fabricando

sobre a transmissão de preconceitos

March 18, 2010 · 19 Comments

uma das coisas que mais me preocupam quanto a ser mãe é como evitar (ou minimizar) passar pro meu filho meus preconceitos, limitações e crenças. pode parecer estranho pra alguns eu não querer transmitir crenças, mas eu quero passar pro meu filho somente valores e conceitos/fatos. quero que ele decida por conta própria, quando chegar a hora, no que acredita e do que gosta. quero ajudá-lo a decidir por si mesmo, sem influência excessiva da minha parte.

imagino que não seja simples, porque mesmo sem querer às vezes somos tirânicos e achamos que nosso jeito é o certo, e pronto. mas faço questão de tentar!

outro dia conversei com o fer sobre papai noel, coelho da páscoa e deus (assuntos correlatos, na nossa opinião :)). por um lado é muito bonitinho as crianças acreditarem em papai noel e coelhinho, mas os pais não se incomodam de mentir pros seus filhos? ou esses 2 assuntos já nem são considerados mais mentiras?

pra nós, é mentira e ponto final, e não me agrada a idéia de mentir pra criança e depois desmentir em algum momento. não que eu tenha medo de traumatizar a criança, de forma nenhuma, a questão é mais comigo que com ela. mas ao mesmo tempo, já pensaram numa criança que não crê em papai noel e coelhinho da páscoa convivendo com as demais, que acreditam? nosso filho vai ser o anticristo da escolinha, vai destruir os sonhos das outras criancinhas expondo a verdade que seus pais ateus sem alma contaram pra ele 🙂 brincadeiras à parte, não quero também que meu filho seja o esquisito que não acredita em coelhinho. é complicado…

deus é mais complexo ainda. somos ambos ateus, eu um pouco mais flexível que ele. embora eu não creia em deus, santos, nenhuma religião, espíritos, alma e etc. acho que pode ser que exista algo que eu não entendi ainda. não me incomodaria de mudar de idéia. o fer é ateu convicto sem frestas – nascemos, vivemos e morremos, because.

o que responder pra uma criança a esse respeito, quando as perguntas vierem? meu instinto é explicar exatamente o que eu acredito (ou deixo de acreditar) mas esclarecer que há outras pessoas que pensam diferente, que todos tem o direito de investigar e escolher suas próprias crenças. não quero que meu filho seja ateu simplesmente porque eu sou. quero que ele cresça autoconfiante o suficiente pra ser budista ou hare-krishna, se quiser.

essa questão de possibilitar escolhas me incomoda e preocupa bastante na educação das crianças e também na convivência entre adultos. as pessoas fecham portas o tempo todo, restringem suas possibilidades, e por consequência fazem o mesmo com seus filhos.

dou um exemplo bem concreto: uma das minhas tias foi macrobiótica por muitos anos, incluindo o período em que engravidou e teve seu filho. o menino foi submetido às mesmas regras que ela impôs a si mesma, por que era assim que ela considerava correto. o menino passou anos não só sem comer uma série de alimentos, mas sem ter a opção de sequer tentar. dentro da crença e opção dela, algumas coisas eram ruins ou inadequadas.

o que aconteceu na prática é que ele “incorporou” as restrições dela como se fossem dele. ela nunca deu a ele a oportunidade de experimentar outras coisas, independente do gosto ou opinião dela. ela não podia/queria comer carne, por exemplo, mas quem disse que ele não gostaria ou não quereria? depois de um tempo ele começou a repetir o discurso dela, de que carne (coca-cola, ou seja lá o que fosse) era ruim, mas a opinião dele não era baseada na experiência e sim na repetição. virou papagaio da mãe e não teve oportunidade de aprender e decidir por si o que gostava ou não até pelo menos uns 10 anos de idade.

acho isso triste. de certa forma entendo os pais quererem impor algumas coisas, pois se sua crença é forte e real, eles querem para o seu filho somente o que acreditam ser o melhor. mas quanto equívoco se comete em nome de fazer o certo e o melhor? o quanto dessa abordagem doutrinária não transforma crianças em réplicas dos nossos defeitos e limitações?

(felizmente existe a adolescência para garantir que vamos contrariar nossos pais e suas crenças, justamente pra descobrirmos quem somos APESAR deles)

acredito que uma das contribuições mais importantes para a vida de qualquer pessoa (principalmente crianças) é ensiná-las a pensar e decidir por conta própria, sem o peso de idéias pré-concebidas sendo impostas direta ou indiretamente por pessoas que elas admiram. como “modelos”, é claro que devemos dar exemplo e ser quem somos, pra que nossos flhos ou pessoas que nos admiram possam se espelhar em nós se assim quiserem. mas não devemos usar isso como forma de influência descuidada. quando seu filho por exemplo escuta você dizendo algo como “odeio samba, essa música não presta”, a chance dele se interessar por esta modalidade de música diminui, simplesmente porque ele quer ser seu espelho. é justo moldar outra pessoa à sua imagem, limitando as possibilidades de escolha dela só pra agradar você e seu gosto/crença?

submeter as pessoas a novidades, possibilidades de experimentação e tomada de decisão autônoma é essencial. e para que alguém possa aprender a decidir e entender o que lhe serve ou não, é preciso dar a oportunidade de escolha real, sem juízo de valor externo.

nossa, como é difícil esse assunto.

Categories: educação
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19 responses so far ↓

  • Maíra // March 18, 2010 at 1:08 pm |

    Zel, é um assunto para lá de complicado. O Edson acabou mudando um pouquinho meu jeito de pensar sobre essas coisas. Coelhinho da Páscoa, por exemplo. Ficava muito incomodada com a possibilidade de mentir e desmentir e achava muito injusto com a criança. Mas ele me mostrou seus sobrinhos se divertindo horrores seguindo as patas de farinha pela casa da avó atrás dos ovos de Páscoa. A fantasia é parte do mundo infantil. E deixar um tanto da fantasia para trás, quando crescem, pode ser bem natural em vez de traumático, é só não forçar a barra. Vi também que repassar crenças e valores é também um jeito de dar segurança a um filho. Tentar não passar nada, para que ele escolha depois, pode parecer o mais justo, mas pode também passar muita insegurança ao filhote. São opções demais, é preciso dar algum rumo. É só deixar sempre a porta aberta para que ele mude de opinião depois. Santa evolução. Não temos adolescência à toa. rs Mais uma vez, questão de não forçar a barra. Um equilíbrio difícil, é claro. Mas seguimos tentando, né? beijos

  • Teca // March 18, 2010 at 1:28 pm |

    Também acho difícil, mesmo. Me pego pensando nisso vira e mexe, nesses limites. Me irrito quando vejo o Uli repetindo um hábito meu que não acho legal pra ele, porque eles são esponjas. Às vezes só percebo coisas minhas na “imitação” dele. A maternidade e paternidade nos transformam não apenas pela experiência, mas também porque fica cada vez mais claro que nossa conduta, hábitos e pensamentos são espelho e modelo para eles. Ser um “modelo” legal implica em ser legal. As conseqüências são profundas, porque não dá pra “bancar” a bacana meio período.

    Quanto às crenças, bem… Acho elas formam muito do que somos, assim como os medos, os desejos, as fraquezas. E é bem difícil lidar com o que não queremos que vire regra tácita. Por exemplo, tenho medo de sapo e avião. Faço a maior força pra que o Uli não passe a ter medo porque vê meu receio. Outro dia fomos olhar um sapo “de pertinho”, ele tava curtindo muito, e eu me segurei (aaargh!) pra não fechar essa porta pra ele. Penso que é como a alimentação – quanto mais coisa for oferecida, mais chance tem dele comer de tudo. Mas é claro que o que papai e mamãe comem com gosto sempre é mais atraente.

    Em relação ao papai noel, coelhinho e companhia, não vejo como mentira, mas como uma fantasia, uma alegoria, um jeito de personificar e organizar emocionalmente um monte de coisas – acho que os mitos cumprem um papel importante nas nossas vidas, não apenas na infância. Em geral, essas alegorias são “reais” pra eles até a idade em que conseguem lidar com a alternância entre o concreto e o abstrato. Quando tem estofo mental/emocional/crítico pra elaborar pensamentos e sentimentos abstratos, “descobrem” a verdade sobre elas. E aprendem a lidar com a esfera simbólica de um jeito mais próximo do nosso. Mas acho que o olhar sobre isso ( como tudo o mais, na verdade) é direito soberano dos pais e ponto final.

    Pra mim, pensar o desafio delicioso da maternidade inclui, antes de mais nada: flexibilidade e verdade nos seus princípios. O resto a gente aprende ou erra fazendo!

    Beijos de boa sorte pra nós todos, rs.

  • zel // March 18, 2010 at 2:21 pm |

    que comentários legais, meninas! obrigada 🙂 acho que esse viés da fantasia me ajuda com a questão da mentira (que me incomoda muito). gostei!

  • Maíra // March 18, 2010 at 2:59 pm |

    Ah, também em relação à mentira, é só pensar no pai do Calvin, que não tem pudores em inventar histórias mirabolantes para responder as perguntas malucas do Calvin e explicar o que, na verdade, ele não tem a menor idéia da resposta. hahah A gente aqui já até planeja algumas dessas mentirinhas para criar um filhote maluquinho rs

  • Cam Seslaf // March 18, 2010 at 4:10 pm |

    Essa é uma das partes mais difíceis para mim também. Tenho longos debates comigo mesma a respeito de escolhas e “transmissões” rs. Concordo com as meninas que disseram que fantasia é importante. Aqui em casa trabalhamos com o Papai Noel, mas recente simpósio conjugal determinou que o Coelhinho da Páscoa não é tão importante, então não faremos maiores firulas com o personagem. Vai rolar um ovinho de chocolate, ela dará outros para algumas pessoas e está de bom tamanho.

    Mas aí, pensando bem, já sou eu espelhando minhas experiências. Lá em casa o Coelho nunca foi big deal, portanto… É difícil, Zel, e está só começando. ;D

  • Luciana // March 18, 2010 at 10:35 pm |

    Oi Zel,

    Eu e a minha prima Lú (tb) batemos ponto no site da Denize já faz um tempo e de lá ouvi mt falar em vc, mas como a minha prima sempre frequentou o seu tb, ela me contou da sua gravidez e eu vim checar.

    Qd eu li sobre a sua forma de encarar essa nova experiência eu fiquei absolutamente encantada, pq pra mim a maternidade é um assunto ainda mt delicado.

    Apesar de ter 10 anos menos que vc, as pressões pro meu lado são barra, mas já foram piores e depois de tanta patada pro povo me deixar em paz, tá … melhorzinho .. hehe Digo patada, pq eu não conseguia explicar o pq eu não queria saber de ter filhos.

    Tenho acompanhado diariamente (mesmo sabendo que vc não escreve diariamente … hehe) ávida por mais e novas formas de pensar. Talvez pra respaldar as minhas próprias opiniões, talvez pra não me sentir tão ET com certas questões mais polêmicas …

    Esse post de hj foi mt tocante pra mim, pq foi justamente o meu insight da terapia na semana passada (!!!): que talvez não quisesse ter filhos por medo de ter um espelho do qual não posso fingir que não vejo e creio que tenho tantas limitações, preconceitos e crenças tb, que eu não gostaria de repassa-las aos piolhos (tb sempre chamei qq criança de piolho … mt engraçado). Admitir que sou cheia de preconceitos e inflexível foi jogo duro … mas como eu posso ter filhos se eu não consigo ser 100% honesta nem comigo mesmo ???

    Foi mt dificil pra mim enxergar isso e está sendo igualmente dificil pensar sobre o assunto. Ter ou não ter … eis a questã ! Simplesmente não quero ter filhos por ter …

    Anyway, estou adorando essa abordagem que vc está dando para a gravidez e amo cada vez mais essa linha de pensamento mais “racional” pq consigo me ver nas mesmas ou mt próximas, questões. Pq realmente, fabricar pessoas é uma coisa mt estranha !! haha

    Desculpe se ficou mt longo … ;*)

    Beijo

  • Roberta // March 19, 2010 at 12:14 am |

    Oi, Zel,

    Conheci seu blog agora e gostei muito do que você escreve. Especialmente sobre a questão do nosso poder de escolha. Acho que todas as mães se cobram demais e sempre nossas escolhas vêm carregadas de algum peso. Talvez quando aprendermos a lidar melhor com isso fiquemos um pouco mais leves.

    Engraçado que você ainda está grávida mas já fala como se fosse uma mãe experiente.

    Tenho um blog sobre maternidade também e adoro essas discussões. Se um dia tiver tempo de passar por lá, será muito benvinda. Eu tenho uma filha de 2 anos e 7 meses e estou grávida de 17 semanas de outra menina.

    Beijos e boa sorte na sua gravidez. Vou passar sempre por aqui.

    Bjs,

    Roberta

    http://www.meuprojetinhodevida.blogspot.com

  • Suellen // March 19, 2010 at 12:21 pm |

    Zel, adorei suas observações. Acho que são essas preocupações as mais importantes para a educação de um filho. Mas escrevo mesmo para compartilhar a minha experiência. Minha mãe e meu pai nunca me deixaram acreditar em papai noel ou coelhinho da páscoa. Sempre me explicaram que quem comprava o ovo de páscoa ou trazia o presente de natal era meu pai. E eu nunca fui triste por isso. Sempre olhei para estes personagens como simples personagens que representam uma simbologia. E há alguns dias atrás, aos 28 anos, fui descobrir o motivo: minha mãe quando criança era bem pobre, e ela acreditava em papai noel, coelhinho e tudo o mais, mas eles nunca levavam nada… Isso me fez chorar, e entender a escolha dela na minha educação e na da minha irmã. E eu sou muito grata, porque acho que a criança tem perfeitas condições de entender a simbologia do personagem sem deixar de se encantar por eles.

    Eu não sofri por essa escolha, mas minha mãe sim. Aos 6 anos contei pra uma coleguinha que o Coelhinho não existia, e ela ficou acordada esperando o pai entrar no quarto, e daí deu o flagra nele. Nem preciso dizer que a mãe da menina foi tirar satisfações com a minha mãe, porque no momento do flagra a menina gritou: “ahã, bem que a Suellen falou que não tinha Coelhinho coisa nenhuma!” rsrs

    Um beijo.

  • Cleunice Rocha // March 19, 2010 at 2:38 pm |

    Olá Zel,

    Me senti exatamente como você em relação ao papai-noel e também tinha a consciência de que a coisa era mais comigo mesma, mentiras e tal. Nunca consegui fingir que acreditava e/ou levar a minha filhota a acreditar nesses personagens. Nunca consegui fazer de conta que tinham passado e deixado presentes. O que aconteceu é que ela foi meio que absorvendo tudo isso como brincadeira, lenda e história. E numa noite de natal, junto a outras crianças crentes do papai-noel e diante da encenação do sininho tocando e papai-noel chegando, ela foi feliz correndo pra cá e pra lá, claramente “brincando de acreditar” e já consciente de que havia crianças que acreditavam assim, mais seriamente. Bom, para ela deu certo (aliás, para nós, hehe)hoje é uma moça bárbara (com imaginação e criatividade férteis) de 25 anos. E ela me diz também achar que dificilmente vai conseguir incutir esse tipo de crença nos filhos que porventura tiver.

    Quanto a Deus, Deuses… sempre disse o que eu sentia (e esclarecendo que era o que eu sentia): saber, sabeeeeeeeeer… ninguém sabe. Eu dizia: ó, eu acho que alguma coisa continua e tal… mas na verdade ninguém sabe o que acontece. São oportunidade interessantes também para passar (de leve, né) algum conhecimento cultural e histórico.

    Por fim, jurar que existe, assim como jurar que não existe é uma questão de fé, não é?

    Eu sempre apostei no “só sei que nada sei”.

    Beijos e boa sorte

  • Cleunice Rocha // March 19, 2010 at 2:41 pm |

    CORREÇÃO:… são oportunidadeS, claro

  • Cynthia // March 19, 2010 at 5:01 pm |

    Zel, não esquenta com essa história de o Hugolauro ser o único ateu desmancha prazeres da turminha, não.

    Na casa dos meus pais a regra era “não mentir”, então a gente sempre soube que papai noel era invenção de moda e agradecia a quem havia dado os presentes. na páscoa não tinha coelhinho, só muito chocolate e piadas de coelho botando ovo(?) de chocolate(?). era divertido, não foi nada traumático nem ruim. a sensação era de que eles estavam sendo sinceros, sem querer fazer hora com a cara da gente só por sermos crianças.

    a única saia justa foi no jardim de infância: eu cheguei em casa falando que minha mãe estava errada, que a “tia” da escola tinha falado que papai noel existia, etc e tal. Minha mãe foi na escola, conversou com a professora, e o resultado foi a “tia” me chamando num cantinho pra dizer que realmente papai noel não existia e que ela estava enganando meus coleguinhas. mico.

    quanto a religião, fui criada com total liberdade. acabei optando por nenhuma; já minha irmã se tornou católica depois dos 18. exceto na escola, o povo estranhava um pouco, mas ficava por isso mesmo. A única coisa que sugiro é que não coloque a criança pra estudar em escola religiosa (meus pais fizeram isso, e deu muuuito errado pra mim – se quiser, conto os detalhes em pvt) porque os colegas fanáticos religiosos são piores do que a religião em si. Meus amigos ateus/agnósticos que estudaram em escolas laicas não tiveram problemas.

    Resumindo: não esquenta com essa padronização infantil. tem espaço pra todos os tipos de educação, o importante é deixar espaço aberto pro Hugolauro escolher os próprios caminhos 😉

  • Elaine // March 21, 2010 at 10:56 am |

    Oi Zel!

    Parabéns pelo blog, estou adorando as postagens e os comentários também, faz tempo que não vejo um blog tão bacana e tão bem frequentado.

    Gostaria de saber sua opinião sobre a vacina da gripe H1N1, vc já tomou, vai tomar?

    Estou no início da gravidez, mas estou com receio da nova vacina, gostaria de saber sua opinião, você é tão bem informada.

    Um grande abraço!

  • Glau // March 21, 2010 at 2:26 pm |

    Oi, Zel!

    esse era um dos temas que mais me inquietava quando eu estava na primeira gravidez: as tradições sociais ou familiares, principalmente porque na nossa pequena família, a multiculturalidade brasuca-ítalo-helvética complica tudo. Em casa nunca fomos crescidos para acreditar em contos da carochinha, papai noel, coelhinho e qualquer coisa que fosse inventada ou estimulada pelo mundo capitalista. E a religião também foi dada como item do livre arbítrio. E vou falar, a verdade, acho que a minha infância foi recheada de brilhos, expectativas, fantasias. Foi tudo bem real, sem mentiras, até meio cru demais. Com as meninas eu aprendi que a fantasia é algo essencial para a vida do ser humano, principalmente na primeira infância. Nos dá equilibrio para viver o real, o cru. O lance é que bem dosada, a fantasia será sempre vista como fantasia e algo incrivelmente doce e interessante, ali ao nosso alcance.

    Beijo grande, que nós estamos aqui a todo vapor, criando decorações para esperar “o coelhinho da páscoa tímido que nunca aparece”. 🙂

    glau

  • Camile // March 25, 2010 at 10:34 am |

    Oi, Zel!

    Eu também sempre tive/tenho essas mesmas dúvidas. Nunca menti para minhas filhas (tenho uma de 7 e outra de 2 anos). Aliás, menti sim, sobre Papai Noel e Coelhinho. E isso sempre me deixou meio estranha. Agora que já caiu a ficha da mais velha sobre esses assuntos parece que me sinto aliviada. Mas realmente é muito difícil passar nossos valores sem obrigar os filhos a pensarem igual, afinal é conosco que devem conhecer e aprender a maioria das coisas, penso assim, e pelo que li você também. Quando a minha filha mais velha tinha uns 4 anos viu uma cruz com o cristo na parede de uma casa que alugamos na praia e me perguntou: O que é “aquilo”? Expliquei a ela rapidamente seu significado, com o pouco conhecimento que tenho (embora tenha sido criada na religião católica). Mas esse fato me fez perceber que realmente temos que ficar atentos para que as nossas verdades não se tornem absolutas. Outro dia me perguntou se existiam espíritos, eu disse que EU não acreditava com a máxima ênfase que pude dar ao EU. Mas, falei que outras pessoas acreditavam, etc. Depois de muita conversa sobre, ela me disse: “é, acho que eu também não acredito…”. Nossa, é difícil ser mãe e pai, mas ao mesmo tempo é bom demais poder ensinar/dar possibilidades aos nossos filhos.

    Um beijo

    Camile

  • Anonymous // March 26, 2010 at 12:28 am |

    Zel,

    Eu sempre deixei acontecer, quando a minha filha era bebê, tinha medo de papai noel. Qdo tinha 3 anos, levou a chupeta, como todos os amiguinhos, prá dar pro papai noel na escola (e nunca mais chupou chupeta). Acredito mais no lance da fantasia, ela sempre adorou fadas, desenhos etc…Hoje ela tem 7 anos e no natal passado fizemos o maior esquema (só por diversão mesmo) para por um presente na árvore sem ela ver, com cartão de papai noel. Quando ela abriu o presente (uma mala de viagem da Hello Kitty ) ela falou: -Olha mãe,esse presente do papai noel, na etiqueta está escrito que pode trocar em até 30 dias no Shopping Ibirapuera. E olhou prá gente com uma cara marota de quem descobriu a farsa do mundo.

    Coelhinho da Páscoa nunca foi muito presente, ela escolhe os ovos junto comigo.

    Sobre religião, digo que sou Tudista, acredito em algumas coisas de algumas religiões (tipo que vc deve fazer o bem sempre e respeitar todas as pessoas e animais) e gosto do Zen budismo e meditação. Mas quando a minha sogra faleceu (e era uma avó super presente e querida) dissemos que ela foi morar com o Papai do Céu,e que virou uma estrela no céu, pois isso, de certa maneira consola. Não sei se estou agindo corretamente, mas está dando certo e ela é uma criança maravilhosa. Agora ela diz que vai brincar de ser o papai noel do irmão de 1 ano…

  • Irene // March 26, 2010 at 2:04 am |

    Acabei de deixar um comentário e esqueci de colocar o nome…bem, fui eu 🙂

  • Deh // March 26, 2010 at 3:16 am |

    Zel,

    Mãe mente. Mente descaradamente, mente por necessidade, por medo, por um zilhão de razões e duvido de mãe que jamais tenha mentido para um filho. Eu também achava (e batia no peito) que não ia mentir pra Clarice, mas na primeira vez que ela escapou da mão e saiu correndo na garagem do prédio, eu gritei “não corre que o bicho vai te pegar!”, sem nem pensar direito. Ela parou, eu suspirei aliviada. Eu minto quando digo que rodela de tomate é rodinha de caminhão ou pedaço de lua vermelha, que tem festa na barriga quando ela come o prato todo (e escuto até a música tocando pelo seu umbigo), que escada rolante engole pé de criança que não acompanha a mamãe no degrau, que brócolis é uma árvore mágica e que se ficarmos bem juntas, não vamos sentir medo quando acaba a luz. (tenho muito medo de escuro e por mais mãe-humana que eu seja, ela não precisa sentir o mesmo).

    Acho que a maternidade nos dá uma liberdade poética que não é propriamente o sentido da mentira do mundo adulto. Enquanto a criança é pequena e não precisa saber das dores do mundo, das verdades cruas, a fantasia é livre, e de alguma forma, nos liberta também. Ter um bebê/criança em casa é um passaporte pra infância (por mais óbvio que isso seja). Pras coisas coloridas, pra mão suja de tinta, pras histórias mais simples e inventadas, pras músicas improvisadas no desespero de um momento de choro descontrol, pros momentos plenos de tempo presente, sem muito passado ou futuro. Sem compromisso exagerado com nada. Eu acredito em Papai Noel no Natal com a Clarice, mesmo que eu e ela saibamos (ela não é tonta) que ele não existe, e sabe-se lá por que, isso faz sentido. O mesmo se aplica pra coelhinho da páscoa, para papais do céu, para bichos na garagem, para medo do escuro, para árvores que crescem na barriga (desde quando percebi que engolir sementes inteiras é um perigo), para tudo que proteja ou acolha, mesmo que seja fantasia e brincadeira.

    Ser mãe não nos dá licença pra mentir, eu sei, mas me dou esse direito para as coisas encantadas (ou protetoras), que iluminam olhinhos num passe de mágica. E olhinhos iluminados derrubam qualquer verdade absoluta, Zel. Principalmente as minhas.

    Beijo!

    Deh

  • Clarice // April 20, 2010 at 7:10 pm |

    O post é meio velho mas eu quis dar pitaco, porque nunca na vida acreditei em papai noel ou coelhinho da páscoa. A gente sempre comemorou Natal na véspera, dia 24, e era quando trocávamos presentes. Coelhinho da páscoa então, nem se fala. Nem sabia que as crianças acreditavam nisso, juro. Enfim, como outros depoimentos, não tive nenhum trauma e não estraguei a vida de nenhum coleguinha. Muitos muitos anos depois quase que eu estragava a magia do filho de uma amiga. Achava que criança que acreditava em papai noel era coisa de filme hahaha

    Quando a Deus ou religião, aí já foi diferente. Fui batizada ainda bebê, fiz primeira comunhão quando criança e crisma antes dos 15 anos. E ai de mim se falasse que não queria. Estudei em colégio de freiras, tive aula da catequese, mas nunca rolou lavagem cerebral – inclusive tinha colegas na turma de outras religiões. Na pós-adolescência questionei muito essa coisa de religião, não queria fazer parte de nenhuma. Hoje em dia sou católica, daquelas que não segue tudo, mas tenho minha fé. Mas foi uma escolha minha. Acho que foi quando eu percebi que queria casar na igreja 😛

    Eu não quero ter filhos (olha eu indo contra a religião), não penso sobre esses dilemas da criação, mas quando reflito sobre a criação que eu e minhas irmãs tivemos, vejo que talvez a coisa não seja tão complexa (ou hoje em dia que tão complicando tudo). E acho meio inevitável passar um pouco dos próprios valores pros filhos, mas taí, acho que tu encontrou a utilidade da adolescência hahaha

  • ferdi // April 24, 2010 at 7:32 pm |

    Lindo o post e mais lindo ainda o comentário da Deh.

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