fabricando

sobre a morte

September 4, 2017 · Leave a Comment

Otto é fã do Cocoricó, em especial das músicas. A gente ouve muito no carro, e temos os DVDs de todas as temporadas. Aí outro dia ele ouviu uma música chamada “adeus amigo querido”. Pela letra, entendemos que alguém morreu, mas não tínhamos visto o episódio. Ele pareceu meio curioso mas não sabíamos muito e não dava pra explicar. Fernando foi buscar no YouTube e descobriu que não tem esse episódio fácil de achar, encontrou uma versão em espanhol (?) e é sobre a morte do Mindinho, cachorro do Julio, que morre atropelado.

O menino ficou meio abalado pela música, e preferimos não dar muita corda. Aí hoje ele catou todos os DVDs e achou o tal episódio, sozinho, e colocou pra ver. Eu, mãe distraída, só percebi quando ele já tava no meio, e o Mindinho já tava morto e o veterinário dando a notícia. Todos choram, entra um fundo branco e começam a mostrar as boas lembranças com o Mindinho, tipo “olha como ele foi feliz”.

Pessoal, esse menino desandou a chorar, desolado, milhões de lágrimas. Nível soluçando, abraçado comigo, arrasado.

“O MINDINHOOOOOOOOOOO!!!!!”

Chorando de boca quadrada, sabe? Pois.

E eu sem saber o que fazer, seja porque lidar com a ideia da morte é inconcebível pra mim (eu meio que finjo que ela não existe, e segue o barco), seja porque até ontem eu nem sabia quem era o Mindinho.

Mas a real é que o Mindinho é irrelevante — percebi que ele está elaborando a história da morte e a ideia de que se morre através do episódio, e por isso ele quis ver. Ele lembrou de quando a Nai fugiu (ele esqueceu a porta aberta) HÁ 8 MESES e eu disse que ela podia ser atropelada e morrer. Naquela ocasião ele não deu bola, mas agora entendeu o que significa, e tá sofrendo.

(Apesar de dizer que ODEIA CACHORRO, claro)

“APARECEU UMA TELA BRANCAAAAAAAA AHHHHHHHH!!!!”

A tela branca, as lembranças. Ele via a chorava, abraçado comigo. E eu meio querendo rir e meio querendo chorar também.

(As coisas acabam. Como a gente lida com isso sem religião, né? Nessa hora entendo todas as invenções sobre vida após a morte. É tão mais simples lidar!)

Somos pó de estrelas, e a ideia de voltar a ser é linda. Mas ainda assim, uma vida acaba pra outra fase começar, e esta vida aqui, com tudo que ela tem de bom e ruim, acaba. E fins são difíceis.

“Mas o Mindinho apareceu depois. Como pode, se ele morreu?!”

— “Amor, é OK você estar triste, é uma história triste. Mas lembra que eles são BONECOS né?”

“Mas EU GOSTAVA DO MINDINHOOOOOOOOOO”

E assim vamos, esperando o menino elaborar essa ideia de alguma forma, e abraçando bem forte pra ajudar nós todos a viver com a ideia da morte.

 

**

 

(no dia seguinte…)

 

Primeira frase do dia, logo após abrir os olhos

O: “mamãe, eu entendi o episódio ‘meu amigo querido’ — as pessoas podem fingir que o Mindinho não morreu ou fingir que tá tudo bem!”

7 anos, e ele já entendeu como lidar com a morte. Tirei o chapéu.

😮

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