[out-2014] Mas vale pra qualquer ano!
há uma questão que muito me interessa e exatamente por isso é importante enquanto educo o otto — evitar rótulos e julgamentos. caso vocês já tenham tentado, devem saber que é super difícil. bom, pelo menos pra mim é muito: observo as pessoas e um mar de adjetivos vêm à cabeça. feio, bonito, gordo, magro, chato, burro, simpático, emburrada. a menos que eu interrompa o tsunami, ele me domina. antes mesmo de conhecer melhor a pessoa, já julguei, condenei, amei e odiei. tudo com base na observação tacanha da pontinhinha de um enorme iceberg.
é inevitável, tão arraigado que está em mim, mas luto contra ativamente. e mais importante, procuro não repassar esse “método” para o otto. tenho certeza que não dá pra ser totalmente neutro, o mundo não é neutro. quando decidi ativamente parar com o julgamento e rótulos e não repassar isso pra ele, me dei conta do quanto. cada propaganda, episódio de desenho, filme, diálogo, imagem, história infantil tem uma carga imensa de julgamento, inúmeros rótulos. dificílimo filtrar, mas de alguma forma temos conseguido, vejam:
essa semana minha mãe, numa brincadeira, disse pro otto que a julia (prima dele) era “feia”. sabe quando a gente quer provocar a criança a reagir, numa brincadeira? ele adora a julia, e ela é linda. então, o “feia” obviamente era uma piada, pra ele responder que não, claro, defender a prima e achar graça do absurdo.
(brincadeira ou não, eu pedi que minha mãe não brincasse assim com ele. pra ela é só uma brincadeira, e eu como adulta entendo; mas não quero que ele aprenda que é engraçado dizer que alguém é feio. ela não entendeu na hora o motivo, provavelmente, espero que entenda depois de ler esse texto :))
ele não só não reagiu como não entendeu a brincadeira, e percebi o motivo: ele não sabe o que é ser FEIO. ele não tem ainda esse conceito do feio/bonito! acho que nunca dissemos pra ele que algo é FEIO (ou seja, esteticamente desagradável pra quem observa; o oposto de BONITO).
nós não falamos que o saci é MALVADO (eu filtro essa parte na história). dizemos que ele é bagunceiro (ou seja, quem faz bagunça, tira as coisas do lugar), usando as ações dele como referência, mas nunca questionando a essência dele (bom/mau). até porque, convenhamos, o saci não é completamente malvado! por que rotular, se ele às vezes é bom, e às vezes é mau? e não somos todos assim?
enfim, é um assunto tão interessante e tão complexo, penso nele com frequência. não sei se estou fazendo certo ou errado com o otto (será que é bom ele não saber o que é “feio”?), mas faço o que manda o meu coração. depois de aprender como rótulos machucam a gente, prefiro que ele aprenda a usar o mais tarde possível, e só quando realmente for necessário.