
Chegou um dos momentos que a gente mais temia desde antes do Otto nascer, e pra quem ta aqui faz tempo vai lembrar que eu trouxe a discussão num post e várias pessoas amadas deram opinião (aprecio demais; algumas opiniões nos fizeram mudar de ideia inclusive sobre como lidar com a questão):
Criar a fantasia do Papai Noel, Fada do Dente, Coelho da Páscoa, ou desde pequeno dizer que é lenda?
Fernando e eu a princípio éramos contra mentir e inventar as histórias todas pra criança acreditar. Mas depois de ler, ouvir pessoas que trabalham com histórias para crianças, pensar bastante, decidimos que é bonito, divertido e importante alimentar as fantasias de magia da criança. É uma fase muito única da vida, em que acreditamos em seres mágicos sem desconfianças, sem medo (ok, talvez com um pouco de medo :)) e vivemos com um pé na realidade e outro na fantasia.
A criança terá a vida toda pra se confrontar com o inexplicável, duvidar e descobrir a realidade, quando seu cérebro estiver pronto pra encontrar razão em tudo. Decidimos entrar na fantasia e deixá-lo sonhar com o impossível.
Há umas semanas, pouco a pouco, temos notado diferenças no Otto, ele está… menos criança. Na fala, na escolha das frases, nas pequenas responsabilidades que ele sozinho assume, na maturidade que demonstra e antes não tinha. No cheiro das roupas (mudou. Ele agora tem cheiro de gente e não mais cheiro de criança), no corpo. Comentei com o Fer — “até quando ele vai acreditar em Papai Noel? Daqui a pouco alguém vai contar pra ele. Vamos ter que admitir que mentimos, vai ser foda.”
E foi.
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Fui tirar ele do banho (sempre é nessa hora do dia que as conversas mais profundas acontecem):
O: ”mamãe, eu preciso falar sobre duas coisas com você!”
Eu, não sabia o que era, mas senti o peso: “pode falar!”
O: “eu tenho uma pergunta. Estou pensando sobre o Papai Noel e a Fada do Dente… eles são de verdade ou você e o papai que compram os presentes e pegam meus dentes?”
Eu: “vamos falar mais sobre isso, mas antes me conta de onde veio essa dúvida?”
O: “eu tenho uma teoria. Eu acho que vocês é que compram os presentes, porque tem ano que tem mais presentes, tem ano que tem menos… é porque vocês têm menos dinheiro, eu acho. A fada do dente eu não tenho NENHJMA EVIDÊNCIA mas eu acho que também não existe!”
🥺
(Tem lógica, porém hahahhahaha!)
Chamei o Fer, porque afinal é um momento pra conversar como família. Já tínhamos combinado que não íamos mentir quando ele perguntasse.
Nós: ”Otto, o Papai Noel e Fada do Dente são lendas, como o Curupira, o Saci. São histórias que a gente conta pras crianças pequenas, porque elas são bonitas e divertidas, mas são realmente lendas. Quem compra os presentes e pega os dentes somos nós.
Cada país e cultura tem lendas diferentes. Aqui por exemplo tem o Elf on the Shelf, que não temos no Brasil. E quando as crianças são pequenas, fazemos de conta que é verdade pra ser divertido. Quando as crianças crescem elas percebem que não é verdade, como você percebeu. Mas a gente continua fazendo a brincadeira até quando adulto, porque é gostoso. Sua vó Vera por exemplo coloca presente na árvore até hoje que a mamãe é adulta!”
— “você tá bem, Otto? O que você tá sentindo?”
O: (vozinha de choro) ”Eu tou muito desapontado porque são lendas.”
BUÁ EU QUASE CHOREI. Abracei né.
O: ”mas mãe, pra onde vão meus dentes?”
Eu: ”tenho todos guardados.”
O: ”COMO ASSIM?!”
🤣🤣🤣
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Meu coração ficou tão pequeno. Espero que de alguma forma eu consiga manter nele a magia de acreditar, nem que seja de passagem, em lendas. Que nao seja só sobre os presentes ou o dinheirinho do dente, que seja sobre o fantástico e inexplicável, por mais doido que possa parecer.
Nosso menino cresceu. Eu não estava preparada.
Como é bonita a vida, e o quanto eu sou grata por viver essa experiência. Fabricar humanos é muito louco.