Lavoisier
A primeira vez, a paixonite se transformou numa estranha saudade de algo-que-foi-sem-nunca-ter-sido. Como ainda lembro daquele beijo.
Na segunda, demorou tanto, mas tanto, que eu até achei que ia ser para sempre. Mas mudou. Sabe aqueles potes de mel no formato de um ursinho, de plástico? Eu adorava aquilo. E o mel-grande-amor-para-toda-vida foi embora, só sobrou o ursinho, que foi colocado numa gaveta, com cuidado e carinho, porque ele mal se agüentava em pé. Claro, os telefones ainda estão atualizados, de vez em quando rola um sushi e muuuita falação, e a invariável lavagem de roupa suja, versão light, favores aqui e ali, um puxa, a gente tinha que sair para conversar mais vezes, né?.
Ah, a coisa foi visceral, na terceira vez. Arrancada a dentadas. Mas ainda ficou, como alguns meses mais tarde viemos a perceber. E ela foi a que menos se transformou, não houve reação química capaz de transformar a loucura passional em convivência pacífica. Então a raposa despreza as uvas verdes, os caminhos miraculosamente não se cruzam, um só ouve falar do outro. Triste, mas preferível à insanidade.
A quarta vez me pegou de surpresa. Mudaram as regras no meio do jogo, não se deram o trabalho de me avisar. Perdi o chão, e com ele, o respeito, a admiração, tudo. O tombo foi dolorido. Quando levantei, o que sobrou foi um ?teve sua função, humpf?, aliado com o desprezo metálico de quem se sente injustiçada.
Na quinta vez, era mais que gostar. Era uma vontade de dar colo, de levar pela mão, dizer que vai ficar tudo bem. Ih, cadê a paixão? Moral da história: até hoje não consigo resistir à vontade de dar bronca quando ele me conta que fez caquinha.
Sexta vez: fui com a maré, vida leva eu, mas a coisa tomou proporções que eu não imaginava. E quando acabou, porque a maré sempre recua, deixou na boca um gosto de ?ainda vou rir com essa história toda?. Não deu outra.
A sétima vez aconteceu porque mandei meu superego dar um passeio e ele demorou a voltar. A afinidade virou magnetismo, que por sua vez reluta, mas voltará a ser só afinidade nem que seja no tapa.
A oitava... Bem, a oitava ainda não aconteceu. Nem vai acontecer, dessa vez não, seremos felizes para sempre, vocês vão ver. Os apaixonados jamais vêem o fim.
Nada se perde, tudo se transforma. E uma vez dentro do meu coração, ninguém sai.
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