amor
eu o amei desde o primeiro dia, quando ele ainda não era meu. amei seu corpo que eu apertava, o cheiro acre, seu jeitão fechado. amei o mau-humor, a independência e a extrema fragilidade, o medo por trás da raiva. quis cuidar, quis proteger. protegi, cuidei, amei. cada dia amei mais, e amei mais que nunca no último dia. me despedi dele lentamente, como quem sobe na montanha-russa, os trilhos fazendo barulho, tec-tec-tec. devagar eu subia, levando meu amor no colo. repetia, olhando os olhos dele, que o amava mais que nunca, que ele não estava só. uma lágrima minha caiu nele, enquanto eu dizia que estava ali, sempre, com ele. senti o calor do corpo, os olhos olhando os meus. ele não disse nada, até porque não dizia nada nunca, mas ele falou comigo, sim. meu coração doeu, porque sabia que era hora. ele foi embora, seu adeus foi nos braços de outra, mas ninguém o amou mais que eu, não, e ele sabia. meu coração dói ainda, lembrando daquele amor bonito que continua aqui, sem dono, e por isso dói tanto: ele se foi, mas o amor ficou. ele anda sozinho nessa casa imensa que é meu coração. de vez em quando ele chora, e eu também.