eu detestava criança que grita, faz manha, é agressiva, carente, interrompe as pessoas, etc. etc. e etc. virei mãe e… continuo detestando isso tudo.
se você não tem filhos e reclama de chatices de criança, rola sempre um papo-meio-maldição tipo “você vai ver quando tiver filhos…”. essa maldiçãozinha tem 2 premissas embutidas, uma é verdadeira e a outra é falsa:
[V] crianças são chatas mesmo, e você vai se ferrar quando elas forem suas, porque você é obrigado a aguentar
[F] o que podemos fazer, né? afinal criança é assim mesmo…
criança é chata sim, vamos admitir logo e passamos dessa fase. elas se consideram o centro do universo, frequentemente não sabem expressar bem o que querem, gostam de chamar a atenção de todos ao redor (e ficam irritadas quando não conseguem), querem tudo do seu jeito, têm energia sobrando. qualquer um sairia correndo de perto de alguém com essas características, certo? 😀
mas crianças são crianças, e todos sabemos de antemão que são assim. o papel dos educadores (e pessoas que amam essa criança em especial) ao redor dela é ensinar a conviver com o mundo e com as pessoas seguindo regras mínimas de convivência. orientar a criança (duzentas mil vezes, saibam) é papel dos pais (e com sorte, outros membros da família que sejam generosos para contribuir). com amor, carinho, paciência e muita, muita insistência.
(e pizza, em último caso 😀 mas essa piada é politicamente incorreta, espero que você conheça, pois não vou contar)
o que me leva à parte falsa da premissa: é lógico que tem o que fazer! os pais devem — DEVEM, da lista de deveres — direcionar seus filhos. mil vezes, 10 mil vezes se for preciso. é preciso dizer não, e manter-se firme na negação do que não é aceitável. é preciso impedir que a criança seja desrespeitosa ou agressiva com outros. é essencial ensinar paciência, respeito pelo espaço e tempo do outro. por mais chato, cansativo e irritante que seja. isso é ser um bom pai/mãe: ensinar seu filho a ser um cidadão, ensinar que há outras pessoas no mundo além dele, e que ele precisa aprender a respeitar para ganhar respeito.
(supondo que os pais saibam disso, porque de verdade não é incomum encontrar adultos que ignoram as regras mais simples de convivência e cidadania)
porque eu gosto de contribuir para um mundo melhor, seguem algumas dicas pra ajudar a perceber se está sendo um pai/mãe relapso na educação do seu filho (e contribuindo com mais um sem-noçãozinho no mundo):
– diz coisas do tipo “ah, sabe o que é? é que ele muito energético!” quando na verdade seu filho é um tosco e precisa ser ensinado a tratar as outras pessoas e crianças com respeito;
– não repreende seu filho imediatamente quando ele é agressivo fisicamente. com qualquer pessoa, inclusive você mesmo;
– finge que não escutou quando seu filho grita. ninguém gosta de gritos, gritos não são bem aceitos em nenhum ambiente social, por que devemos deixar crianças gritando como se fosse normal?
– deixa seu filho tomar coisas que não são dele sem pedir. (acredite, eu tenho um bebê de 1 ano e 4 meses: eu sei que eles querem TUDO e consideram o mundo inteiro deles. é nosso papel ensinar pra eles que as coisas não são assim)
– não diz não pro seu filho, “pra não traumatizar”, ou “adicione aqui qualquer razão estúpida”. o não é importante e necessário. se você se preocupa em dizer nãos demais, diga sims pra balancear, não tenha preguiça e reforce o comportamento positivo também ao invés de dar desculpas bestas pra não dizer não;
– deixa a culpa (por trabalhar, por exemplo; por passar menos tempo do que acha que devia com seu filho, etc.) direcionar o quanto você educa o seu filho. lide com sua culpa na terapia, não deixe que ela reflita na (falta de) educação do seu filho. ele precisa de limites, de nãos e de orientação, a sua culpa não é problema dele;
– não brinca com seu filho quando está com ele. se você tem tempo pra estar com seu filho, BRINQUE COM ELE. as crianças aprendem através das brincadeiras, e você terá várias oportunidades de se divertir E orientar seu filho nas brincadeiras;
– não escuta o que ele diz quando está falando com ele. e, ao mesmo tempo, interrompe tudo que está fazendo quando ele quer falar com você. é importante ouvi-los quando você está falando com eles, mas é também importante que, aos poucos, entendam que as pessoas não devem parar tudo o que estão fazendo por que eles querem! pense que esse aprendizado vai ajudá-los a serem pessoas mais tolerantes, e menos malas-sem-alça;
– perde a paciência com seu filho ou cede (desiste de orientar) porque ele é teimoso, chato ou insistente (ou seja… uma criança!). ele precisa da sua paciência, dedicação e orientação. é chato, mas é nosso papel. e se os pais perdem a paciência ou desistem, quem vai educar, gente?
e com isso tudo não quero dizer que é fácil ou (sejamos francos) divertido. a parte mais difícil de educar uma criança é ser firme, consistente e se comprometer em ensinar. porque ser ausente ou fingir que não percebeu é moleza. difícil é continuar explicando a mesma coisa depois de 20 mil repetições, quando você está cansado e quer ver TV ou ficar na internet.
ou seja: crianças são e sempre serão chatas mesmo. a tarefa de educá-las é cansativa e lenta, demora ANOS. exatamente por isso essa tarefa é responsabilidade dos PAIS, que as amam acima de tudo. só mesmo com muito amor é que a gente encontra em si paciência e motivação pra insisir quando qualquer outro teria desistido. porque (em tese, porque tem pais que realmente não estão nem aí) no futuro todo o investimento na educação, em ser uma boa pessoa vai ajudar seu filho a ser feliz e bem sucedido no caminho que escolher.
continuo achando crianças chatas (as dos outros mais que o meu, por definição). o que mudou depois de ter meu filho é que agora já não me incomodo tanto com a chatice da criança, mas principalmente com a falta de ação dos pais em relação a elas. fico muito irritada quando vejo uma criança gritando na orelha alheia e os pais nem aí. quero morrer quando vejo uma criança agressiva arrancando brinquedos das mãos dos outros e os pais, ao lado, sem dizer nada.
amar = educar. e não há educação sem correção de rota, orientação, insistência.
18 responses so far ↓
Kelly // January 20, 2012 at 10:36 am |
Mais um post seu com o qual me identifico 100%. Eu nunca fui um bicho muito maternal e tinha até medo do tipo de mãe que eu ia ser. Mas no fim, acho que o fato de não ter uma visão fru-fru a respeito dos filhos até me ajudou. Acho que ser mãe é a arte de dizer o óbvio milhares de vezes, de dizer não sempre que necessário e de preparar para o mundo. Não dá pra ter medo de ser chata.
zel // January 20, 2012 at 10:48 am |
eu acho que ser mãe/pai é ser chato. faz parte do nosso papel, senão vai pro mundo mais um sem noção que não respeita os outros. tem jeito não 😀
Lu Terceiro // January 20, 2012 at 4:32 pm |
Concordo totalmente, Zel. Depois de virar mãe descobri que é bem mais fácil ignorar a mal-criação do que educar. Educar cansa e dá trabalho. Por isso tem essa penca de criança mal-educada por ai. Beijos!
Guga // January 23, 2012 at 12:00 am |
Brilhou!
Que tal um post sobre a lei da palmada? Ou eu perdi??
Bjs e ótima semana.
zel // January 23, 2012 at 9:28 am |
não escrevi, mas posso escrever. vou resumir: sou contra bater em crianças, por vários motivos, mas o principal deles é que acho covardia (afinal somos bem maiores que eles né). mas tem outros motivos: não adianta; não passa uma mensagem legal para a criança (mais forte dominando mais fraco, violência é um recurso aceitável, etc.).
e acho também que é importante combater maus tratos a crianças de forma geral (e fazer valer né), pois muitas vezes os pais não batem mas cometem abusos verbais tão horríveis que seria melhor bater 🙁
Anna // January 23, 2012 at 9:28 am |
É o que digo para minha irmãs a respeito do queridíssimo sobrinho delas: o meu papel é o de ser chata, e tudo bem por mim. Afinal, o bebê não veio por acidente, eu não tenho 15 anos e odeio criança mimada. Ou seja… Paciência!, antes chata com ele do que ele chateando os outros!
Giza // January 24, 2012 at 4:36 pm |
genial ! Concordo plenamente e tento ( me esforço bem!) fazer com que meu filho seja um chato educado ! 😉
zel // January 26, 2012 at 9:21 am |
hahahahhahaha chato-educado é ótimo!
Mariane (Brasília) // January 25, 2012 at 9:57 pm |
Também me identifiquei muito, mais uma vez.
O mantra do meu sábio pai é “Dizer SIM sempre que possível, dizer NÃO sempre que necessário”. Eu só desejo ter sabedoria para identificar o possível e o necessário.
zel // January 26, 2012 at 9:20 am |
amém, mariane 🙂 muito sábio mesmo seu pai.
Joo // January 30, 2012 at 9:49 am |
Puxa, Zel… passei por uma estes dias… sexta a Nina fez a primeira viagem de avião. Eu sou toda viajante, sabe, se tenho uns diazinhos de folga já começo a planejar e, aliás, gosto de ficar planejando viagens imaginárias também (é, sou louca). Fomos pra Floripa na sexta, voltamos domingo. E foram 50 minutos de voo que pareceram eternos. Ela chorou bastante por causa da pressão no ouvido, com alguns intervalos entre os choros – nestes, lá estávamos nós, dando chupeta, mamadeira, brinquedo, cantando baixinho, colocando-a pra olhar a janela, enfim, tentando minimizar a coisa toda. Você a viu, ela vai fazer 5 meses e obviamente não sabe como fazer pra diminuir a sensação ruim no ouvido. Então, qual foi minha decisão? Até os dois anos, o máximo de avião que ela vai pegar são esses voos de uma horinha pra visitar os parentes em Floripa. Eu tinha aqueles sonhos de colocar o nenê na mochilinha e sair pelo mundo, mas eles vão demorar um pouco pra acontecer. Ninguém merece pegar voo longo (aliás, voo nenhum) com uma criança chorando sem parar, por menos que a culpa seja dela e dos pais. Quem vira pai e mãe tem que saber que há coisas que estão incluídas no pacote, e que abrir mão de certos luxos por um certo tempo é uma delas.
Ah, e gostei muito da Ilha Dodô (já estou fuçando o site para fazer comprinhas no próximo mês!) e de te conhecer. Beijos.
zel // January 30, 2012 at 10:01 am |
joo, o prazer foi todo meu, querida! muito obrigada pela visita viu?
olha, eu acho que tem coisas que a gente tem que abrir mão mesmo, pelo bem geral da nação. hahahahaha! eu deixei de sair muitas vezes com o otto pequeno (menor) porque ele era MUITO CHATO, e chorava demais quando as coisas eram diferentes do que ele esperava. tem quem diga que a gente tem que deixar chorar mesmo, que a criança precisa acostumar, mas eu não gosto de submeter ninguém ao chilique do meu filho. ninguém tem obrigação de aguentar criança chorando (só os pais). e eu ODEIO criança chorando, então faço o que posso pra evitar.
já viajamos com o otto, e foi melhor do que eu esperava, mas olha… CANSA. era mais fácil antes mesmo…
um beijão.
Mariangela // January 30, 2012 at 12:25 pm |
Ótimo texto Zel, o pior é que ele se enquadra em muitos aspectos em filhos adolescentes também, o que significa que temos que aturar nossos filhos pentelhos por uma eternidade hahahahaha.
O bom é que sentimos tanto amor pelas criaturas que enfrentamos a parada com muita boa vontade.
Como já diz meu pai, “filho é igual peido,voce só aguenta o seu” .
Que horror!!! Hahahahaha
zel // January 30, 2012 at 1:51 pm |
hahahahahahha sábios ditados…
Mi // February 2, 2012 at 10:01 am |
Ola! Encontrei seu blog pela Catia..na verdade, sua loja que é linda e vim parar aqui. Esse texto falou tudo o que tenho no coração. As pessoas sempre me perguntavam se gostava de crianças. Respondia que não. Me perguntavam se queria ter filhos. E respondia sim! =D E continuo com as minhas respostas até hoje, depois de ter a minha pequena. Mas nunca consegui explicar pros outros o porque desse paradoxo. Acho que vc respondeu 100% 😉 Beijos!
zel // February 2, 2012 at 10:14 am |
obrigada e seja muito bem-vinda querida 🙂
Adriana // February 13, 2012 at 2:30 pm |
Nossa nossos pensamentos agora bateram hein e muito…! e na parte de dizer não vc está correta, as cçs precisam saber lidar com as frustrações, e temos que cria-los para o mundo e não para nós….to lendo um livro super interessante que ajuda muito…..
“As Crianças Aprendem o que Vivenciam” Dorothy Law (http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/2660128)
Ivanise eu procuro ler bastante p entender e tbm ver no que to errando, pq as vezes agente ve erros nos pais diante da educação dos filhos e p tirar dúvidas se realmente eu to certa eu leio muito, os pais pensam que quem tem o dever de educar é a escola e não eles , e vj muito isso p ai, é fácil culpar a escola né, e o professor, mas e pai e mãe, nesse história, penso como vc e se todas as mãe fossem assim o mundo seria melhor pq eu quero preparar meus filhos e dizer “não” é super importante na educação e ponhe limites e a criança precisa de limites, aliás elas pedem limites, principalmente qdo pedem permissão p fazer algo 🙂
Vamos a luta 😀
E sempre ….. um gde beijo 🙂
Dri
zel // February 14, 2012 at 8:37 am |
verdade. dizer não é difícil mas é mesmo MUITO importante. vamos seguindo, sendo as mães-chatas, hahahaa.
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