eu passei por lá, hoje, e meu coração ficou minúsculo como um ratinho. às vezes esqueço que lembranças são mais que imagens, sons ou cheiros, são emoções que vêm como tempestade e de repente estou em pandarecos.
sabia
gosto de você chegar assim
arrancando páginas dentro de mim…
… e os chás de camomila, tentando me despertar de um sonho ruim.
foram dias de chuva eterna, na minha lembrança. desamor, madrugadas de trabalho e decepção, o chão que faltava e até a casa que não tinha água. minhas crianças longe, as referências perdidas. procurava amor e encontrava indiferença, eu não sabia mais o que esperar. como a mulher do búfalo, queria encontrar o ódio, mas ele nunca vem. cavei fundo e, como ela, só encontrei espanto e esperança. como teria sido fácil odiar.
já que você não está aqui
o que posso fazer
é cuidar de mim
quero ser feliz ao menos
lembra que o plano era ficarmos bem?
caminhei muitas ruas, de noite e de dia, com lágrimas escorrendo pelo rosto. gosto quando elas se derramam pelo meu colo e se encontram entre os peitos. é algo místico, como a mais pura representação da dor que às vezes significa ser mulher.
vejo a mim mesma, cabisbaixa, subindo em direção à rua harmonia (ironia das ironias) e sinto ganas de correr até o passado, abraçar a mim mesma com força, dizer que tudo passa, sim. é claro que eu não acreditaria, mas faria a lembrança de hoje ser menos doída.
quando relembro, revivo. deve ser uma certa vocação ou gosto de sofrer por amor. nunca encontrei o búfalo.
Se você soubesse o quanto eu quis, àquele tempo, te abraçar forte e dizer que tudo passaria. Mas eu não sabia dizer como, nem quando, nem porquê — nem sei se sabia. Talvez porque não fosse meu papel dizer, mas estar. Talvez porque não fosse teu papel saber, mas ser.
Você é hoje a flor desabrochada de uma semente dura, meu amor. Teu amor é o fruto maduro de invernos passados. E os ecos da tua dor, marcas do tempo; quem não as tem?
Beijo!