[24-abril-2015]
Preâmbulo: vocês, mães/pais cujos filhos gostam de ir pra escola ou são neutros a respeito, saibam o quanto têm sorte. Agradeçam.
**
Desde que colocamos o Otto na turma certa na escola, tudo melhorou. Ele parece menos cansado e mais feliz no geral. Ainda assim, acordar e sair de casa são sempre momentos tensos, alguns dias piores que outros, e hoje foi assim:
Estou na cozinha preparando o café, precisava sair realmente no horário hoje, e escuto o Otto chorando muito. O Fernando estava lá, mas mãe é assim, corri lá, o menino se debulhando em lágrimas, o pai tentando consolar, e tal. Várias tentativas de diálogo, consolo com abraço e colo e tudo, nada adiantava.
Otto: “Pode terminar a escola? Eu não quero ir pra escola!”
(Lágrimas, lágrimas, colo)
Mãe, pai, não sei mais: “Otto, por que você não quer ir pra escola? Tem alguma coisa que você não gosta?”
Otto: “eu não gosto de NADA na escolaaaaa!”
Nós: “Otto, se você se acalmar e explicar pra gente o que você não gosta, a gente tenta ajudar. A gente quer ajudar você a gostar da escola, tem coisas que a gente pode mudar… Deixa a gente te ajudar?”
(Lágrimas, lágrimas, colo)
Com muito esforço ele foi pra cozinha, ainda chorando. Nessa altura já era hora de sair, eu tinha horário, e dei tchau (deixei o Fer com a batata quente) e ele agarra em mim, não quer que eu saia. “Não vai embora, mamãe!”
(Ai, meu deus, que mãe consegue viver com isso?)
Eu: “Otto, mamãe precisa mesmo ir. Toma seu café, o papai cuida de você”
(Lágrimas, lágrimas)
Otto: (respira, claramente tentando se acalmar) “pessoal — eu vou deixar vocês me ajudarem. Eu vou falar o que eu não gosto na escola!”
(Pense num coração partido com essa criaturinha de 4 anos, tão pequeno, aprendendo a se acalmar e dialogar)
Nós: “pode falar, amor, a gente vai ajudar!”
Otto: “eu não gosto da minha sala!”
Nós: “explica mais, pra gente entender melhor, amor?”
Otto: “eu não gosto de nadaaaaaaa”
(Lágrimas, lágrimas, versão 2 com a mãe atrasada)
Eu: “amor, vamos fazer assim? Olha bem sua sala, pensa no que você não gosta e conta pra sua professora, pra mamãe e pro papai, e a gente vai tentar mudar tá? Um beijo, a mamãe precisa mesmo ir”
Fer fez sinal de “vai, que eu seguro aqui”, e eu fui. Sei lá como, andando por aí feito o Homem de Lata, com o coração em outro lugar. Não sei como a gente faz isso, mas faz, né.
Chego no trabalho e vejo mensagem do Fer “depois me liga que te conto do Otto. Spoiler: tá tudo bem!”
**
Minutos depois que eu saí, tomando café, tudo mais calmo:
Fer: “e aí, Otto, quer ir pra escola?”
Otto: “quero!”
Fer: “você gosta da escola?”
Otto: “gosto!”
E foi.
**
E aí que não sei se comemoro ou se chamo o disque-homem do saco.