otto,
eu ouvi seu coração. esse, ao qual você se refere quando quer (ou não) que brinque de estetoscópio (que você aliás fala tão lindo, tão per-fei-ta-men-te), o órgão, sem metáfora. e foi uma emoção tão intensa encostar minha orelha no seu peito e ouvir um coração de passarinho, pequeno, batendo tum-tum-tum. um coração que já ouvi enquanto você era nada mais que um piolho dentro da minha barriga, e depois nunca mais.
foi a primeira vez que ouvi seu coração fora do meu corpo. um coração, agora, só seu.
e doeu, doeu tanto, porque ouvir um coração batendo me remete de forma crua à realidade de que todos os corações um dia não mais baterão. como um choque, pensei na finitude da nossa existência, e percebi que eu mesma deixar de existir só é importante na medida em que isso afetar você. mas que sua existência e permanência nesse mundo enquanto eu estiver aqui significa absolutamente tudo, é a coisa mais importante que já houve.
o mundo deixa de existir sem você. é claro que isso não é verdade, isso sim é uma metáfora, mas pra mim o mundo só faz sentido com seu coração nele, batendo feito passarinho, e seu corpinho tão macio, sua voz que mais parece música, sua risada e seus pensamentozinhos.
o mundo é você, pra mim, desde que você veio a ele.
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você agora é um mocinho, apesar da recusa em usar as instalações sanitárias como os demais seres crescidos. suponho que seja pra compensar o quanto você é articulado, e um tanto adulto pra sua tenra idade. decidimos desencanar e limpar a bagunça eventual, sem insistir demais. afinal, não conhecemos nenhum ser adulto e normal que não usa o banheiro conforme esperado. (ok, alguns ainda não aprenderam a usar a descarga e nem acertam o vaso, mas são detalhes)
sua adolescência infantil tem nos irritado um pouco, de vez em quando. você ainda é das crianças mais calmas e educadas da horda, onde quer que estejamos, mas ainda assim seus rompantes eventuais de “não quero”, jogar coisas, chutar/empurrar e dar gritinhos nos assustam. suponho que nossa expectativa era criar uma criança que fosse adulta (e a verdade é que estamos aliviados que você é um pouco moleque, sabemos que é saudável que você seja assim… criança). às vezes acho que nós, seus pais, é que somos excessivamente chatos e nunca tivemos paciência para crianças pequenas. ainda assim, gostamos muito de brincar com você e encontramos coisas legais pra fazermos juntos. isso, combinado à escola e à maria, garantem que você possa ser 100% criança e brincar muito e sempre.
continuamos felizes com nossa escolha da sua escola — você anda um pouco resistente pra ficar, ainda não sabemos porque, mas sua professora diz que você está ótimo e se comporta muito adequadamente pra sua idade 🙂 come bem, brinca, faz traquinagens. só falta o xixi e o cocô pra ficar tudo bem mais fácil agora.
você tem gostado cada vez mais de histórias (livros ou filmes), e agora já gosta de alguns filmes novos: detona ralph, como treinar seu dragão, ratattuille e gromit & wallace (em especial a close shave, que você chama de “aquele da VACA”. não consegui convencer você que é uma ovelha…). seus livros preferidos são ainda do morris lessmore, os caminhões, a coruja e agora também o do cocô, genial!
este mês viajamos para o rio, e visitamos vários amigos queridos. você se divertiu muito, e voltou falando da dora e da claudia sem parar 🙂
você é, cada dia mais, nosso companheiro de aventuras e motivo de muita diversão. e quero aproveitar pra contar uma coisa — se um dia você estiver lendo isso aqui e achar que ter filhos é trabalho demais e que não compensa, vou te contar um segredo: compensa. por mais que o trabalho seja enorme (e é) e a vida mude para sempre (às vezes pra pior, não vou mentir) a experiência é incrível. recomendo demais que você também passe por essa aventura louca e maravilhosa que é criar um ser humano.
tenho certeza que somos, eu e seu pai, pessoas melhores depois que você nasceu e se juntou a nós. e ainda virá tanto! mal podemos esperar.
um beijo com amor da sua mamãe.
PS: as fotos e vídeos dos seus 2 anos e 10 meses estão aqui.
9 responses so far ↓
Mari Oliveira // July 8, 2013 at 11:09 pm |
Eu MORRI com a primeira parte deste post, deixa eu copiar pra minha filha? (fonte citada, sempre, sempre!)
Bjs!
zel // July 10, 2013 at 9:56 am |
claro, imagina… que honra 🙂
Leticia // July 11, 2013 at 5:52 pm |
Oi Zel,
Leio teu blog, este e o outro a muitos e muitos anos, admiro muito a tua forma de se expressar por aqui, por isso indiquei um post teu em um outro blog onde estava rolando uma discução sobre ter filhos ou não e a autora linkou teu post lá.
Espia:
http://wp.clicrbs.com.br/porai/2013/07/10/pelo-direito-de-nao-ter-filhos/
Bjs
zel // July 16, 2013 at 3:11 pm |
passada com a quantidade de comentários no post dela sobre o assunto! que legal 🙂 obrigada.
Ana Paula // July 16, 2013 at 12:09 pm |
Lindos os seus posts, sempre!
Segue um link que talvez ajude você a desfraldá-lo.
http://revistapaisefilhos.uol.com.br/nossa-crianca/treininho-para-o-penico
Um carinhoso abraço para você e pro fofíssimo do Otto.
Ana Paula // July 16, 2013 at 12:11 pm |
Lindo o seu post, sempre!
Aproveito e deixo um link que talvez ajude em alguma coisa no processo de desfralde:
http://revistapaisefilhos.uol.com.br/nossa-crianca/treininho-para-o-penico
Um carinhoso abraço para você e para o fofíssimo do Otto.
zel // July 16, 2013 at 3:17 pm |
obrigada, querida! vou conferir, tamos precisados.
Jacqueline // July 17, 2013 at 4:16 am |
Zel, querida
Gosto tanto do seu blog que não me agüentei, escrevi sobre ele no meu face.
https://www.facebook.com/jndeassis?ref=tn_tnmn
zel // July 23, 2013 at 3:05 pm |
que honra, nossa <3 🙂
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