(sem título)

zoológico

gosto dos bichos, de todo o tipo. gosto de observá-los, perceber suas características, entender como é seu modus operandi. todos eles têm peculiaridades atraentes e repelentes. alguns são bons de se ter por perto, outros não. eu sou daquelas que tem mania de arrastar tudo que é bicho pra casa, dar de comer, de beber, dar banho, cuidar. tenho pena dos bichos sujos e largados, sem pai nem mãe, sem amor na vida. tenho coração mole e quero tentar dar um pouco do que eles nunca tiveram: uma casa limpa, carinho, comida bem-feita. no início eles vão ficando, porque é bom ser bem tratado, e eu vou achando que o bicho está feliz e ficou meu amigo. assim faço também com as pessoas.

o que acontece, na realidade, é que há pessoas que, como certos bichos, estão ali aproveitando do que ofereço de bom enquanto não aparece ninguém melhor pra explorar (material e espiritualmente), mas lá no fundo me odeiam pelo que eu sou, por eu não ser igual a eles ou pior: porque eles nunca serão iguais a mim. eles não gostam do que são, mas não sabem mudar. não se aceitam, e odeiam o que é diferente. amam e odeiam, não têm paz. não se pode mudar a natureza de um escorpião, não se pode ensinar uma pessoa que só sabe o que é miséria espiritual a perceber como o mundo é mais que isso. não se pode ensinar a alguém que vem sendo desprezado desde que nasceu que não é o mundo que é ruim. um escorpião ataca porque assim é sua natureza, ele não é bom em mais nada além de injetar veneno. como fazer outra coisa na vida?

não foi fácil perceber que, como os escorpiões, há pessoas que nada sabem fazer além de envenenar os que estão à sua volta e culpar o mundo (e geralmente a mim) pelo mal que as cerca e por serem as pessoas infelizes que são. elas se juntam em bandos, somando tristezas, e assim se sentem em casa. felizes? não, não são felizes. e não serão nunca, enquanto não se olharem bem no espelho e perceberem que não são pombinhas e nem borboletas: são escorpiões. com tudo que isso tem de bom e de ruim.

ao perceber o que não sou, entendi o que sou. sei bem o que tenho de bom e ruim, e sou feliz com minha natureza (en)cantadora. ao mesmo tempo, fiz uma descoberta muito mais importante: vi o que não me servia. esse tipo de gente venenosa e perniciosa não me serve. ofereça comida e na primeira oportunidade eles mordem sua mão, pois têm ódio do mundo por tudo o que eles sofrem. coitados. vão sofrer muito ainda até perceber que o problema não é o mundo, não são os outros. enfim, o erro alheio pouco me importa, hoje. muito melhor foi perceber o meu erro (e corrigi-lo): depois de anos tentando conviver com veneno, eu me afastei e fui procurar minha turma. e quer saber? estou muito mais feliz. vou (en)cantando e sendo (en)cantada e vivo mais leve e mais feliz. a vantagem de ter convivido com o veneno bem de perto é que fiquei imune. reconheço e desvio o caminho, consciente.

só de uma coisa eu não consegui me livrar, ainda: da pena. ainda tenho muita, muita pena desses coitados.

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