estou aqui no mês 3, semana 4 do otto, amamentando exclusivamente, e quanto mais passa o tempo mais entendo quem desiste de amamentar.
e que não venham as radicais de plantão levantar bandeira, porque amamentar exige muito fisica e emocionalmente, e só cada uma sabe de si, do quanto consegue suportar. há sim as que têm preguiça e não se esforçam, eu sei, mas até ser preguiçosa é direito da indivídua. é a mesma coisa que optar por fazer cesárea por conveniência: eu discordo, mas é direito da mulher, sim.
pra mim tem sido assim: não tive dificuldade de amamentar, o leite apareceu conforme ordenhei e o otto começou a mamar, e não dói absolutamente nada. o otto mamou de 2 em 2 horas no primeiro mês e começou a espaçar para 3 em 3 no segundo mês. ele sempre quis dormir mais à noite, fazendo intervalos de 4, 5 ou até 6 horas entre as mamadas noturnas.
apesar de toda essa “facilidade”, amamentar ainda é cansativo e exije presença e dedicação constantes. não posso fazer nada que tome mais de 2 horas seguidas, porque digamos que ele mame por 30 minutos, até arrotar, mais uns 15, até começar a fazer alguma coisa mais 15. passada 1 hora, daqui a 2 horas ele quer mamar de novo. mesma coisa com o sono: no máximo 2 horas de descanso por vez.
aí você pensa que precisa se alimentar, tomar banho e se cuidar minimamente nestes intervalos e bye-bye algumas preciosas horas de descanso. aí você tem outras coisas também pra fazer, porque elas não desaparecem magicamente: pagar contas, fazer supermercado, administrar a casa e os funcionários, caso você seja privilegiada como eu e TENHA funcionários. do contrário, você ainda tem coisas pra limpar e arrumar, e deus tenha piedade de você, porque eu não sei como seria se eu não pudesse pagar uma babá e uma ajudante para a casa. pagar as contas, manter o controle financeiro em dia, manter a casa abastecida e os funcionários trabalhando direito toma mais um pouco daquelas 2 horas espalhadas no decorrer do dia. vá somando.
a privação de sono é um fato, todas sabemos disso quando resolvemos engravidar. mas só passando por isso você se dá conta de como isso afeta você. e não é a mesma coisa dormir 4h seguidas e dormir 2h + 2h, senhores e senhoras. você não entra em sono profundo em 2h, o sono não descansa do mesmo jeito. você fica cansada, irritada, frustrada e um pouco deprimida mesmo.
para as que ainda não desistiram, aderiram à mamadeira e voltaram a trabalhar, some a esse quadro o fato de você simplesmente não ter mais vida. você não faz mais nada que não seja dar o peito, fazer a higiene sua ou do bebê e cuidar de assuntos da casa. o casamento fica aquela merda, porque tudo gira em torno do bebê e você mal tem disposição pra ver TV. seu marido vai te achar uma baranga chata, porque você vive desgrenhada e só fala do cocô do bebê, não tem disposição pra absolutamente mais nada.
mas tem mais: a culpa e o medo. a culpa por não conseguir fazer mais nada, por estar tão cansada que não consegue nem pensar em voltar a ser aquela mulher legal e descolada de sempre, por pensar que foi uma idéia de jerico ter engravidado, por desejar que o bebê durma mais peloamordedeus, por ter inveja do seu marido que pode ficar fora de casa quantas horas quiser e tudo bem. o medo do leite desaparecer, de o bebê estar com gases porque você comeu alguma coisa diferente, de não conseguir fazer o bebê engordar com seu leite apesar de todo sacrifício que você está fazendo.
porque sim, eu sei que amamentar exclusivamente é a melhor coisa pro bebê, de longe. que ele precisa receber através do leite não só o alimento, mas também a imunidade pra ajudá-lo a ficar saudável e crescer direito.
aí pense na alternativa: a mamadeira pode ser dada por qualquer um e faz o bebê se sentir satisfeito por mais horas. ou seja: você já não se sente física e exclusivamente responsável pela sobrevivência do bebê e ainda ganha horas para VIVER. gente, fala a verdade, a tentação é grande demais!
atualmente estou assim: preocupada porque vira e mexe o otto volta a mamar de 2 em 2 horas, fico encanada que meu leite não é suficiente, ou que ele está com algum problema. ele ganhou peso no último mês, mas a taxa de ganho caiu pela metade em relação ao mês anterior, apesar de estar dentro da normalidade.
sigo administrando meus intervalos de 2h (que eventualmente são reduzidos a 1h) pra cuidar dele, da casa, de mim, das finanças. e tentando não surtar com a culpa e o medo. e sonhando com o sexto mês, quando ele vai começar a comer e não mais depender exclusivamente de mim.
mas quando chegar o sexto mês, também será hora de voltar a trabalhar, e suponho que o cansaço e a culpa vão aumentar. olha, é preciso muito, muito amor mesmo. e um lembrete diário de que sim, ISSO TUDO FOI ESCOLHA MINHA. ai ai.
PS1: ainda assim, apesar de tudo, não abriria mão de amamentá-lo. acho que os benefícios são tão grandes que compensam meu sacrifício, que afinal é só por um tempo.
PS2: se seu bebê é tranquilo, dorme montes de horas seguidas e você não sente culpa nem medo, agradeça ao santo de sua preferência todos os dias 😀