fabricando

virei mãe mas continuo a mesma chata de sempre

January 19, 2012 · 18 Comments

eu detestava criança que grita, faz manha, é agressiva, carente, interrompe as pessoas, etc. etc. e etc. virei mãe e… continuo detestando isso tudo.

se você não tem filhos e reclama de chatices de criança, rola sempre um papo-meio-maldição tipo “você vai ver quando tiver filhos…”. essa maldiçãozinha tem 2 premissas embutidas, uma é verdadeira e a outra é falsa:

[V] crianças são chatas mesmo, e você vai se ferrar quando elas forem suas, porque você é obrigado a aguentar

[F] o que podemos fazer, né? afinal criança é assim mesmo…

criança é chata sim, vamos admitir logo e passamos dessa fase. elas se consideram o centro do universo, frequentemente não sabem expressar bem o que querem, gostam de chamar a atenção de todos ao redor (e ficam irritadas quando não conseguem), querem tudo do seu jeito, têm energia sobrando. qualquer um sairia correndo de perto de alguém com essas características, certo? 😀

mas crianças são crianças, e todos sabemos de antemão que são assim. o papel dos educadores (e pessoas que amam essa criança em especial) ao redor dela é ensinar a conviver com o mundo e com as pessoas seguindo regras mínimas de convivência. orientar a criança (duzentas mil vezes, saibam) é papel dos pais (e com sorte, outros membros da família que sejam generosos para contribuir). com amor, carinho, paciência e muita, muita insistência.

(e pizza, em último caso 😀 mas essa piada é politicamente incorreta, espero que você conheça, pois não vou contar)

o que me leva à parte falsa da premissa: é lógico que tem o que fazer! os pais devem — DEVEM, da lista de deveres — direcionar seus filhos. mil vezes, 10 mil vezes se for preciso. é preciso dizer não, e manter-se firme na negação do que não é aceitável. é preciso impedir que a criança seja desrespeitosa ou agressiva com outros. é essencial ensinar paciência, respeito pelo espaço e tempo do outro. por mais chato, cansativo e irritante que seja. isso é ser um bom pai/mãe: ensinar seu filho a ser um cidadão, ensinar que há outras pessoas no mundo além dele, e que ele precisa aprender a respeitar para ganhar respeito.

(supondo que os pais saibam disso, porque de verdade não é incomum encontrar adultos que ignoram as regras mais simples de convivência e cidadania)

porque eu gosto de contribuir para um mundo melhor, seguem algumas dicas pra ajudar a perceber se está sendo um pai/mãe relapso na educação do seu filho (e contribuindo com mais um sem-noçãozinho no mundo):

– diz coisas do tipo “ah, sabe o que é? é que ele muito energético!” quando na verdade seu filho é um tosco e precisa ser ensinado a tratar as outras pessoas e crianças com respeito;

– não repreende seu filho imediatamente quando ele é agressivo fisicamente. com qualquer pessoa, inclusive você mesmo;

– finge que não escutou quando seu filho grita. ninguém gosta de gritos, gritos não são bem aceitos em nenhum ambiente social, por que devemos deixar crianças gritando como se fosse normal?

– deixa seu filho tomar coisas que não são dele sem pedir. (acredite, eu tenho um bebê de 1 ano e 4 meses: eu sei que eles querem TUDO e consideram o mundo inteiro deles. é nosso papel ensinar pra eles que as coisas não são assim)

– não diz não pro seu filho, “pra não traumatizar”, ou “adicione aqui qualquer razão estúpida”. o não é importante e necessário. se você se preocupa em dizer nãos demais, diga sims pra balancear, não tenha preguiça e reforce o comportamento positivo também ao invés de dar desculpas bestas pra não dizer não;

– deixa a culpa (por trabalhar, por exemplo; por passar menos tempo do que acha que devia com seu filho, etc.) direcionar o quanto você educa o seu filho. lide com sua culpa na terapia, não deixe que ela reflita na (falta de) educação do seu filho. ele precisa de limites, de nãos e de orientação, a sua culpa não é problema dele;

– não brinca com seu filho quando está com ele. se você tem tempo pra estar com seu filho, BRINQUE COM ELE. as crianças aprendem através das brincadeiras, e você terá várias oportunidades de se divertir E orientar seu filho nas brincadeiras;

– não escuta o que ele diz quando está falando com ele. e, ao mesmo tempo, interrompe tudo que está fazendo quando ele quer falar com você. é importante ouvi-los quando você está falando com eles, mas é também importante que, aos poucos, entendam que as pessoas não devem parar tudo o que estão fazendo por que eles querem! pense que esse aprendizado vai ajudá-los a serem pessoas mais tolerantes, e menos malas-sem-alça;

– perde a paciência com seu filho ou cede (desiste de orientar) porque ele é teimoso, chato ou insistente (ou seja… uma criança!). ele precisa da sua paciência, dedicação e orientação. é chato, mas é nosso papel. e se os pais perdem a paciência ou desistem, quem vai educar, gente?

e com isso tudo não quero dizer que é fácil ou (sejamos francos) divertido. a parte mais difícil de educar uma criança é ser firme, consistente e se comprometer em ensinar. porque ser ausente ou fingir que não percebeu é moleza. difícil é continuar explicando a mesma coisa depois de 20 mil repetições, quando você está cansado e quer ver TV ou ficar na internet.

ou seja: crianças são e sempre serão chatas mesmo. a tarefa de educá-las é cansativa e lenta, demora ANOS. exatamente por isso essa tarefa é responsabilidade dos PAIS, que as amam acima de tudo. só mesmo com muito amor é que a gente encontra em si paciência e motivação pra insisir quando qualquer outro teria desistido. porque (em tese, porque tem pais que realmente não estão nem aí) no futuro todo o investimento na educação, em ser uma boa pessoa vai ajudar seu filho a ser feliz e bem sucedido no caminho que escolher.

continuo achando crianças chatas (as dos outros mais que o meu, por definição). o que mudou depois de ter meu filho é que agora já não me incomodo tanto com a chatice da criança, mas principalmente com a falta de ação dos pais em relação a elas. fico muito irritada quando vejo uma criança gritando na orelha alheia e os pais nem aí. quero morrer quando vejo uma criança agressiva arrancando brinquedos das mãos dos outros e os pais, ao lado, sem dizer nada.

amar = educar. e não há educação sem correção de rota, orientação, insistência.

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