durante a gravidez eu tive sentimentos controversos sobre voltar a trabalhar. sempre trabalhei muito, como todo profissional da área de TI, e sempre gostei muito de trabalhar. sou super empolgada com meu trabalho, falo dele durante horas a fio se tiver uma alma pra ouvir 🙂 mas com o bebê na barriga e toda a aura da maternidade pairando ao meu redor (e comentários, conselhos, opiniões), cheguei a pensar que poderia ter vontade de ficar com o bebê mais tempo, depois de nascido.
digo que os sentimentos foram controversos porque além de gostar de trabalhar, nunca fui muito chegada em cuidar de crianças, essa é a verdade. e pra quem pergunta “então por que ter filhos?”, blé. você não entende nada sobre o que move pessoas a procriar conscientemente, não é? não tive filho porque gosto de criança, mas porque desejo a experiência, que é riquíssima. e não é que eu odeie crianças, veja bem, eu acho o ser humano de forma geral muito interessante, seja adulto ou criança. mas criança cansa, gente! cansa muito, e enche o saco. mesmo sendo nosso o filho.
fui bombardeada, como todas somos, de chavões do tipo “só quando você for mãe vai entender” (ainda não entendi nada), o tal “amor incondicional” (ainda desconheço), ou “ser mãe é padecer no paraíso” e etc. e acabei achando que um bit ia se ligar em mim quando o bebê nascesse, e de repente eu me tornaria uma mãe de propaganda de margarina, adorando estar com o bebê e de repente ia querer abandonar minha carreira. juro, isso me ocorreu.
o bebê chegou, e não ligou bit nenhum. nada de amor incondicional (já falei sobre isso: tá mais pra cuidado incondicional e amor que se constrói dia a dia), nada de desejo de não me afastar dele por nada no mundo. e ai de mim quando falo esse tipo de coisa: a patrulha da mãe-perfeita-e-sofredora cai de pau em cima de mim. umas não acreditam (acham que estou mentindo, que no fundo sinto isso tudo e nego) e outras me acham uma monstra.
pois que quando começou a chegar a época de voltar a trabalhar eu já estava com a babá cuidando do otto em casa há 3 meses, todos completamente adaptados, mas fiquei apreensiva. será que as coisas mudaram muito nos 8 meses que fiquei fora? será que vou conseguir trabalhar da mesma forma? e se eu ficar culpada, ou pensando no bebê o tempo todo?
voltei a trabalhar numa quarta-feira, com rotina de ordenha (pois continuei a dar só o peito, e tirava leite 2x por dia) e totalmente perdida depois de meses sem trabalhar. os primeiros dias foram de socialização, pra dizer a verdade, mas aos poucos fui retomando minhas atividades e descobri que em grandes corporações 8 meses não é nada 🙂 honestamente, vários problemas que eu tinha deixado para o meu backup resolver continuaram até a minha volta. até algumas contratações ainda estavam pendentes!
além da boa surpresa de conseguir retomar as atividades sem grandes dramas, percebi também que o novo ritmo (chegar no horário, sair no horário, tirar leite no meio do dia) era totalmente administrável, e que eu não preciso trabalhar 12h por dia pra ser produtiva. estou conseguindo produzir bem e com eficiência nas 8h do dia. estou priorizando melhor as atividades, e me preocupando menos em fazer mais do que o necessário. tenho me concentrado no possível, e é mais que suficiente.
e a saudade do otto? nenhuma. e cada vez que falo isso as mulheres ao redor se arrepiam e morrem por dentro, fazendo cara de horror. como assim, não tem saudade? corrijo: tenho saudade e penso nele, sim, mas isso não ocupa meu dia e nem me atrapalha. não sofro com a saudade, ela simplesmente faz parte de mim. ele agora é a pessoinha de mais importância na minha vida, e é claro que penso nele. mas isso não causa sofrimento algum e nem atrapalha nada do que preciso fazer.
e quando chego em casa, pra liberar a babá pra ir embora, é uma delícia. o tempo que gasto com ele é precioso, divertido, gostoso. bem diferente do fim de semana, que preciso estar com ele o tempo todo e vira e mexe enche o saco. quando preciso cuidar dele o tempo todo, me pego desejando estar em outro lugar, fazendo outra coisa. é fato. nem todas gostamos de estar com bebês o tempo todo, mesmo quando somos mães das criaturas. e por isso valorizo ainda mais meu trabalho, meu tempo longe dele, porque quando posso estar junto dele, é um tempo importante e realmente DELE.
tenho certeza que sou uma mãe melhor pro otto quando estou envolvida em outras atividades e quando tenho ajuda pra cuidar dele. porque cada gesto, carinho, atenção são realmente dedicados a ele, são legítimos e intensos.
voltar a trabalhar foi essencial para o relacionamento com meu filho, pra que eu seja uma mãe melhor; ser mãe foi essencial pra que eu me tornasse uma profissional mais focada, que sabe priorizar atividades, hoje sou uma profissional melhor.
e de quebra virei toureira, né, dando olé do maremoto de críticas veladas e culpa que as outras mulheres tentam me afogar 🙂 mas não cedo, resisto firme no intento de ser presente e responsável primária na educação do meu filho sem precisar abrir mão da minha própria vida.