há muito tempo eu quis
fazer uma canção
pra gente viver mais.
otto,
essa é provavelmente a mais importante carta que escrevi aqui nesse espaço até o momento. tenho contado sobre seu desenvolvimento, pequenas histórias que se perderiam no tempo não fossem esses escritos e sobre como me sinto, sempre num esforço de montar o mosaico que é a vida de cada um de nós para sua apreciação um dia. uma experiência única, já que não sei o quanto isso já existe por aí e se haverá alguma outra pessoa contemporânea sua com a mesma experiência de ler os escritos de sua mãe destes anos que a maior parte de nós não lembra, a não ser através das anedotas familiares.
você vai ter mais que as histórias dos mais velhos — família e amigos — pra saber como foi sua infância, e acho que isso é bom. você conta melhor um dia como foi ler tudo isso!
mas hoje queria contar que tive momentos de profunda tristeza e pesar pensando no futuro, e não há absolutamente nada que se possa fazer a respeito. só posso registrar, aproveitando alguns minutos do meu tempo para oferecer mais de mim pra você — tenho hoje 41 anos, e você tem 3. sem nenhuma intenção nem motivo, projetei você para o futuro na idade que tenho hoje (como seria, como será?), e me dei conta que quando você tiver 41 anos eu terei 79 anos. SETENTA E NOVE. com sorte, claro, se eu de fato estiver ainda aqui (é muito provável, mas…). serei uma senhora muito idosa, enquanto você estará no auge da sua vida adulta.
sua avó e avô, meus pais, têm respectivamente 60 e 63 anos neste ano que escrevo. são senhores, claro, mas longe de serem idosos, são muito ativos e têm muitos anos pela frente ainda, tomando a história da família como referência. já têm netas de 12 anos, além de você, e é possível que conheçam seus bisnetos, se eles vierem.
fiquei tão triste, tão profundamente triste em pensar que no momento em que você chegar ao auge da sua vida eu estarei chegando ao fim da minha! queria conhecer você mais velho, meus netos, meus bisnetos. mas minha opção por ser mãe mais tarde, com tudo o que tem de bom, tem isso de mau (e não é pouco). sofri, porque pensei em como seria triste não ter meus pais por aqui em apenas alguns anos, que é o que provavelmente acontecerá com você.
meu filho, saiba que eu daria tudo pra poder ficar mais, o máximo possível, com você. que cada ano, mês, dia será precioso. que se soubesse que assim seria, eu teria trazido você ao mundo antes. mas aí, claro, você não seria você. e nada substituiria você sendo você, se é que me entende.
se cientista eu fosse, faria uma força-tarefa imensa a partir de agora para estender a vida, para chegar não aos 80 mas aos 120 para estar com você até que você fosse um senhorzinho. ver seus filhos e netos, se eles vierem. estar com você só mais um pouquinho.
mas sofrer e reclamar por ações passadas ou possibilidades futuras não faz parte da minha personalidade, e não sofrerei nem pensarei mais nisso. prefiro aproveitar os minutos e segundos agora, e não pensar sobre o que poderia ter sido, ou será. mas queria te contar que jamais senti um amor tão grande que trouxesse essa urgência de mais passado e mais futuro, que me fizesse sonhar com uma solução mágica ou uma máquina do tempo para reorganizar as eras tal que eu pudesse estar mais tempo com alguém no mesmo espaço/tempo.
saiba que amo você e a ideia da sua existência como jamais amei alguma coisa. e saber que você estará nesse mundo depois que eu não estiver mais é muito mais impactante e bonito que a existência de deus, alma, espírito ou qualquer dessas ficções. sua mera existência num mundo sem mim compensa o pesar de não mais ser (ainda que sendo como parte de todo o universo).
viva intensamente, meu querido. faça tudo que deseja fazer imediatamente, sem remorso, sem medo. a vida que existe é aquela desse instante, agora. seja feliz instantaneamente, e não perca tempo jamais elucubrando sobre o que será nem sofrendo pelo que foi.
somos felizes porque somos.
<3
6 responses so far ↓
leticia de Souza // December 9, 2013 at 2:17 pm |
Chorei 🙁
Nunca tinha pensado por essa otica. Vc sempre se supera!
zel // December 9, 2013 at 2:34 pm |
eu também. queria uma máquina de mudar o tempo! 🙁
Ila Fox // December 9, 2013 at 2:41 pm |
Nestas horas é mais reconfortante pensar sobre a ótica Budista de que as coisas acontecem na hora que tem que acontecer. E dado como sua saúde é de ferro, põe uns 120 anos aí! 😉
BTW, eu e minha mãe temos 20 anos de diferença, e minha mãe e minha vó também. Eu brinco que um dia seremos 3 senhoras da terceira idade. Minha vó com 100, minha mãe com 80 e eu com 60! 😉
zel // December 9, 2013 at 2:45 pm |
eu sou ainda mais pragmática — elas acontecem na hora em que acontecem, porque assim foi, e pronto, mas é difícil! por isso repito — quem quer ter filhos, acho que deve tê-los o quanto antes. mais cedo é melhor que mais tarde.
aqui é assim: eu com 41, minha mãe com 60 e minha avó com 79 🙂 19 anos de intervalo. eu estraguei a métrica 😀
Êmili // December 12, 2013 at 12:52 pm |
Lindo demais Zel.
Agradeço por ter te conhecido e por você dividir um pouquinho das suas experiências (no meu caso à distância) com a gente. Sempre aprendo com você. Apesar de termos 10 anos de diferença me identifico muito com suas idéias e ideais, e gosto de ler o que escreve porque você tem a experiência de vida que eu ainda não tenho, por isso escreve tão direto, tão duro às vezes, sem a ilusão que a juventude traz. Adoro sempre.
Beijo.
zel // December 18, 2013 at 11:58 am |
obrigada :-***
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