entrando no oitavo mês esta semana, e ainda não passou a sensação de carregar um alien na barriga, admito. e quanto mais a criatura cresce e se remexe, mais estranho fica. antes era uma sensação de “peixe vivo”, depois os chutes e cambalhotas, agora parece que o serzinho que sair, empurra, dá quase pra ver se é um pé, mão, cabeça ou cotovelo. scary 🙂
o fer tá já surtado, contando os dias pro menino nascer. eu estou aos poucos me acostumando com a idéia de ter mais um ser aqui em casa. confesso que a idéia me apavora. como será nossa vida com ele? nós dois que estamos tão acostumados um com o outro, com nossa rotina. além da apreensão de ter nova companhia, vem uma nostalgia antecipada de não ser mais o centro das atenções, admito sem nenhum pudor. acho que esses foram os meses mais gostosos da minha vida, deste ponto de vista. nunca me senti tão mimada, cheia de carinhos e cuidados. vai ser uma transição difícil, principalmente porque vai virar de cabeça pra baixo: após o parto, toda a atenção vai pra ele, o menino que mora dentro de mim agora.
uma parte de mim quer que ele vá ficando, sabe? não dá nenhum trabalho, e uma boa parte do amor que direcionam pra ele eu posso aproveitar. as semanas passam, e eu só consigo pensar nele fora da barriga em sonhos. parece que meu inconsciente está mais preparado para o depois que meu consciente 🙂
eu sei que o parto vai ser um divisor de águas, e até por isso continuo torcendo pra que seja natural, que eu possa passar por todas as etapas sem nenhuma pressa. sinto que esse processo de separação gradual não é importante só fisicamente, mas também emocionalmente. todo o protocolo de separação dos nossos corpos, por fases, com nosso esforço conjunto, vai me ajudar também a dar boas-vindas, e principalmente ceder espaço pra mais um nessa vida tão auto-centrada de só nós dois. acertadamente dizem que ao nascer uma criança nascem também o pai e a mãe ao mesmo tempo. nós 2 ainda não existimos como pai e mãe, é ainda o vir-a-ser. junto com o otto, nasceremos nós dois de novo, em novos papéis.
me pergunto como será nosso casamento depois do nascimento dele. temos um casamento muito bom, cheio de carinho físico e emocional, somos mesmo grudados. adoramos a presença um do outro, somos amigos, gostamos de morar juntos, dividir. ficamos horas juntos sem dizer nada, fazendo a mesma coisa ou não. compartilhamos muito o silêncio, rimos das mesmas piadas idiotas, desarrumamos nossa não-rotina. não fazemos programas de “família”, é muito incomum. assumimos depois de um tempo que nenhum de nós de fato gosta de programas familiares, e simplesmente declinamos, sem dramas. preferimos nossa própria companhia ou escolhemos cuidadosamente aqueles poucos amigos pra estar conosco.
é assustador pensar que teremos muito menos tempo sozinhos em pouco tempo. sabemos que haverá um laço novo e forte relacionado ao nosso filho, não temos dúvida disso. mas e os demais laços, como ficam? e os inevitáveis desacordos sobre como criar filhos, o cansaço, o saco cheio, a falta de tempo pra nós mesmos?
não tenho dúvidas que é possível superar tudo isso, ainda mais depois de 6 anos de casados e com muito amor e desejo de estar juntos sempre. nossa admiração mútua, o amor e a amizade vão nos ajudar, é claro. mas não me iludo: não vai ser fácil.
o que me consola e motiva é que passar por essa experiência vai nos tornar pessoas melhores e certamente um casal melhor. não deixo de pensar que é um enorme privilégio ter com quem dividir esse momento tão especial na vida. privilégio não: é mérito mesmo. afinal, tanta gente por aí engravida de qualquer um e depois reclama das dificuldades. nós nos escolhemos, investimos no nosso relacionamento e decidimos juntos que seria legal ter um filho. e estamos juntos no propósito de trazer para o mundo alguém legal ao mesmo tempo que nos tornamos nós mesmos pessoas melhores.
só mais 8 semanas, pessoal, para a mudança radical de estação. estamos ansiosos!