reclamando da reclamação

ontem eu pensava, no ônibus, sobre a reclamação. na verdade, comecei a pensar em como são chatas as pessoas que reclamam; acho que é mania, doença, devia ter tratamento. consegui pensar em pelo menos uma dúzia de pessoas que conheço que reclamam de tudo e de todos: do tempo, do trânsito, da prefeitura, do presidente, do vizinho, do emprego, etc, etc, etc.

elucubrei — enquanto o ônibus chacoalhava — que existem dois tipos de reclamação (deve haver mais, só que eu sou binária, só penso de 2 em 2): as úteis e as inúteis. as inúteis são aquelas sem nenhum tipo de ação ou conseqüência (além, é claro, de encher o saco do coitado que lê/escuta), que não servem pra absolutamente nada, é só a mania de reclamar. em contrapartida, há as reclamações que podem se transformar em melhora, há quem chame isso de “feedback” — “reclamar” na hora certa, para a pessoa certa, possibilitando uma mudança (positiva, espera-se).

conversava sobre isso na semana passada com meu primo, que mora agora em bilbao. ele me contou que tinha dificuldade de trabalhar aqui no brasil, pois em todos os lugares tem sempre aquele clima de fofoca, inveja e diz-que-diz. lá, me contou, não tem isso não: é tudo ali, na lata, sem frescura. ele se sentiu intimidado no início, mas percebeu que a parte podre não ficava escondida, que o ambiente era mais “limpo”.

bingo! é assim que funciona o reclamão-inútil: ele não quer resolver problemas, mas reclamar. por isso não toma iniciativa, a idéia é só colocar pra fora o que o incomoda, como uma criança mimada. todos os reclamões-inúteis querem tudo mastigadinho e devem ser filhos dos “pais-patrões”, aqueles que são durões, corretinhos e provedores. dão tudo da boquinha para os filhos gorduchos e rosados — quem faz coisas mesmo é a empregada ou a pobre da mãe. são aqueles papais que brigam com os vizinhos defendendo seus educadíssimos pimpolhos e xingam professores que reprovam seus gênios na escola.

pois os pimpolhos crescem, transformando-se nos reclamões-inúteis. eles se comportam como se os vizinhos, amigos, maridos, esposas e humanidade em geral devessem servir a eles, continuar provendo, como o papai. não fazem nada, só exigem. tomar ações não faz parte do seu repertório, são mais ou menos como deus: “fiat lux” e que a luz se faça, caramba!

essa gente é um saco. detesto reclamação por reclamação, sem fazer nada pra melhorar. não só acredito como pratico no dia a dia a reclamação-ativa: vamos melhorar, por favor! essa cadeira tá fora do lugar? ou alguém tira ou tiro eu. ficar reclamando de cadeira no caminho, passando por cima dela todo dia? tou fora. reclamar de político e não votar nem fazer nada pra melhorar sua comunidade? tou fora. falar mal do colega de trabalho ou da amiga pra todo mundo, menos pros envolvidos em questão? TOU FORA.

eu, afinal, não nego minhas origens: sou filha de pai-operário, que me ensinou sempre a fazer e não a reclamar. cada vez mais admiro os que agem — errando ou acertando — mais do que os que só falam.

0 comments to “reclamando da reclamação”
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  1. guto, engraçado você dizer isso, porque à primeira vista pode parecer uma reclamação do tipo inútil 🙂 mas no fundo eu sou uma catequizadora e queria muito que as pessoas reclamonas-inúteis que lessem isso mudassem… espero que surta efeito com alguém 🙂

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