
Toda semana aqui com Otto tem alguma coisa acontecendo, nossa vida é uma DR constante explicando pra ele como se comportar adequadamente com outros seres humanos 🙂
Fer e eu somos de uma década em que crianças e adolescentes se criavam sozinhos feito Mogli só que com outras crianças e adolescentes — o grupo educava, pro bem e pro mal. Os pais estavam ali pra manter a gente vivo (quando estavam olhando!). Na geração do Otto os pais tão ali pra tudo, o tempo todo, e eu acho muito melhor assim. Só sinto falta da educação familiar ser mais expandida — os núcleos familiares isolados acabam sobrecarregando os pais e dando à criança pouca diversidade na socialização.
Voltando: muito treinamento social aqui. Quando ele era criança, a dificuldade maior era entender que o comportamento não estava ok e como o outro se sentia por causa disso. Pra ele perceber que, por exemplo, estava sendo rude, era um processo; e pra perceber que outra pessoa estava chateada (e o porquê), também. Cada vez que precisávamos explicar, ele sofria, como se fosse uma ofensa estarmos corrigindo.
(é tranquila a vida dos pais atentos, sabe?)
Agora mudou: ele entende com mais facilidade como os outros se sentem (às vezes sem a gente explicar… mas ainda precisamos explicar) e entende muito rápido (muitas vezes sem precisar explicar muito) que ele pisou na bola. e está também muito mais engraçado, como no exemplo desta semana…
Fer sempre ajuda a organizar a lição de casa (que ele odeia) e os estudos pra prova (que ele odeia também). Pois ele, puto da vida, disse pro pai que ele não ajudava em NADA. Nós adultos então decretamos que se o pai não ajuda em nada, que ele então faria tudo sozinho, sem supervisão, mas que se não fizesse haveria consequências.
Em 30seg ele mudou de ideia e subitamente decidiu que precisava de ajuda sim.
Eu: “Mas como pode o papai não ajudar em NADA e você querer a ajuda dele?!”
O: “I WAS WRONG, OK?!”
(imagine os pais aqui tentando conter o riso)
Eu: “ah, parabéns por admitir isso! É um grande passo. Agora falta você se desculpar com o papai.”
O: “I can’t do that. My ego is too big.”
(nesta hora, rimos muito)
Eu: “Que bom que você sabe! Mas se desculpar não é sobre você, é sobre o outro. O melhor jeito de treinar pedir desculpa é aqui, num ambiente seguro com pessoas que te amam. Vamos lá.”
O: “… I was wrong, I AM SORRYYYY. ARGH!”
SaÃram pro quarto e fecharam a porta, ele e o ego 😀
Fez a lição direitinho, com ajuda do pai. Foi uma boa semana… até chegar hoje e ligarem da escola no meio dia pro Fer ir buscar o menino que é maior que eu mas tava chorando porque fez um corte de papel no dedo.
Um dia de cada vez!