revezes
há momentos em que me sinto absoluta e completamente estúpida; boba, ingênua, pateta, a presa perfeita para mentirosos e picaretas de uma forma geral. eu não gosto de mentir. tenho um pacto comigo mesma de evitar mentiras e omissões, por mais que seja doloroso às vezes dizer a verdade. eu tenho um pacto comigo mesma de não ser desleal, de não dever, de ser o mais correta possível. sou minha maior censora, me cobro o tempo todo atitudes corretas. isso não significa que sou perfeita, eu cometo erros o tempo todo, mas jamais os cometo deliberadamente. procuro abrir o jogo no momento em que percebo as coisas acontecendo, sou incapaz de guardar pra mim mesma a percepção de algo que pode dar errado ali adiante. e, como toda pessoa boba, acredito que os demais seres também são assim. que não serei sacaneada deliberadamente, que não vão me passar rasteira, que não vão me trair ou mentir de propósito. mas acontece. aqui e ali, acabo me surpreendendo com traições, mentiras, enganações, trapaças, fofocas e todas estas coisas mesquinhas que procuro evitar cometer, o tempo todo. e, é claro, os golpes vêm sempre daqueles em que confiamos, afinal, é quando abrimos a guarda.
cada vez que me vejo lesada ou sofrendo por ser traída ou sacaneada, eu me condeno e me censuro. esbravejo internamente que é preciso aprender a ser assim, sacana e filho da puta, gérson, levar vantagem em cima dos outros, dever e não pagar, trair, mentir e fazer maldades; que o mundo é assim, e que gente como eu só se dá mal na vida; que é preciso não confiar nas pessoas, ser cínico e ter sempre o pé atrás.
mas a ira dura pouco em mim, e percebo que há uma medida universal para os acertos na vida: a felicidade, a paz. e eu estou em paz, estou feliz. eu acertei, e é isso que de fato importa. eu escolho este caminho, mesmo que precise de vez em quando aturar os infelizes que erram. azar o deles.