cruising together

um lindo dia de sol depois de muito sono e saudade antecipada; ele me abraça e beija como sempre, mas é especial: a distância é novidade, e eu o procuro dentro de mim. guardo pedaços do brilho dos cabelos, a pele e o sorriso, queria levar seu coração comigo (i carry your heart with me).

atrasamos o até logo por mais alguns segundos, mãos e dedos desligando-se lentamente, como nos filmes — não que o tempo tivesse parado, mas os segundos fixam como purpurina, demoram dias a sair. caminhei decidida, por vício, e quando olhei ele não olhava; enquanto eu andava, tenho certeza que ele olhava (a vida é mais desencontrada que os filmes). sorri para as hélices e para a moça bonita de uniforme. subi.

já odiei viagens e aeroportos, mas não dessa vez. sentei na poltrona, sozinha, e o procurei pela janelinha: estava lá, com a cabeça encostada no batente, olhando pra mim além do aço e do vidro. ele me via sem me ver, calculando a janelinha. fiz um aceno tímido e sorri pelo vidrinho, mesmo sabendo que ele não veria. senti um calor gostoso, vindo de dentro, como banhos quentes no frio ou um abraço de amor. fiquei namorando meu namorado, à distância, e ele se foi devagar.

observei espantada a paisagem verde, o céu claro, as nuvens de algodão (como é lindo passar por dentro delas!), redescobri o milagre de voar graças ao amor que não despachei ali no saguão. vi estradas, gentinhas e carrinhos como um playmobil, ri pra mim mesma, incrédula: estou voando!

mais baixo, eu brincava de ler placas e outdoors, de reconhecer carros e prédios — quase li as placas da rua (milagres de congonhas). descobri que a cidade é cheia de helipontos coloridos (onde estão os helicópteros?). não comi nada pois a fome não veio, mas guardei o chocolate (minha mãe comeu e adorou); desci com a bolsinha rosa, uma malinha, o notebook e cheia de felicidade. com surpresa, percebi que de fato trouxera o amor comigo, dei-me um discreto abraço apertado (boas vindas!).

ele depois contou que não foi embora, só mudou de lugar, pra que eu o visse melhor. ficou ali olhando, até o avião sumir, só um pontinho no céu. por isso cheguei acompanhada: carreguei seu coração comigo, sim, mas deixei o meu por lá. ele se foi com o meu, abraçadinho, eu passeei com o dele no céu.

amanhã ele volta, e destrocamos.

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