(sem título)

VASP nunca mais

são paulo, sexta-feira à noite, aeroporto de congonhas. entra no avião, na hora certa (eu bem que me espantei, isso NUNCA acontece), sentamos, afivelamos cintos e… todo mundo tem que descer. problema na rebimboca da parafuseta, toca a gente toda se ajeitar e sair. as aeromoças sorriam aquele sorriso de plástico irritante e diziam “boa noite, voltem sempre, foi um prazer tê-los a bordo”. instintos assassinos nos 2 segundos entre elas e a escada. um dia eu faço vudu com uma boneca barbie vestida de comissária, juro. depois de 2h de espera naquela salinha horrível, sem água nem pão nem circo, os acomodados se desacomodaram e senti que algo de fato podia acontecer, me levantei. gosto de um bate-boca, e confesso que sempre tive ganas de descabelar umas daquelas aeromoças magrelas-de-cabelo-de-boneca. vontade de borrar aqueles batons irritantemente brilhantes, aquelas sombras improváveis (meu deus, a daquela loira é azul bebê, parece pintada de esmalte para crianças). mas nada de aeromoça de plástico. quem apareceu foi um infeliz de sobrenome sudário (acho que era falso. o sobrenome, não ele) e atitude blasé que por poucos segundos não levou uma cuspida na cara. é, de mim. pessoas me pedindo calma. veja bem: ele me diz (1) o vôo pode atrasar até 4h, por lei, então dê-se por feliz que são só duas; (2) aviões quebram! eles têm que quebrar! se não for assim, o que será de quem os conserta? surtei. aquele ódio todo do chefe, dos colegas de trabalho, dos ex-amigos, dos ex-namorados, daquela inspetora de recreio do primário, todos os ódios se concentraram no sudário, e a sorte dele é que tinha gente no corta-luz. mandei calar a boca, que eu não era obrigada a ouvir tanta merda (detalhe pro meu dedinho apontado pro nariz dele). o caos se fez, todos me acalmando mas com olhinhos suínos (eu sempre quis usar essa expressão!!) de ódio contra o infeliz sudário. atrasados duas horas, xingamos a mãe de todos os infelizes funcionários da companhia aérea e pra resumir, no fim da história eu ria sem parar das piadas dos cariocas que — devo admitir — têm humor muito melhor em meio à desgraça. na verdade, eles nem consideram aquela absurda falta de organização propriamente uma “desgraça”, e se divertem com todas as pequenas coisas que podem dar errado. o ônibus que erra o caminho dentro do aeroporto, a aeromoça que parece um robô malfeito, a maldita bananada com chocolate (!) servida no avião. obrigada, cariocas, minha sexta-feira de contratempos seria muito pior sem vocês.

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