um novo tempo (blá blá blá)

texto cujo título é trecho de música do ivan lins já não começa bem. mas eu sou da turma da paula, sou cafona mesmo e não nego (embora eu seja muito menos megalomaníaca e empreendedora). como exemplo, recomprei no extra essa semana um cd do benito di paula (o meu quebrou, um azar danado) e ouvi enquanto arrumava as compras na cozinha. mais cafona impossível.

mas eu ia dizendo o quê, mesmo? (reli) não ia dizendo nada, que coisa. vou dizer então: sinto que há algo de novo em mim. deixei pra trás mais um pedação de casca, me sinto crua e sangrenta. é esquisito explicar isso, mas é mais ou menos assim: imagina cobra mudando de pele. fica aquela coisa asquerosa por um tempo, mas depois aparece uma pele nova e muito fininha, sensível à menor brisa. ou pense num peeling: a camada áspera foi tirada e agora ficou uma pele jovem mas meio machucada, que precisa ser cuidada e protegida. tou sentindo assim. ao mesmo tempo que a sensibilidade aumenta, dá um medo danado de me machucar.

eu arrisquei muito nesses últimos meses. eu confessei que amo, que odeio. senti muita raiva, muito amor. ainda me sinto culpada de sentir raiva e querer a morte alheia (mesmo que seja só na fantasia) mas pelo menos me deixo sentir. aliás, tenho sentido mais e falado menos. parece fácil? não é, acredite. o impulso é sempre racionalizar ao invés de sentir, explicar e categorizar, entender e então achar que está sentindo. é um sentimento enquadrado, de mentira. tive um amor de mentira, uma doença travestida de amor. doía, machucava, e eu maquiava. como as mulheres que apanham do marido maquiam seus olhos roxos e usam óculos escuros, eu maquiava a violência que sofria, uma violência auto-imposta. sou controladora. quis controlar meus sentimentos e controlei, na ilusão de assim sofrer menos e ser dona do meu nariz. eu sofri e sofro ainda, mas agora sofrer também é um sentimento, e nada mais. não precisa de explicação e nem de motivo, precisa de conforto.

eu procurei conforto. eu silenciei e senti. eu senti! e descobri que as coisas passam, se a gente não se dedica a entendê-las. até porque nem tudo se entende, nem tudo se classifica. eu me deixei sentir amor. eu não consegui ainda falar dele, mas escrevi cartões para cada um nop natal, os que estavam ali pra me abraçar. eu chorei quando escrevi palavras de amor, quando expressei minha gratidão. recebi de volta abraços e mais amor. meu irmão me liga pra dizer “te amo”. meu pai me liga pra dizer “te amo”. são coisas que nunca ouvi, nunca disse. e agora digo e ouço, não canso de me espantar. é como plantar uma semente, uma coisinha dura e pequena, e ver aparecer um brotinho verde clarinho, como um milagre. aquele brotinho vai virar árvore, vai dar flores e frutos, e fui eu, com minhas mãos, que plantei. eu dei a oportunidade para que a semente virasse o que ela nasceu pra ser.

um impulso transformando coisas. ação, ao invés de reação. descobri que posso mudar o mundo todo e mal posso conter minha alegria e espanto. esse ano não vai ser melhor nem pior que os outros, ele vai ser diferente. vou continuar me dedicando ao que sei fazer de melhor: mudar.

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