[fev-2016]
Eu coloquei foto sobre ser mãe, quando azamiga convocaram [a respeito de uma corrente de Facebook mostrando fotos dos filhos, e de como é bom ser mãe]. Porque, meu, ser mãe é louco: eu reclamo muito, puxo os cabelos, acho muitos momentos insuportáveis. Porque a gente é julgada o tempo todo, e a gente se julga também. A carga é pesada (física e emocional), e sempre tem alguém pra dizer que a gente tá fazendo errado, pouco, muito. Nunca tá bom. Aí achei legal olhar do lado positivo né? Me animei.
E levei um balde de água fria porque ouvi dizer que essa “campanha” era uma resistência à descriminalização do aborto! Fiquei chateadíssima, porque eu, mãe, sou 100% a favor da descriminalização do aborto. Quem faz aborto não é SÓ porque não quer ser mãe. Tem mãe que faz aborto. Tem não-mãe que faz aborto. Aborto não diz nada sobre seu caráter nem sobre seu desejo / capacidade de ser mãe. Não diz nada sobre o quanto você gosta ou desgosta da função, não diz nada sobre o quanto você é boa mãe.
Descriminalizar o aborto é questão de saúde pública e de direitos da mulher!
Mas voltando:
Inicialmente achei meio estranho algumas mulheres resistindo em compartilhar aspectos positivos de ser mãe. Mas percebi que achei estranho porque eu reclamo bastante 😀 e consigo me posicionar muito bem sobre tudo que me incomoda. Sou privilegiada, neste aspecto entre tantos outros, essa é a verdade, e não tinha me tocado disso.
Vendo a reação que teve o post da mãe que disse amar o filho e odiar a maternidade (I HEAR, YOU, SISTER), ficou claro que nossa sociedade é escrota com as mães que não atendem ao padrão propaganda de margarina e não têm lastro pra lidar com isso.
Eu lido com os mesmos dramas, mas tenho uma condição que me permite passar por eles e mandar um foda-se pra quem me encher o saco. O pai do meu filho é um parceiro, e não mais um fardo pra eu carregar. Minha família não me enche o saco (e se encherem eu tenho como mandar catar coquinho).
Dito isso tudo, não podia deixar de colocar esse texto pra complementar as lindas fotos com o Otto. Não existe nada mais incrível que amor de filho, pensando no aspecto puramente afetivo, é verdade. É lindo!
Mas a maternidade é foda, sim. E um mundo mais feminista vai ajudar muito a tornar essa experiência mais plena e mais leve.
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E tem a obrigação de ser mãe, pra completar.
Não tem. Ninguém precisa ser mãe. Ser mãe não torna ninguém melhor que ninguém. Não ser mãe é uma ótima opção (mais sustentável inclusive). E você pode ser mãe sem ter filhos, sabe? Pode sim. Tem gente que é mãe dos pais. Do amigo.
Ser mãe não é nada além de desempenhar (mais uma) função. Às vezes será feliz e às vezes não. E nem todos precisam desempenhar a função. O mundo não será melhor nem pior.
É totalmente legítimo e lindo não ser mãe. Chega de mais essa cobrança.