fabricando

Eis a questão

June 27, 2019 · Leave a Comment

Assisti 3 episódios da 2a temporada de “Handmaid’s Tale”, que tem flashbacks de antes da situação de escravidão das mulheres férteis.

Uns posts atrás eu publiquei sobre uma mãe respondendo a um texto de um pai que diz que quem não quer cuidar dos filhos não deve tê-los. Em tese, num mundo ideal, acho que é mesmo saudável considerar muito bem essa opção antes de decidir ter filhos, mas essa ideia tem 2 problemas:

1/ Não é possível explicar o trabalho que dá ter filhos pra quem não tem. Não dá pra emprestar os filhos dos amigos, porque você só vai sentir uma pequena parte da responsabilidade (manter a criatura viva), sem toda a parte de se preocupar com o futuro, e com a subsistência daquela criatura no momento atual. Não dá pra explicar objetivamente o peso que é. E sem saber o que é, dificulta tomar uma decisão.

2/ “Cuidar” é uma palavra tão complexa. Quem cuida melhor do filho: o que acolhe e ouve, e dá voz, ou o que obriga a fazer coisas que a criança não quer mas que são úteis no futuro?

Vou exemplificar: Otto não faz NENHUMA atividade extra curricular, pois ele gosta de ter tempo livre pra brincar, ler, desenhar, e nós decidimos respeitar isso. Quase todas as crianças da idade dele que conheço e têm nosso perfil econômico fazem várias atividades como esportes, música, outros idiomas, o que é certamente visto pelos pais como investimento no futuro da criança que saberá tocar violino, falar mandarim ou dançar balé.

Os pais que trabalham o dia todo pra pagar aulas de tudo que é coisa pros seus filhos não se importam com eles porque poderiam passar mais tempo com eles nas preferiram ganhar dinheiro pra investir na educação deles?

Ou será que nós, que não mandamos o Otto pra nenhuma atividade extra, somos relapsos e não nos importamos com o futuro do nosso filho?

Voltando à série, antes do apocalipse contra as mulheres, June é criticada por não ficar em casa com sua filha quando ela tem febre. “As crianças são importantes demais para você vir trabalhar enquanto sua filha está doente”. Imediatamente antes, de manhã, planejando o dia, ela e o pai da menina planejam deixar a menina na escola pra terem tempo pra si, a sós.

A resposta da sociedade, naquele momento, foi categórica: QUE PAIS SÃO ESSES? Como assim, mãe trabalhando e a filha com febre? Como assim, pais que querem tempo sem a criança?

Me preocupa muito esse julgamento sobre a forma de educar os filhos (dos outros, sempre) e o quanto os pais “se importam”. Não é possível medir o quanto alguém se importa com qualquer coisa. O que podemos é observar ações e, segundo NOSSOS parâmetros, julgar.

A geração dos meus pais e os pais do Fer “se importavam” muito menos com os filhos, segundo padrões de hoje. Éramos muito mais soltos, muito mais independentes. Isso significa que de fato eles se importavam menos? Eu acho que não. Acho muito improvável que existam muitos pais que se importem pouco com seus filhos. Sendo mãe, só acredito vendo, e observando MUITO de perto. Ações pontuais que pareçam indiferença ou descaso podem ser muitas outras coisas — cansaço, saco cheio, depressão, stress, medo, enfim.

Mas, na dúvida: não tenha filhos. O mundo realmente não precisa de mais gente.

Por outro lado, sem dúvida: recomendo não julgar quem tem filhos e está batalhando pra criá-los. Caso ache que é que caso de abuso com as crianças, denuncie, conselho tutelar tá aí pra isso.

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