a cam começou bem lá no blog novo, e trouxe um assunto que venho tangenciando há tempos, não como mãe mas como filha (e me tornar mãe vai complicar mais ainda esse caldo!): a construção da auto-estima e a influência dos pais nesse processo.
não li o artigo indicado da rosely sayão (não assino a folha), então não posso opinar, mas tenho algumas contribuições que fazem parte da minha auto-análise. e é claro que tentarei aplicar o que acho mais razoável com meu próprio filho, quando a hora chegar. mencionei um artigo da superinteressante, que a dani achou online, e mencionei também um dos livros mais importantes que li nos últimos anos: a auto-estima do seu filho (linkei um trecho ao invés do livro, que é fácil achar. pedaço interessante pra citar :)).
vou fazer uma mistura das duas referências, porque elas podem parecer contraditórias à primeira vista, mas acho que são na verdade complementares.
algumas coisas do livro são datadas (o capítulo sobre sexualidade eu dispenso), mas a base dele, que trata da construção da auto-estima, é preciosa. os meus 3 anos de terapia foram baseados nas “técnicas” deste livro, e não vai dar pra explicar num post o quanto conceitos tão simples mudaram minha vida. digo que sou outra pessoa depois de entender como minha auto-estima foi prejudicada e também como eu repetia (e repito ainda, é difícil abandonar esse modus operandi herdado dos nossos pais) o mesmo comportamento com os que me cercam. a boa notícia é que tem conserto, e nunca é tarde pra começar a mudar (seja o estrago feito em você, seja seu comportamento com os outros).
a idéia do livro é simples: as pessoas precisam se sentir compreendidas, aceitas e amadas para serem felizes. e isso não significa que devemos aceitar qualquer tipo de comportamento, muito pelo contrário: podemos e devemos mostrar ao outro que às vezes seu comportamento nos magoa, incomoda e machuca e que não queremos ser ofendidos; e da mesma forma, devemos mostrar que outros comportamentos nos deixam felizes. mas é essencial evitar o julgamento, o rótulo. o indivíduo precisa sentir (ou saber) que é valorizado por aqueles que ama e admira principalmente pelo que é, e não só pelo que faz ou demonstra.
cada vez que rotulamos alguém (e esse processo de rotulagem começa quando nascemos, pelos nossos pais e parentes), estamos limitando sua capacidade e percepção de si mesmo. e acho que aí está o link entre o livro e o artigo: sempre pensamos em prejuízo à auto-estima relacionado a críticas e repreensões, mas o elogio também é uma forma de prisão. a expectativa criada quando somos elogiados pode nos restringir também.
vou tentar exemplificar os 2 casos.
caso 1 ou “como fazer alguém se sentir inadequado”:
quantas vezes vocês já viram mães (avós, pais, tios…) dizerem a uma criança algo como “mas a vovó veio até aqui pra te ver e você nem vai dar um beijo? que feio, como você é mal-educado. a vovó também não gosta mais de você, então!”? ou o clássico “você não vai comer essa comida que a mamãe fez com tanto amor? a mamãe vai ficar triste!”. eu aliás escuto coisas neste mesmo tom com 38 anos de idade, e não só de família, mas de amigos também.
o problema aqui é o seguinte: por causa de uma ação ou comportamento (não cumprimentar, não querer comer), o sentimento de amor e aceitação é colocado em jogo. o que diz não é questionado (dizer não = não amar) e o que recebe a recusa usa seu amor como ameaça ou moeda de troca (se você quer ser amado, faça o que eu quero). as frases parecem bobas e inocentes, e afinal, estamos brincando, não é? não, não é. esse tipo de queda de braço que coloca o afeto em jogo destrói a auto-estima do outro, e impede que ele se sinta à vontade para expressar o que verdadeiramente quer. de novo: não significa que as pessoas que se sentiram ofendidas não possam se manifestar, elas podem e devem. mas de outra forma. que tal assim, por exemplo: “que pena que não vou ganhar um beijo! eu estava com saudade e adoraria receber um beijo seu”. no outro caso, que tal “fiz essa comida especialmente pra você, porque fico feliz quando você come as coisas que eu faço”.
vejam que a idéia não é ganhar a briga, mas expressar sentimentos (bons ou ruins) sem julgar o outro ou ameaçá-lo. afinal, tudo o a gente devia querer nos nossos relacionamentos é ser feliz e se possível fazer os outros felizes!
o outro problema do rótulo é que uma vez colocado, há o risco do outro aceitá-lo de vez. você diz que alguém é preguiçoso, mal-educado ou tagarela e pronto: a pessoa se acredita assim e vai fazer de tudo pra se encaixar no rótulo. já cansei de ver crianças repetindo rotulações dos seus pais: “é que eu sou tímido” ou “é que eu não gosto de TV”. é um crime rotular qualquer pessoa, mas é especialmente cruel fazer isso com crianças.
caso 2 ou “como fazer alguém não se aventurar”:
comentários críticos também cabem aqui, claro, mas gosto do ponto do artigo superinteressante sobre o prejuízo que os elogios podem causar. acho que as pessoas äs vezes confundem auto-estima com vaidade. você pode perfeitamente construir (ou não atrapalhar!) a auto-estima do outro sem apelar para a vaidade. e no caso de pais e filhos, esse limite é mesmo tênue, porque elogiar qualidades dos filhos normalmente significa exaltar qualidades dos próprios pais (senão as mesmas, herdadas, a grande qualidade de ter colocado este prodígio no mundo).
é fácil cair na armadilha de elogiar resultados/ações, rotulando as crianças (ou adultos, vale o mesmo) como inteligentes, engraçadas, sociáveis, talentosas ou seja lá o que for. e basta rotular pra que a gente se acomode no papel X, como se inteligência ou graça (pra dar exemplos) fossem dádivas que não demandam esforço ou investimento ou ainda pior: como se não pudéssemos mais fazer menos que o melhor, sob risco de sermos menos amados.
o problema todo (e a solução, na minha opinião!) está em entender que temos medo das pessoas que amamos nos admirarem ou amarem menos em função do que fazemos. porque a verdade é que as pessoas pisam na bola, errar faz parte de ser humano. é claro que tudo o que fazemos afeta os que nos cercam, e é importante que cada indivíduo entenda isso desde pequeno (ação/reação). o que realmente faz com que nossa auto-estima seja firme e forte não é receber montes de elogios e tampouco não receber críticas ou nãos, mas a certeza de que aquelas pessoas que são essenciais pra nós nos amam mesmo quando erramos e apesar dos nossos erros e fracassos. eles nos amam mesmo quando não somos assim tão inteligentes ou espertos ou legais.
quando sentimos que somos amados no matter what, nos damos o direito de errar e nos perdoamos quando pisamos na bola. e nem preciso dizer que só quem se permite errar é que acerta, não é?
como filha, aprendi a filtrar as inúmeras chantagens emocionais dos meus pais (e aprendi também a me manifestar verbalmente quando essas chantagens me machucam) e repito pra mim mesma em non-stop “eles me amam, não importa como eu me saia. eu não preciso provar nada pra eles!”.
como amiga, chefe ou coisa parecida, aprendi a não julgar ou rotular. e apesar de vira e mexe cair na armadilha, aprendi que a melhor forma de me relacionar com as pessoas é me concentrar em como EU me sinto a respeito do que elas fazem, e deixá-las saber disso. se me chateiam, eu digo que me chateei e explico como me sinto quando elas agem assim ou assado. é responsabilidade delas mudar o comportamento ou não. usando um clichê, é um jogo de frescobol mesmo: cada um precisa fazer sua parte pra bola não parar de quicar. e não se iludam: é difícil agir assim. principalmente porque nossos problemas de auto-estima se colocam como barreiras pra aceitar o outro e ser honesto.
e como mãe, vamos ver… pretendo seguir os princípios que aprendi e acredito serem corretos: ser honesta; não rotular ou julgar; dizer como me sinto (quando fico feliz ou triste); reforçar que meu amor é incondicional, sim. mesmo quando disser não, colocar de castigo ou perder a paciência 😀