Já pensaram em todas as últimas vezes da vida? A última vez que você se apaixonou; a última vez que foi à escola; a última vez que viu um amigo; a última vez que falou com sua mãe, a última vez que abraçou sua avó.
A gente não sabe que é a última vez, não dá nem pra aproveitar esse momento final. Será que teríamos feito algo diferente se soubéssemos?
Quando nos tornamos pais é ainda mais frequente essa mistura de surpresa e saudade. O último sorriso banguela, o último gugu-dadá, e o engatinhar que não volta mais. Quando foi que ele começou a não falar nada errado, parou de confundir as palavras? A última fralda, a última vez que demos comida na boca, o último pedaço de mamão, que agora ele detesta.
A última vez que peguei ele no colo, aquele abraço das pernas na cintura, as mãos gordinhas enroscadas no meu pescoço — quando foi?
Me lembro da última vez que ele mamou, foi antes de uma viagem de trabalho. Consegui me despedir, porque sabia que já estava no fim, ele não queria mais. Preferia mordiscar bife, o dinossaurinho.
Ansiamos tanto pelas primeiras vezes, e esquecemos de aproveitar as últimas, ou quase últimas.
Hoje o Fernando chamou o menino pra almoçar, e quando ele veio descendo a escada, ofereceu — “quer vir de cavalinho? Te carrego!”. E o menino bem tranquilo disse — “não precisa, eu já sou crescidinho.”
Sabemos que é bom sinal, e é assim que deve ser, mas o coração quebra um pouco, sim. Ficamos ambos com uma mistura de orgulho e saudade.
— “Você já fez xixi hoje, Otto?”
— “já, mas vou fazer de novo antes de almoçar.”
Ele fecha a porta, levanta a tampa da privada (dá pra ouvir) — bem crescido, de fato.
E enquanto faz xixi, canta a música do Baby Shark! 🤣
Nem tão crescido assim, afinal, ainda bem.
❤️