é sobre a experiência de estar doente e como isso coloca coisas em perspectiva mesmo quando não é uma doença gravíssima (embora gripe mate, então VACINA SEMPRE. Eu tomei minha vacina ano passado, mas atrasei esse ano!).
Nesse período de cama, eu não lembrei que meu celular existia, não pensei em trabalho, em nada além de tomar água e me proteger no edredom, deixando meu corpo se curar. Minha ansiedade desapareceu, os pensamentos sem fim, tudo que não era essencial sumiu. Minha mente ficou em silêncio, por 2 dias, em modo de sobrevivência.
No terceiro dia, já melhor, a mente voltou, e ansiedade (que é crônica, eu tomo medicação pra controlar e não causar estragos na saúde física) também. Só quem é pai / mãe vai entender: depois de ter filhos, a ideia de morrer é apavorante muito além do medo natural de não existir mais. Não existe motivação maior pra persistir e ficar saudável do que garantir presença pros próprios filhos (pelo menos enquanto eles não são adultos).
Vocês viram o último show do Mike Birbiglia, o comediante? É todo basicamente sobre isso, e é muito engraçado!
Contemplar nossa fragilidade física diante de um vírus não é engraçado. Eu tive / tenho medo, e tenho tido desde aquele 27 de agosto de 2010 às 6:34 da manhã. O medo era tanto que eu não conseguia respirar direito, e não conseguia sentir alegria também pela chegada do meu bebê, naquele nascimento tão traumático. Achei que o medo melhoraria, que era só efeito da circunstância, mas a real é que quem está atento tem medo. A gente se distrai, se acostuma, se dispersa, mas o medo permanece ali à espreita.
Eu sei que é “só uma gripe”, e que vários de nós passam por essas coisas todos os dias. Não estou querendo romantizar a experiência, mas foi transformador pra mim. A imagem do buraco de minhoca não me sai da cabeça — eu saí de um universo e cheguei em outro, experimentei um silêncio restaurador, me senti afogada de medo.
O que aprendi? Que preciso parar de abraçar tanta gente 🫠, que preciso tirar a mão da boca 🙄, e que usar máscara em viagens é uma ótima ideia 😷.
E também que preciso me cuidar pra estar aqui o máximo de tempo possível pro meu filho, até que meu cérebro seja transferido pra uma inteligência artificial e eu possa continuar falando sobre a vida (e a morte) por toda duração das tecnologias, amém.