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Entries from November 2018

Nomeando sentimentos

November 27, 2018 · Leave a Comment

Nem acredito que vou dizer isso, mas depois de SEIS ANOS finalmente o Otto melhorou o comportamento em relação à escola e às tarefas de casa.

Não é que ele ama, não chega nem a gostar, mas aceita e faz as atividades, e até (quando se distrai da reclamação padrão) se diverte.

Ontem aceitou fazer a lição de boa, fez, e no meio havia uma questão sobre um depoimento: uma mulher de 64 anos contando que não sabia ler nem escrever, e nem contar direito, porque passou a infância cuidando dos irmãos. A pergunta era: “qual é o problema com essa situação?”

Ele respondeu na hora — ela nunca foi pra escola.

Aproveitei né? — “viu? Muito importante ir pra escola!”

O: — “mas eu aprendi isso aqui e não na escola!”

Eu: — “imagina, a escola te ensina muita coisa sim! Olha aqui, tou vendo seus desafios [sao as provas, vieram pra assinar, e ele foi muito bem em tudo], você se saiu muito bem, a mamãe tá muito orgulhosa de você!”

Ele então fez uma carinha triste e saiu correndo pro quintal, se escondeu. Eita. Fui lá, chamei, pedi pra voltar pra conversarmos.

Eu: — “por que você tá bravo, ou triste, com elogio da mamãe?”

O: — “acho que não tou triste nem bravo, é que eu tou com vontade de chorar e saí correndo.”

Eu: — (own!!!) “meu amor, isso que você tá sentindo se chama EMOÇÃO. Você tá emocionado, e tá tudo bem. Vem cá que te abraço e melhora.”

Abracei, abracei, e queria que durasse pra sempre. Quando é que a gente aprende a nomear as emoções? Eu ainda tou aprendendo, aos 46. <3

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Apanhado

November 17, 2018 · Leave a Comment

Tenho buscado reduzir meu tempo de redes sociais, e Facebook rodou, porque é de longe onde eu mais gastava tempo.

Tá sendo bom, mas ao mesmo tempo atrapalha escrever as coisinhas rápidas que colocava lá e depois trazia aqui.

Mas a gente se adapta, aos poucos vou escrevendo mais de novo aqui!

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Hora de dormir, Otto me abraça muito e diz: “eu te amo muito, mamãe! Eu amo vocês todos. Até mesmo o Papai.”

HAHHAHAHAHAHHAA eu ri, porque é ele, o pai, que tá lá todo santo dia e deita com o Otto pra dormir. E ele é tão inocente que fala isso pro pai, como se fosse assim um favor né? 🙂

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Otto tá com mania de cortar as unhas com os dentes. Ele não “come” a unha, ele só quer cortar ele mesmo, com os dentes. Diz que é divertido. A gente tá de toda forma tentando explicar que não é bom por causa dos germes todos das mãos sujas e também porque pode se machucar.

Eu: “tá vendo aqui? Você puxa a unha, a pelinha vem junto e vai puxar carne, vai te machucar.”

O: “carne?! Isso é modo de falar né?”

Eu: (penso: vai dar ruim) “não, nós temos carne, todos os animais têm carne. Esse fofinho aqui é nossa carne ao redor dos ossos.”

O: “igual à que a gente come? A gente come a carne dos bichos?”

Eu: “sim, isso mesmo.”

O: (horrorizado) “por que alguém faria isso?!”

Eu: “é uma tradição dos seres humanos caçar os bichos e comer a carne. Mas quem não quer comer carne não precisa. São vegetarianos.”

O: …

Já não come quase nada de carne, agora então…

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Accountability

November 9, 2018 · Leave a Comment

Otto ficou em casa com minha mãe pra gente ir pro ensaio do bloco. Combinamos dele tomar banho e fazer a rotina normal, só não precisava dormir.

Antes de chegarmos ela manda esse diálogo com ele:

Vó: Otto, vamos pra cama, jajá papai e mamãe chegam e vão ficar bravos com você.

Otto: …. não não não…..

Vó: chega amanhã eles não vão deixar ver desenho

Otto: eu não, vão brigar com você que não arrumou um jeito de me convencer!

Pode???

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Precisamos falar sobre a Turma da Mônica

November 3, 2018 · Leave a Comment

Me sinto até um pouco boba falando disso. É tanto massacre (ainda mais esse ano) sobre a gente ser exagerada — como mãe, mulher, feminista — que dá insegurança. Mas quanto mais leio os gibis e vejo os desenhos, mais estou certa que a Turma da Mônica tem problemas graves de repetição de padrões atrasados, e que deviam ser repensados e mudados.

Nem vou falar sobre o Cascão, único personagem de origem claramente negra da turma tradicional, ser sujo e fedido. Entendo que fica complicado mudar algo no personagem nessa altura da história, mas, PORRA.

O que me incomoda demais, até porque vejo os reflexos disso no Otto, é a relação de competição e briga constante entre meninos e meninas (que na prática, até agora nos 8 anos do Otto, eu não vi acontecer de forma natural) e a naturalização dos xingamentos.

A Magali é comilona; a Mônica é mandona, baixinha e gorducha. Os xingamentos são sempre dirigidos às meninas, e quando não são relacionados a características físicas (tipicamente é assim que ofendemos mulheres, afinal), os xingamentos também fazem parte do universo do que é malvisto em mulheres: comer e dominar.

É ridículo estar em 2018 e ainda ter que falar disso, explicar, porque tem muita gente que sequer compreende o teor da crítica.

Por que gorducha e baixinha são xingamentos? Eu fiz essa pergunta pro Otto, ele não soube responder. A resposta é complexa, e ele não vai conseguir mesmo elaborar, porque aqui nessa casa ninguém NUNCA fez comentários de julgamento sobre aparência física. Bullying é um problema grave entre crianças e jovens, e nós todos como educadores devíamos buscar eliminar essa prática, ensinar as crianças a serem mais inclusivas. Aí uma história em quadrinhos super famosa e com alcance enorme faz o contrário: inventa uma relação estúpida entre as crianças tal que os meninos estão constantemente contra as meninas, em especial a Mônica, SEM PARAR. A vida desses meninos é infernizar a vida dela.

Mas o pior pra mim é que eles sequer são colocados como vilões (o que seria uma forma de ensinar que o que fazem é errado); eles são AMIGOS dela. Inclusive na sequência da Mônica jovem eles são NAMORADOS.

Percebem o padrão? Meninas sendo ensinadas que os meninos as agridem porque gostam delas, meninos sendo ensinados que agressão é forma de expressar interesse. Tá na hora da gente educar melhor essas pessoas pro mundo também melhorar, sabe?

É um trabalho insano ficar aqui explicando pro Otto que xingar NÃO É legal, que amigos não xingam, que ninguém gosta de ser xingado. Explicar que ser gorducha não é motivo de vergonha (e reparem que o corpo da Mônica é IGUAL aos demais. Ela nem é gorducha, caramba, mas e se fosse?).

Tenho que ficar mostrando pra ele que existem outras formas de se relacionar que não sejam pela briga e disputa.

Que difícil, gente. Por que não dá pra fazer histórias sem tanto julgamento, xingamento, relações tortas?

Muda, Maurício de Souza! Presta atenção que já vivemos em outros tempos, e queremos coisas novas e melhores.

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