o otto começou a frequentar a escola em meados de setembro deste ano e todo um novo mundo de possibilidades e coisas inesperadas se abriu pra nós. desde a escolha da escola até a socialização com outros pais, passando pelo contato com as professoras dele e a iniciação ao mundo das outras-crianças-sem-educação.
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abre parêntese: sim, as outras, porque as nossas crianças são sempre educadas e maravilhosas, certo? 🙂
ironia à parte, o otto é um menino muito tranquilo e educado no geral. não sei até que ponto o bom comportamento é consequência da educação que tentamos dar pra ele ou simplesmente parte da personalidade, mas fato é que ele não dá trabalho e é muito tranquilo. não é daquelas crianças que gritam, correm, pulam em cima das coisas e pessoas, desobedece os pais, bate em outras crianças. ok, com alguma frequência ele TENTA fazer essas coisas, mas nós sempre corrigimos na hora e o problema acaba aí.
como toda criança, o otto logicamente teve episódios de gritão, chiliquento, mordedor, jogou coisas no chão, e ele enfrenta a gente sempre, periodicamente (que bom!), mas todos os comportamentos que não achamos “socialmente aceitáveis”, corrigimos na hora.
consideramos inaceitável: morder, bater, gritar (qualquer contexto. gritar é irritante), jogar coisas, sair correndo, subir em móveis, pegar objetos que são “proibidos”, não atender quando chamamos, não parar quando mandamos parar. certamente a lista vai aumentar quando ele crescer, mas por enquanto é isso aí.
e como fazemos? simplesmente não aceitamos que ele faça nenhuma dessas coisas sem consequências. quando ele faz, falamos com ele num tom bem bravo (mas sem gritar, que assusta e aí perde o foco), olho no olho, e explicamos que não pode, que não queremos que ele faça X ou Y. quando a questão é física (bater, subir em móveis, pegar coisas que não pode, etc.), além de explicar também seguramos/tiramos dele. sempre damos a opção dele largar ou parar sozinho, antes de segurar/tirar. a maior parte das vezes funciona, e ele prefere “fazer a coisa certa” por conta dele, ao invés de se submeter fisicamente.
sim, algumas vezes ele chora quando damos bronca nele. chora porque tem medo dos pais falando mais “bravos” com ele (e ainda estamos dosando a forma de falar, porque mesmo sem gritar, quando mudamos o tom de voz ele fica com medo), e chora simplesmente porque está frustrado por não conseguir fazer o que quer, do jeito que quer. mas muitas vezes ele já se manifesta verbalmente, e diz que está bravo ou triste, diz que queria fazer as coisas de outro jeito.
oras, é direito dele querer algo diferente do que consideramos aceitável, e procuramos respeitá-lo e acolhê-lo na frustração e tristeza, mas essas coisas continuam sendo não-não. e ponto final.
esse processo é chato, desgastante, cansativo. e dói em nós também, porque nada é mais incômodo do que seu filho triste, bravo, chorando. minto, tem uma coisa mais incômoda: pensar que seu filho pode se tornar um sem noção, mal-educado, que outras pessoas podem não gostar dele por esses motivos. e para que ele se torne uma pessoa que respeita regras de convívio minimamente que ensinamos que há coisas que não se pode fazer, pois machucam e/ou incomodam as outras pessoas.
se no futuro ele deliberadamente quiser ser inconveniente ou agressivo, saberá que há consequências, e terá de lidar com elas. hoje, o referencial dele somos nós, e nós não toleramos gritaria, correria, birra e agressão.
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fechei o parêntese — pois quando confrontados com o maravilhoso mundo da escola, o mundo real, descobrimos que nem todos os pais são como nós. mais especificamente, descobrimos que há pais que acham que impor limites aos seus filhos é um problema, e atribuem todo tipo de comportamento inadequado e inconveniente à idade, fase, gênero (sim, senhores e senhoras), signo. o motivo nunca é “nós não impomos limites de forma clara”, lógico.
na semana em que o otto entrou na escola, entrou também um menino que agredia as demais crianças. ele bate, morde, puxa cabelo. e o otto não ficou impune: nos primeiros dias levou tapas, e há poucos dias foi mordido 2 vezes (no braço numa semana, na perna na outra).
o fer, que é aquele tipo de paizão superprotetor assumido, ficou uma fera na 1a ocorrência, já queria matar alguém. foi explicado que o menino e a família “estão passando por uma fase complicada…” e que eles estariam mais atentos, e corrigindo o menino durante o período de aula, com uma professora adicional. a correção significa segurar as mãos/o menino e dizer que a mão não pode bater, que a boca não pode morder, lavar a mão com lavanda (…), toda uma abordagem bem suave. e estou de acordo com a abordagem da escola ser assim, especialmente (negrito, maestro zezinho!) porque a responsabilidade de educar e corrigir a criança é dos pais, e não da escola.
mas a escola precisa, sim, garantir que meu filho (e as demais crianças) não serão atacados pelo garoto-pitbull. seja lá qual for a fase (da criança ou da lua) que causa o problema, é preciso proteger as demais crianças de agressões, caramba. e é isso que exigimos, e fomos ouvidos, felizmente.
o que me preocupa é o excesso de explicações e justificativas para comportamentos inaceitáveis (ponto final. seja lá qual for a causa, a ação deve ser reprimida e corrigida), como se devêssemos aliviar ou permitir tais comportamentos porque existe uma causa. ora, trabalhem então nas causas e enquanto isso (mais um negrito, por favor?) ensinem a criança que não pode, não pode, não pode.
alguns amigos bem-intencionados sugeriram ensinar ao otto ficar longe do menino, impedir ou até revidar a agressão. eu certamente vou ensinar o otto a se defender, acho essencial, porém também acho que é muito cedo. ele simplesmente não entende agressão, e menos ainda a intenção de agressão. ele precisa estar um pouco maior pra que possamos explicar o que significa “se defender” em oposição a “atacar”. além disso, a agressão sempre acontece quando não estamos perto, não temos como usar a situação para ensinar. como vou, em casa, horas depois do ocorrido, apelar pra memória dele e ensinar a partir de algo que aconteceu muitas horas atrás? “olha, otto, lembra que fulaninho te mordeu? então, faz assim: na próxima vez que fulaninho chegar perto de você, saia correndo!”. sério que alguém acha que isso funciona?
percebi também que os bem-intencionados que arranjaram desculpas pro menino morder, e disseram que “criança é assim mesmo”, ou que é “da fase” são aqueles cujos filhos/sobrinhos/X são os agressores. é o cúmulo da racionalização. vamos falar às claras: morder e agredir NÃO PODE. não importa sua idade, seu signo, nem a fase da lua. não pode, e é obrigação dos pais ensinar que não pode e impedir que aconteça (exceções são OK; agressão como parte do comportamento normal, não pode), usando seja lá qual método quiser, desde que funcione. dê banho de pipoca, coloque no castigo, fale até a orelha da criança cair (nosso caso), vire-se. seu filho, seu problema.
além disso, parece que ensinar o otto a se defender ou se afastar é OK; ensinar o menino a não morder não dá, porque “é da fase”. olha… me poupem.
sei que aprendi muito com esse episódio. sobre a natureza humana, sobre educação de crianças, sobre o papel da escola e sobre mim mesma. porque sou do tipo de mãe que deixa a criança chafurdar na lama, e creio mesmo que brigas de crianças devem ser resolvidas por elas mesmas. morder, bater, cair, fazem parte da infância. mas quando é a mesma criança que continuamente agride o meu bebê, que é tão bonzinho, vou dizer: dá vontade mesmo é de socar. o pitbull, os pais do pitbull e as professoras que não ficaram atentas.
mas passa, e estou contente com o desenrolar da história. próximo passo: ensinar o otto a usar um taco de baseball*.
(*) JUST KIDDING 😀