fabricando

Tou enxugando o cabelo dele, depois do banho, e…
O: “mamãe, por que você usa meu rosto?”
Eu: (oi?!) “como assim? Explica melhor que não entendi”
O: “olha — seu rosto é igual ao meu!”
?!
Eu: “você tá querendo dizer que acha nossos rostos parecidos?”
O: “é MUITO parecido! É igual!”
Eu: “também acho <3”

Vocês aí que têm filhos de boas, que não discutem por tudo, agradeçam. Invejo vocês.
Apago a luz ontem na hora de dormir, e…
Eu: “boa noite, meu amor.”
O: “mamãe, sabe aquele livro ‘o bicho alfabeto’? Tem uma história que eu quero contar.”
Eu: (own que lindo!) “conta!”
O: “NOITE SEM SONO / o cachorro late / um sonho sem dono. AUUUUUU!”
(Hahahhahahhahahhaha <3 Indiretas poéticas!)
Eu: “lindo! Agora dorme.”
É divertido, mas fácil não é não 😀

Começou o ensino fundamental e todos sofrem aqui em casa. Fomos orientados a definir regras claras pro Otto pra ajudar a equalizar um pouco o ambiente da escola com o de casa (ou seja — a escola começa a ter regras mais rígidas, e se aqui “pode tudo” fica difícil convencê-lo de que a escola pode ser legal).
O que entendemos é que mais importante que ser rígido / inflexível é que ele entenda que disciplina é parte da vida, seja onde ele estiver. A escola pega leve no 1o ano, mas tem “matérias” e tem tarefas.
Ele tá odiando, claro. E #todassofre.
Ele reclama que as tarefas são muito fáceis, que ele já sabe fazer tudo. E que “ele não é obrigado” (dê autonomia para um cerumaninho e ele agarra com unhas e dentes).
Expliquei que não é questão de “ser obrigado”, mas de estar lá exatamente pra isso: realizar as tarefas com os colegas e com as professoras. A experiência em si, não só o conteúdo. E se manifestar, falar com as professoras e os colegas. Que ele pode questionar e perguntar mas TEM QUE participar.
Chegando em casa, mostrei a grade de atividades da semana. Avisei que tem o intervalo pra brincar, mas que tem também agora outras coisas pra fazer.
Ele me olha bem sério e diz “mas mamãe — toda criança tem o direito de brincar!”
E começa a chorar, abraçado comigo.
**
Alguém faz uma intervenção, por favor, que estamos a um cabelo de pegar o menino e ir morar no mato feito curumim.
💔

“Papai, a gente sempre está no topo do planeta?”
<3
(As perguntas sempre tão simples e tão boas)

Agora danou-se tudo.
O: “por que os peixes vivem na água e não aqui fora?”
Eu: “a pergunta é por que a gente vive aqui fora. Sabia que a gente também veio da água?”
O: “MAS VOCÊ NÃO VEIO DA BARRIGA DA SUA MÃE?!”
(Vixe, pera)
Eu: “sim, eu vim, calma. Tou falando dos nossos ancestrais!”
O: “ancestrais?”
(E aí entrei na teoria da evolução versão kids — mais ou menos, que não consigo falar com ele diferente do que falo com todo mundo)
Eu: “eu vou achar um vídeo pra te mostrar como a vida começou na Terra”
O: “mas como foi que a pessoa filmou o começo da vida?!”
(AÊ, venci na vida! \o/ hahhahahahha)
Eu: “hahhahaha é um desenho, uma representação do que pode ter acontecido.”
(Não achei nada legal. Se alguém tiver dica agradeço)
**
O: “mas mamãe — como é que as massinhas se juntaram e formaram a Terra mesmo?”
(Achei um vídeo sobre o Big Bang e mostrei)
O: “uau, ele sabe de tudo!” (Sobre o narrador)
(Aparece uma estrela explodindo e a explicação que esse é o fim de todas elas)
O: “mas o sol vai explodir!?”
(Coloque aqui a música do Hitchcock)
Eu: “vai. MAS VAI DEMORAR, ok? A gente vai te mostrar uma série legal que chama Cosmos e você vai gostar.”
O: “e por que o sol abaixa?”
Eu e Fer: “na verdade é a Terra gira, em volta do Sol”
O: “A TERRA TÁ GIRANDO?!”
**
Nessa hora apaguei a luz e fechei a porta, deixei o Fernando lá com ele explicando.

Eu: “Otto, e aí, como foi hoje? Tudo bem?”
O: “quase tudo.”
Eu: “como assim?”
O: “eu segui as instruções. Quase todas. Algumas.”
(Ai caralho)
Eu: “explica melhor, vai. Você brigou com a professora?”
O: “só no final, um pouco. No começo eu segui todas as instruções!”
(Hahahhahaha ai caralho 2)
Eu: “e por que você brigou?”
O: “porque eu quero brincar, e não seguir instruções.”
**
Que merda é ter que fazer coisas que não temos vontade de fazer, de fato. Quando a gente começa a se resignar e fazer o que tem pra fazer ao invés de fazer o que quer fazer?
**
Eu: “ok, amor. Pelo menos foi melhor. Te dou uma dica: faça as coisas que tem pra fazer e vai sobrar mais tempo pra brincar, viu?”
O: “se eu terminar rápido eu posso brincar?!”
(Er…)
Eu: “algumas vezes sim. Combina com a prof.”
Acho que a prof vai me chamar pra outra conversa em breve, shit.