fabricando

de como entendo quem desiste de amamentar

December 20, 2010 · 6 Comments

estou aqui no mês 3, semana 4 do otto, amamentando exclusivamente, e quanto mais passa o tempo mais entendo quem desiste de amamentar.

e que não venham as radicais de plantão levantar bandeira, porque amamentar exige muito fisica e emocionalmente, e só cada uma sabe de si, do quanto consegue suportar. há sim as que têm preguiça e não se esforçam, eu sei, mas até ser preguiçosa é direito da indivídua. é a mesma coisa que optar por fazer cesárea por conveniência: eu discordo, mas é direito da mulher, sim.

pra mim tem sido assim: não tive dificuldade de amamentar, o leite apareceu conforme ordenhei e o otto começou a mamar, e não dói absolutamente nada. o otto mamou de 2 em 2 horas no primeiro mês e começou a espaçar para 3 em 3 no segundo mês. ele sempre quis dormir mais à noite, fazendo intervalos de 4, 5 ou até 6 horas entre as mamadas noturnas.

apesar de toda essa “facilidade”, amamentar ainda é cansativo e exije presença e dedicação constantes. não posso fazer nada que tome mais de 2 horas seguidas, porque digamos que ele mame por 30 minutos, até arrotar, mais uns 15, até começar a fazer alguma coisa mais 15. passada 1 hora, daqui a 2 horas ele quer mamar de novo. mesma coisa com o sono: no máximo 2 horas de descanso por vez.

aí você pensa que precisa se alimentar, tomar banho e se cuidar minimamente nestes intervalos e bye-bye algumas preciosas horas de descanso. aí você tem outras coisas também pra fazer, porque elas não desaparecem magicamente: pagar contas, fazer supermercado, administrar a casa e os funcionários, caso você seja privilegiada como eu e TENHA funcionários. do contrário, você ainda tem coisas pra limpar e arrumar, e deus tenha piedade de você, porque eu não sei como seria se eu não pudesse pagar uma babá e uma ajudante para a casa. pagar as contas, manter o controle financeiro em dia, manter a casa abastecida e os funcionários trabalhando direito toma mais um pouco daquelas 2 horas espalhadas no decorrer do dia. vá somando.

a privação de sono é um fato, todas sabemos disso quando resolvemos engravidar. mas só passando por isso você se dá conta de como isso afeta você. e não é a mesma coisa dormir 4h seguidas e dormir 2h + 2h, senhores e senhoras. você não entra em sono profundo em 2h, o sono não descansa do mesmo jeito. você fica cansada, irritada, frustrada e um pouco deprimida mesmo.

para as que ainda não desistiram, aderiram à mamadeira e voltaram a trabalhar, some a esse quadro o fato de você simplesmente não ter mais vida. você não faz mais nada que não seja dar o peito, fazer a higiene sua ou do bebê e cuidar de assuntos da casa. o casamento fica aquela merda, porque tudo gira em torno do bebê e você mal tem disposição pra ver TV. seu marido vai te achar uma baranga chata, porque você vive desgrenhada e só fala do cocô do bebê, não tem disposição pra absolutamente mais nada.

mas tem mais: a culpa e o medo. a culpa por não conseguir fazer mais nada, por estar tão cansada que não consegue nem pensar em voltar a ser aquela mulher legal e descolada de sempre, por pensar que foi uma idéia de jerico ter engravidado, por desejar que o bebê durma mais peloamordedeus, por ter inveja do seu marido que pode ficar fora de casa quantas horas quiser e tudo bem. o medo do leite desaparecer, de o bebê estar com gases porque você comeu alguma coisa diferente, de não conseguir fazer o bebê engordar com seu leite apesar de todo sacrifício que você está fazendo.

porque sim, eu sei que amamentar exclusivamente é a melhor coisa pro bebê, de longe. que ele precisa receber através do leite não só o alimento, mas também a imunidade pra ajudá-lo a ficar saudável e crescer direito.

aí pense na alternativa: a mamadeira pode ser dada por qualquer um e faz o bebê se sentir satisfeito por mais horas. ou seja: você já não se sente física e exclusivamente responsável pela sobrevivência do bebê e ainda ganha horas para VIVER. gente, fala a verdade, a tentação é grande demais!

atualmente estou assim: preocupada porque vira e mexe o otto volta a mamar de 2 em 2 horas, fico encanada que meu leite não é suficiente, ou que ele está com algum problema. ele ganhou peso no último mês, mas a taxa de ganho caiu pela metade em relação ao mês anterior, apesar de estar dentro da normalidade.

sigo administrando meus intervalos de 2h (que eventualmente são reduzidos a 1h) pra cuidar dele, da casa, de mim, das finanças. e tentando não surtar com a culpa e o medo. e sonhando com o sexto mês, quando ele vai começar a comer e não mais depender exclusivamente de mim.

mas quando chegar o sexto mês, também será hora de voltar a trabalhar, e suponho que o cansaço e a culpa vão aumentar. olha, é preciso muito, muito amor mesmo. e um lembrete diário de que sim, ISSO TUDO FOI ESCOLHA MINHA. ai ai.

PS1: ainda assim, apesar de tudo, não abriria mão de amamentá-lo. acho que os benefícios são tão grandes que compensam meu sacrifício, que afinal é só por um tempo.

PS2: se seu bebê é tranquilo, dorme montes de horas seguidas e você não sente culpa nem medo, agradeça ao santo de sua preferência todos os dias 😀

Categories: amamentação

6 responses so far ↓

  • Ila Fox // December 24, 2010 at 10:24 am |

    Tive um conhecido que disse que mamou até os 7 anos!!! (?!?!?!?!) cara, tipo, assim… chega a ser meio estranho saca? então. 😛

    Ai Zel, coragem… não sei nem o que dizer, imagino o quanto deve ser desgastante mesmo. Minha Tia voltou a trabalhar quando a bebe dela estava com 4 meses, gente, 4 MESES! imagine o aperto no coração. Vc tem muita sorte de poder ter uma babá e uma faxineira viu? a maioria literalmente pira tendo que cuidar de tudo, e pior, não aceitam ajuda!

    Eu sei lá, resolvi que não quero ter filhos mesmo, decidi. Esta não é a minha praia, definitivamente. Nunca nem brinquei de boneca, acho que nasci sem o tal do instinto materno. 😛

    Boa sorte com o pimpolho.

  • criss // December 25, 2010 at 2:36 pm |

    Zel, eu passei por tudo isso, e duas vezes.

    Sem funcionários, e na segunda vez trabalhando meio período, não é mole não 🙂

    Dito isso, o ganho não vai ser como no mês passado. Senão ele chega aos 20 kgs no primeiro ano (minha primeira filha demorou “só” 6 anos para pesar 20) e o intervalo das mamadas às vezes diminui, por causa do calor, por causa de mudança de ambiente (e tb. visitas em casa, muitas novidades). Eu também entendo quem desiste, mas eu não desisti pois como você achava que era o melhor mesmo pras minhas filhas, e que nem o trabalho iria tirar isso de mim. E depois dos 5, 6 meses (eu confio nos 6) o Otto comer papinhas, com a segunda, para experimentar, eu fiz mamadeiras de Mucilon com o leite materno e o Mucilon já com leite incluído… não foi assim um sucessão mas dava uma espaçada, numa época em que a Anna já tinha mais de 7 meses.

    Se você quiser conversar sobre, ou qualquer outro argumento, eu sou a “vizinha do Marambaia” e adoraria trocar idéias, até porque agora para mim é moleza, eu saí deste lindo capítulo e minhas filhas tem 6 e 2,5 anos.

    Um abraço e continua com fé, ele é lindo e fofíssimo.

  • Irene // December 25, 2010 at 8:01 pm |

    Zel, tenha um pouco mais de paciência que logo isso passa…

    Após o sexto mês tudo melhora, e vc tem muita sorte em contar com 2 pessoas.

    Eu fazia tudo sozinha, às vezes achava que não iria conseguir, mas consegui. Claro que a gente se estressa, imagine eu, amamentava apenas depois de 3 anos de ter tido câncer. Stress total, além de cuidar dele, da filha de 6, lavar passar, cozinhar, tinha que fazer meus exames e cuidar de mim, com um puta medo dessa porcaria de doença…

    Mas, olha só, passou…como tudo na vida, bom ou ruim, e todos estamos ótimos!

    Ele está com 2 aninhos, falando, comendo sozinho (e derrubando tudo rsrsrs).

    Boa sorte! Sou sua muito fã! Tudo vai dar certo logo 🙂

  • Raquel // December 26, 2010 at 8:57 am |

    Te entendo 300 mil %.

    bjs e força na peruca.

  • Zel // December 26, 2010 at 2:15 pm |

    Obrigada por entenderem e por darem apoio. É super bom poder ouvir essas dicas e experiências de vocês!

  • Kátia // March 26, 2011 at 12:55 am |

    Antonio, meu filho, está no segundo mês e estou amamentando mas preciso dar o complemento de NAN pois as vezes minhas “reservas leiteiras” não produzem nas 2 – 3 horas que levam para que ele mame novamente. Somado a todos esses problemas que você citou eu enfrentei: um bico de seio de formato chato, uma trombose antiga na perna direita que fez meu pé inchar em 2 dias de amamentação tudo o que não me inchou em toda a gravidez e a insegurança de um marido tão novato no assunto quanto eu. Confesso que enfrentar a insegurança dele quanto ao meu esforço em amamentar foi a pior coisa. Tivemos discussões até que eu fui taxativa (e até curta e grossa) ao dizer que só restava a ele confiar em mim quando o assunto fosse entre eu, meu peito e o Antonio. Penso que o maior erro é a gente pensar (ou não saber) que amamentação não é algo automático e que funciona bonitinho para todas na primeira tentativa. Mas eu persisto mesmo com toda limitação porque, como já foi dito, é o melhor pra ele. E bora combinar que é apenas uma das primeiras decisões que tomamos que vai resultar em trabalho árduo nosso em prol do nosso pequenino, né? Até mais e tudo de bom para vocês três.

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