O mundo tá melhorando, mas tem hora que é puxado.
Tou indo pra Raleigh, a trabalho, e peguei um Uber pro aeroporto. Fiquei curiosa com o idioma do GPS do motorista, perguntei o que era — russo. Ele é do Uzbequistão.
Está nos USA há 1 ano, com sua família (4 filhos), diz que ganhou na loteria do Greencard (não sei o que é, mas suponho que você se inscreva e tenha sorteio). Me disse que acha Pittsburgh uma cidade muito bonita, mas quer se mudar para a Carolina do Norte (pra onde estou indo agora) porque a taxa de crime é menor e lá não tem “propaganda LGBT”.
Segue me dizendo que, como Muçulmano, não quer os filhos expostos a isso. E que no novo estado as escolas ensinam religião. E eu: “qual religião? A sua, ou o cristianismo?”. E ele, bem tranquilo, “o cristianismo!”. “Eu quero viver em um estado conservador, republicano.”
Me pergunta o que acho sobre o Cheetos-man, e eu sucintamente digo que ele não me parece bem da cabeça, nem apto para ser presidente. Ele ri, sem graça, e muda de assunto.
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Entendo pessoas conservadoras, tenho até amigos que são. O que não entendo é a cegueira — ser estrangeiro e muçulmano aqui não é exatamente um passeio no parque. Assim como ser latino ou qualquer coisa que não seja lida como branco/cristão. E ainda assim, mesmo estando na categoria de minoria, há quem se alie aos donos da bola, e ache o jogo justo.
Saber quem se é, e colocar-se no devido lugar não significa se acomodar e aceitar; é antes entender como você é visto, e brigar pra que os horizontes se ampliem. Não só pra você, como indivíduo, mas para TODOS.
Em mês de orgulho LGBTQIAPN+ esse pequeno encontro me lembra da importância de lutar por todos, e não só por mim. Eu tou de boa, com a vida tranquila. Nem por isso eu me acomodo. Continuo fazendo tudo que posso pro mundo melhorar.
Detalhe: pulseira mega pride no braço. Ele que lute.